quinta-feira, 27 de junho de 2013

sobre partos e escolhas

Hoje vi uma foto que "completou o copo" para que eu resolvesse escrever sobre isso.
Era a foto de um bebê nascido por cesariana. Vi no semblante dos pais a alegria por aquele momento. 
Mas a foto em si me entristeceu. Fiquei confusa e me sentindo mal. Eu deveria estar feliz pelo nascimento!
Talvez tenha ficado triste por lembrar do sentimento que tive quando depois de míseras 10 horas de trabalho de parto, o médico que me atendia me mandou para cirurgia. Chorei por dentro, fiquei nervosa, me senti desamparada, violentada, no que deveria ser o momento mais lindo da minha vida.
Mas esse não era o caso da foto, pois a cesárea em questão havia sido agendada.

Sei que corro o risco de ser mal intrepretada aqui, mas espero que minhas palavras não me traiam e que eu consiga dizer o que preciso

Acredito que toda mulher tem medo do parto. Óbvio que não poderia ser diferente. O parto é um rito de passagem, dos mais marcantes na vida de uma mulher, e ritos de passagem trazem esse sentimento, misto de medo, anseio, coragem, fé.
Nas palavras de Robbie Davis Floyd:

"Um ritual é a representação padronizada, repetitiva e simbólica de uma crença ou valor cultural; seu objetivo principal é alinhar o sistema de crenças do indivíduo com o da sociedade. Um rito de passagem é uma série de rituais que mobiliza os indivíduos de um estado ou status social para outro, como, por exemplo, da juventude para a fase adulta, ou do desconhecido para o mundo da cultura. Os ritos de passagem transformam tanto a percepção que a sociedade tem dos seus indivíduos como a que os indivíduos têm a respeito de si mesmos."
E como este rito de passagem pode ter algum significado na vida de uma mulher?
Ainda citando a mesma autora:
"O ritual é, acima de tudo, simbólico. Ë através de mensagens em forma de símbolos que o ritual opera para aqueles que o executam e para os que o observam. Um símbolo é um objeto, uma idéia ou ação que é carregada de significado cultural. O hemisfério esquerdo do cérebro humano decodifica e analisa as mensagens verbais, possibilitando ao receptador aceitar ou rejeitar seu conteúdo. Por outro lado, os símbolos ritualísticos complexos são percebidos pelo hemisfério direito do cérebro, onde são interpretados holisticamente. Em vez de ser analisada intelectualmente, a mensagem do símbolo será sentida através do corpo e das emoções. Assim é que, apesar de que os receptadores possam não perceber a incorporação da mensagem simbólica, seu efeito definitivo pode ser extremamente poderoso."
E como lidamos com esse poder dos símbolos e dos rituais sobre a mulher, o parto e o nascimento?
Temos consciência da complexidade que envolve este momento, este rito, essa transformação?
O que é preciso para tomarmos decisões conscientes a respeito do parto?
É aqui que quero chegar...
Antes de mais nada, a mulher e mãe precisa se sentir segura e saber que seu filho também estará em segurança.
Então, nós mulheres e mães, delegamos esse poder a outra pessoa.
Adivinhem quem?
Aos médicos, pois eles estudaram muito e sabem o que é melhor para nós, claro!
Mas que antes de tudo são humanos, pessoas comuns, que apesar de terem jurado fazer o melhor pelos seus pacientes, nem sempre é isso que acontece.

Quantas mulheres você conhece que optaram por uma cesárea por indicação médica?
E digo optaram, porque é realmente uma opção da mulher. Ela assume a responsabilidade por essa escolha, respaldada pela "indicação" médica.
Mas será que esse médico(a), realmente passou TODAS as informações para essa mulher? Pensem um pouquinho...

Porém, e essa deveria ser a primeira pergunta, pergunte a essa mulher que tipo de parto ela deseja.
Normal ou cesárea?
De acordo com uma pesquisa divulgada por este blog, a maioria das mulheres preferiria ter um parto normal, e apenas 15,6% escolheriam a cesariana.
Então por que isso não acontece aqui no Brasil, o país da cesárea (na rede particular o índice chega a quase 100% de cirurgias para que um bebê venha ao mundo)?

Eu arrisco duas hipóteses:
1) Os médicos não fazem seu trabalho como deveriam. Preferem agendar cirugias, garantir uma boa grana, e continuar o dia no consultório tranquilamente.
2) Nós mulheres estamos acomodadas, acreditamos em tudo que o médico diz e não procuramos mais informações sobre as nossas escolhas.

Mas isso é a minha opinião, e não estou aqui para criticar os médicos, ou o sistema (ainda mais complexo).
Quero apenas mostrar que nós somos as responsáveis por nossas escolhas.

Você quer um parto normal?
Procurando da forma mais simples no google, olha o site que vai aparecer: http://www.euqueropartonormal.com.br
Lá tem várias informações para você tirar todas as suas dúvidas. Simples, básico, não dá trabalho nenhum.

O problema é assumir a escolha e enfrentar o desconhecido, ser do contra, nadar sozinha contra a correnteza!

Eu já disse várias vezes e em várias situações que muitas vezes a ignorância é uma benção. Esses dias eu li no "Cientista que virou mãe" uma coisa com que me identifiquei. Nas palavras dela:
"Acontece comigo uma coisa que não sei se acontece com você: eu não consigo ler um livro ou assistir a um documentário que fale de aspectos fundamentais sobre os seres humanos, sociedade, mundo e, depois, simplesmente, fechar e tocar a vida, ou levantar e ir embora, como se nada fosse, como se nada houvesse, como se eu não tivesse sido exposta àquelas informações...
Não dá para continuar a ser quem se era ou a viver o que se vivia depois de conhecer o outro lado da moeda. Quer dizer... Até dá. Tanta gente consegue, não é? Mas acontece que eu nasci com defeito, nasci desregulada. Quando passo a conhecer algo que me mostra como minha vida anda torta e como ela pode ser melhor, preciso fazer algo a respeito. Esse defeitinho piorou depois que me tornei mãe. Não consigo viver bem sabendo que existe uma possibilidade melhor para minha filha e que ela não a está vivendo por minha acomodação - claro, considerando nossa realidade, nossas possibilidades, nossos limites, nosso contexto, nossos valores."
 Por que disse que a ignorância é uma benção?
Quando eu não sei como as coisas são realmente, é sempre  uma justificativa, para não fazer ou não ter feito algo. Agimos de acordo com os recursos que temos no momento.
Mas quando tenho acesso a informação, e essa informação é contrária/divergente do que eu achava que era, eu fico maluca. Mergulho de cabeça no assunto até entender melhor e poder tomar uma posição. O detalhe é que essa tomada de posição perante a minha própria vida, na maioria das vezes requer uma grande mudança. De paradigmas, de atitudes, de busca.
Quando eu decido mudar, ok, está tranquilo para mim. O mais difícil é o nadar contra a correnteza. Foi assim quando decidi parar de comer carne, e é assim com essa questão do parto.

E por que afinal eu estou falando de ignorância?
Porque quando as mulheres ignoram informações, ignoram seus desejos, ignoram suas buscas, ignoram seus sonhos, e de certa forma, ignoram o bem estar do seu filho.
Mas como, toda mãe quer o bem para o seu filho!!
É verdade, mas como se explica então o alto número de complicações respiratórias em recém nascidos através de uma cirurgia abdominal de grande porte (sim, isso é o que é a cesárea)?
O que vem a seguir à escolha, e suas consequências, ainda é responsabilidade da mulher, por mais que ela ache que não. Mas é, e não serei simplista ao mencionar apenas a gestante que confia num sistema que deveria promover a saúde. Entretanto, isso é outro assunto.
Só não vamos confundir responsabilidade com culpa.
Mas o médico disse que preciso fazer cesárea porque meu filho está sentado, tem mecônio, tem o cordão enrolado, ou porque eu sou pequena e o bebê não vai passar, ou porque a placenta está velha, ou porque eu já tive uma cesárea antes... enfim, uma lista razoável de desculpas.

Então, chega de ignorar o desconhecido. Você provavelmente vai comprar uma grande briga... mas afinal, quanto vale o seu desejo? Quais as consequências da sua decisão? Os riscos? Cesáreas são mais arriscadas que parto normal, cientificamente comprovado, você sabia?
Existe uma coisa que se chama Medicina Baseada em Evidências.
Sim, nem sempre os médicos agem baseado em evidências científicas, e sim em protocolos, comodidades, dinheiro.

E hoje, depois do sentimento triste que uma foto me trouxe, confisquei o sentimento e transformei nesse post. Que cada vez mais, mais gestantes possam ser bem informadas pelos seus médicos, sobre TUDO que envolva gravidez e parto, mas acima de tudo, que recebam informações corretas, que visem o bem estar da mãe e do bebê. Para que dessa forma tenham plena consciência da situação e possam fazer suas escolhas.
É isso que tem que ser apreendido.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

fui tragada.

Fui sugada. Me engoliu e não devolveu mais. Mudou minha perspectiva, meu rumo, meu sumo.
E preciso assumir isso.
Passei uma parte da manhã lendo alguns posts deste blog: potencial gestante.
Descobri através do grupo sobre Gestação, Parto e Maternidade que participo no facebook. Recomendavam ler o relato de parto domiciliar que diziam ser emocionante.
E lá fui eu.
Depois, enquanto preparava o almoço, caiu a ficha.
Fui mesmo tragada pela maternidade.
Acho que nunca li tanto, e por tanto tempo, sobre um mesmo assunto.
Não sei quanto tempo isso irá durar, nunca sei. Mas a realidade hoje é essa.
Meu esposo disse que mudei. É verdade, mudei de ideia, troquei prioridades, mergulhei fundo sobre esses assuntos durante a gravidez, e achei que depois ia passar. Mas não passou. 1 ano depois e eu ainda leio inúmeras coisas sobre essa tal maternidade.
E por que preciso assumir isso?
Primeiro porque acho que faz parte do processo, reconhecer e assumir algumas coisas.
Depois porque quero deixar isso documentado.
E por que?
Lá vem uma história...
Quando morava em Lisboa fui a um TEDxEd. O evento mostrava novas perspectivas de educação. A história de um pai me chamou a atenção, o palestrante Paulo Mateus. Gestor financeiro, consultor bancário de carreira internacional. Que viu sua vida profissional levando-o cada vez mais distante dos filhos. Basicamente ele então teve uma ideia, largou tudo, criou uma empresa que produziu uma plataforma (weduc) para auxiliar os pais (e também a escola) a acompanharem os filhos no colégio.
Lindo.
Mas logo me veio a pergunta. De onde surgiu essa ideia??? Eu perguntei para ele, mas a resposta foi apenas uma repetição do que ele havia dito na TED talk. Talvez não tinha sido clara na minha dúvida. Expectativa.
Eu esperava que ele descrevesse seu insight, do tipo, eu acordei e tive essa ideia. Ou, pensei nisso, nisso, nisso e nisso e juntei tudo e surgiu a ideia.
Queria eu, uma receita de como mudar o rumo da carreira com sucesso.

Mas hoje eu percebo que mudança é processo.
Para mim, nada é muito claro, então tenho que marcar alguns pontos, para me encontrar depois.
É isso que quero segurar por hoje: fui tragada. Para um mundo encantador, transformador, mágico, lindo, feliz, e acrescento também, nas palavras do meu esposo: "um mundo com fadas, sereias e uma floresta encantada" :)
A maternidade!
Foto por Adriana Morais
Make up da barriga por Kaira Cavaliere

sábado, 22 de junho de 2013

uma sinuca de bico

Já perdi as contas de quantas vezes me encontrei na tal situação que escolhi como título para o texto de hoje.
São aqueles momentos que a gente olha e pensa: "se ficar o bicho pega, se correr o bicho come".
Sem saída.
São momentos que exigem mudança, seja de postura, atitude, pensamento, e muitas vezes, até de rumo mesmo.
Devo estar inspirada pelas manifestações que vem borbulhando pelo Brasilzão de meu Deus.
Na verdade, sinto que tem muita mudança chegando, e é um sentimento engraçado, quase que uma ansiedade. Mas mais ameno, felizmente!
Mas, como diz a sabedoria popular, que seja "dos males, o menor".

E hoje estou cheia de expressões populares.

Posso dizer que tive, até agora, uma vida meio itinerante. Sem contar que não posso nem reclamar e dizer que não gosto disso, pois acho que o fato de termos que nos adaptar a várias realidades e situações nos trazem um crescimento enorme. E eu, como boa sagitariana, adoro uma viagem e uma mudança, então não poderia estar melhor.

Pois é, mas acontece que isso me trouxe um outro problema. Devido as mudanças todas, é difícil levar um projeto pra frente. E muitas vezes não consigo levar o projeto comigo.
Quando estou conquistando espaço com um empreendimento, surge algo inesperado e lá vou eu toda feliz pegar as malas de novo.

Chegando no novo destino, novo período de adaptação, aquela empolgação toda do novo, do desconhecido, do querer conhecer e saber onde tem o melhor capuccino, qual a livraria mais cheirosa, onde tem um bolo imperdível, ou qual o supermercado mais barato da redondeza...

Só que como já tive alguns mini-projetos que parei logo no início, eu não tenho uma carreira, um rumo, um destino, profissionalmente falando. Quer dizer, ter tenho. Sou formada, tenho mestrado, posso dar aulas por exemplo.
Mas conforme a carruagem foi andando, a paisagem foi mudando, e as perspectivas também. O que eu desejava ardentemente em 2006 por exemplo, não é o mesmo que desejo hoje. Consequentemente, não posso seguir trilhando pelo mesmo caminho, com as mesmas ferramentas e estratégias. Seria no mínimo incoerente e já me disseram uma vez que um não podemos vender nossa alma por um prato de comida. Será?

E aí que vem o porém: que caminho seguir então?
Olha olha se não é a eterna busca dando o ar da sua graça. Sério, o dia que eu descobrir eu prometo um post contando! :)

O que é pra segurar hoje então: tratar de redimensionar necessidades e realização; pensar num projeto itinerante, que eu possa levar comigo caso a vida resolva me mandar para outro lugar, sem ter que começar tudo de novo outra vez; ter fé, (em Deus, no que meu coração diz) e não desistir, não agora...






sábado, 8 de junho de 2013

Como cheguei até aqui?

Eu deveria ter uns 12 anos, estava aguardando meu horário para a aula de natação. Folheava uma revista e vi uma foto de um bebê nascendo numa piscina. Achei fantástico, principalmente pela explicação de que aquilo era menos traumático para o bebê. Não me questionei. Aceitei com a confiança que tenho quando alguma coisa me faz sentido. É quando o meu coração fala.
Guardei na memória, para quando engravidasse.
Quando engravidei, já sabia que gostaria de ter um parto normal.
Foi então que a engrenagem da sincronicidade começou a funcionar. Uma colega de trabalho me emprestou um livro: Memórias do Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra Humanista, autoria de Ricardo Herbert Jones.
Confesso que o título e a capa do livro não me chamaram a atenção. Pensei: Isso deve ser algum livro da treta...
Paguei a leviandade da língua. Era o livro que traria de volta a minha ideia do parto na piscina, e não só.
Mergulhei fundo, talvez até demais. Mas a cada frase que eu lia, a confiança do sentido gritava de alegria!
Cheguei a sonhar que o autor estava em Portugal e me ajudaria no parto.
Gosto da subjetividade com que escreve, com que percebe as mulheres e suas almas. Subjetivo e claro, vai alinhavando os pensamentos, e antes mesmo do final, me vi totalmente seduzida por essa nova visão do parto.
Mas ao mesmo tempo que fiquei maravilhada por ver se materializando algo que tinha dentro de meu inconsciente, tive medo pela realidade que me foi mostrada.
Entre outros esclarecimentos, acabei com a dúvida sobre o meu nascimento e da maioria das pessoas que conhecia. Descobri porque nem minha mãe, nem minhas tias (entre tantas outras mulheres) tiveram um parto normal. Sou filha da epidemia de cesarianas que se instalou no Brasil, e infelizmente se mantém até hoje.

Esta semana, encontrei um texto do Dr. Ricardo Jones aqui. O título era: Medo.
E um clarão de ideias explodiu na minha mente.
Me deixou pasma, por vários motivos.
Pela franqueza e honestidade com que o próprio autor assume seus medos, seus erros e nos conta episódios onde o medo surge.
Pela clareza com que nos mostra de onde vem a arrogância tão fácil de identificarmos nos profissionais que exercem a medicina.
"Sim, eu disse isso, com toda a convicção. Com toda a empáfia, toda petulância e com todo…. o medo. Mas medo de quê? Medo de não ser aceito pelos meus pares, de não ser reconhecido, de que zombassem de mim. Medo de ser diferente e de poder estar errado. Medo das consequências de ver o mundo por um outro prisma. É assim que somos: um bando de medrosos. Eu tinha MEDO, muito medo."
É pelo tiro certeiro que ele dá nesse sentimento tão comum, e na maioria das vezes, tão difícil de identificar e mais difícil ainda de assumir, que eu adoro seus escritos.
Ele finaliza então dizendo sobre uma recomendação que oferece a estudantes que vão conversar com ele:
“Se você tem alguma alternativa, não me dê ouvidos. Saia daqui, tome a pílula azul e acorde amanhã no seu quarto com o livro do Resende todo babado embaixo de sua cara. Mas se quiser tomar a pílula vermelha lembre que ela não tem volta, não há como retornar de um passeio que te leva a uma consciência maior de si mesmo e da sua profissão. Mas só a tome se não houver mais nenhuma escolha, pois no mundo dos que nadam contra a corrente cada braçada é dolorosa e angustiante“.
E essa é uma breve descrição de um dos ramos que me trouxeram ao mundo do parto e da maternidade.

O que não pode escapar daqui é a lembrança de que nadar contra a corrente é mesmo assim, doloroso e angustiante.
Mas só assim, poderemos chegar a nascente (em todos os sentidos), como disse João Paulo II:
"Se você quer encontrar a nascente tem que subir contra a correnteza."


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Novas mães, novos pais.

Nunca fui de escolher o caminho mais fácil. Não que eu escolha o menos percorrido, mas muitas vezes, aos olhos dos outros, parece que eu gosto de complicar. Mas hoje vejo que faz sentido a frase do Einstein: "A mente que se abre a uma nova ideia jamais retorna ao seu tamanho normal."
Durante minha eterna busca entrei em contato com várias ideias que me fizeram e continuam fazendo sentido. E isso me permitiu em alguns momentos, observar mudanças de paradigmas surgindo. E o que tenho visto agora é o surgimento de novas formas de se exercer a maternidade e a paternidade.
Ultimamente tenho lido bastante relatos e opiniões de mães que reconheceram e assumiram seu caminho na maternidade mas que ao mesmo tempo não querem abrir mão do seu lado profissional.
E o que elas nunca deixam de mencionar é que sem a ajuda e o apoio do pai ou companheiro, sua empreitada não seria possível.
A Lígia, do "Cientista que virou mãe", comenta em vários dos seus posts que só consegue manter o doutorado e cuidar da filha, graças a ajuda do pai, que também trabalha em casa. Outros relatos de mães em seu site também citam a mesma coisa: sem uma ajuda de fora, em especial o pai/companheiro, mas também de avós, tios, amigos, não teriam como chegar onde chegaram.
Em outro relato, desta vez encontrado no site do Liga La Leche Internacional, uma ONG de apoio a amamentação, existe um link sobre mães que amamentam e decidiram encontrar outro trabalho para poder ficar mais tempo em casa dando a atenção que os filhos precisam. Todas elas contam da decisão conjunta entre pai e mãe, sobre a mãe ficar em casa, e como isso as tranquilizou.
Novas formas de trabalho estão surgindo, e a maternidade empreendedora é uma delas.
Mãe+filhos em casa sempre foi a realidade na história da humanidade. E era assim pois dessa maneira a raça humana tinha mais chances de evoluir como espécie, lá nos primórdios... Essa é uma explicação que cabe em muitas situações da maternidade, como demonstra o pediatra Carlos González em seu livro Besame Mucho.
Mas a modernidade mudou isso e hoje muitas mães e pais preferem deixar seus filhos em creches, escolas ou com babás e seguirem firmes em suas carreiras.
Mas outras mães são tão sacudidas pela maternidade que preferem abrir mão de uma carreira profissional e um estilo de vida "normal", para poderem se dedicar também aos filhos.
Há também aquelas que trabalham por necessidade, e para essas não há opção de escolha, infelizmente.
Mas para todas elas, ter alguém nos fundos, seja uma empregada doméstica para cuidar dos afazeres da casa, seja uma babá, sejam os avós, ou seja o marido, que nas horas vagas cuida do filho para a mãe poder trabalhar é uma realidade inegável. Aqui tem vários exemplos de como mães, pais e família lidam nos casos em que a mãe deseja prover cuidados diários aos filhos e ao mesmo tempo trabalhar.
Observa-se então que esta nova realidade de trabalho se constrói juntamente com uma mudança de paradigmas na sociedade.
Bem grosseiramente falando, antes a mulher não podia trabalhar, era preciso ser submissa ao marido e cuidar da casa, era a mãe doméstica. Depois, a mulher conquistou um espaço no mercado de trabalho, e surgiram as mães trabalhadoras. Hoje, num movimento de retorno às raízes, cada vez mais comum em vários aspectos, surge a mãe empreendedora, que busca uma nova forma de trabalho para conciliar com a maternidade que pulsa em seu coração, e também fora dele, naquela criança que sorri ao te ver por perto após uma situação complicada.
Numa das minhas pesquisas encontrei um manifesto de apoio a maternidade, muito bonito, com imagens e frases que exprimem muito bem o que as mães sentem!







Eu então procurei a página do grupo, que se vê abaixo em todas as fotos, mas a página não existe mais... e não consegui descobrir que fim levou. Mas encontrei essas imagens aqui.
No mesmo sentido da valorização da maternidade, existe o surgimento do novo pai, já comentado aqui e aqui, e também poetisado por Carpinejar aqui.

Nas palavras de Lígia, defendendo a paternidade ativa e contando o seu caso:
"Isso é fruto da disposição dele de atuar, de estar junto, de estar presente, mas também foi e é fruto de nossas escolhas e lutas e da minha aceitação. Procuramos apoio na gestação, no parto e no pós-parto. Mudamos a vida de forma que a participação dele fosse valorizada. Ele transferiu para a casa a totalidade de suas atividades - perdendo, nessa, um bom número de interações que lhe trariam mais trabalho e mais dinheiro. Eu soube acolher essa incursão na criação da nossa filha."
Na revista TPM, a autora comenta:
"Já o novo pai é filho da revolução feminina. Para ele, homens e mulheres têm direitos iguais, mas, na maternidade, a mulher é mais poderosa: é ela quem gesta, pare e amamenta. Resta a ele correr atrás do prejuízo: ser parceiro na gravidez e engravidar também; ir às consultas médicas; fazer cursos de pais; estar ao lado da mulher no parto para cortar o cordão e, logo depois, dar o primeiro banho na criança. (...) Para o novo pai, trocar a fralda das seis da manhã ilumina o dia. Passar o dia fora de casa é morrer de saudade. Chegar do trabalho e dar banho de chuveiro no filho é sua dose de transcendência diária."
E termina prevendo:
"Ainda não sabemos as consequências desse acréscimo amoroso, mas eu acho sortuda a criança que nasce com um pai disposto a limpar-lhe a bunda com franco sorriso no rosto. Certamente isso há de ter efeito na autoconfiança, na coragem para encarar o mundo e, sobretudo, na capacidade de amar desse futuro adulto que, no seu tempo, tornar-se-á um pai ou mãe ainda mais preparado para cuidar."

Carpinejar, contando sua experiência e nos mostrando a beleza do cotidiano, diz:

"Foi untando os dedos de hipoglós que valorizei o uso do perfume, foi juntando meus pedaços que me formei inteiro.Só com a paternidade aprendi a esperar, aprendi a abandonar o egoísmo, aprendi a planejar presentes, aprendi a ser provisório e não mais idealizar encontros, aprendi a aproveitar o tempo que eu tinha e o tempo que podia, aprendi a não reclamar à toa, a não mais diferenciar a janela da porta e o amor do perdão.Só aprendi a ficar de pé depois de ser pai, antes minha fé apenas engatinhava."

Esses trechos nos mostram que não são apenas as mães que mudaram, mas também os pais. E na minha opinião, isso é um sinal de que estamos evoluindo como sociedade. Ao apoiar e amparar as necessidades do novo ser que se forma, também evoluímos, e deixamos uma herança inestimável: a do amor e do cuidado com o outro. É "amar uns aos outros, como a ti mesmo". 
E é isso que não quero deixar escapar. 




quarta-feira, 5 de junho de 2013

Dicotomia

A primeira vez que ouvi essa palavra foi durante um evento do movimento estudantil. O rapaz que falava, argumentava usando muitas vezes essa palavra. Soava bem no seu discurso. Mas na minha ignorância, não percebia o que ele queria dizer.
Então, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:
dicotomia 
(grego dikhotomía, divisão em dois) 
s. f.
1. Divisão em dois; oposição entre duas coisas.
2. Partilha ilícita de honorários entre médicos.
3. [Astronomia]  Fase da Lua, ou de outro planeta ou satélite, quando é visível com uma metade iluminada.
4. [Botânica]  Modo de divisão de certas hastes em ramos bifurcados.

5. [Lógica]  Divisão de um conceito em dois outros que abrangem toda a sua extensão.

Enfim, no seu discurso, o tal rapaz queria mostrar o abismo que havia entre duas coisas. Que aparentemente não pareciam tão separadas assim. Ou pelo menos que eu me lembre.

E hoje de manhã acordei com essa palavra na cabeça. E resolvi escrever, porque as vezes a dicotomia vem de onde menos esperamos. Como uma cobra sorrateira. E de repente acordamos e percebemos ela lá. Pimba! Como dizem em Portugal. 

E é aí que entra a tolerância. Como lidar com visões de mundo tão distintas?! Não dá para bater de frente, tentar convencer o outro, mesmo que você tenha provas científicas muito bem embasadas. E por que? Porque depende primeiro de tudo, da disponibilidade do outro. Disponibilidade em perceber, aceitar, deixar o ego de lado, se entregar a compreensão. Sempre gostei dessa palavra. Compreensão. Porque pressupõe algo maior do que simplesmente entender. Me lembro, de um dos marcos de minha adolescência, um dos filmes "Karatê Kid", em que o Sr. Miagui olha para o Daniel San e diz: Compreende? Porque o que ele estava tentando explicar ali não precisava de palavras. Precisava do coração. Compreender é entender com o coração. E aqui nem adianta colocar a definição do dicionário porque ela é muito restrita. Compreender é subjetivo. Requer complexidade, empatia. 
Nem sempre compreensão significa ceder. Mas ela já dá uma outra luz na situação. Daquelas que iluminam um pedaço da nossa sombra. E de repente tudo fica mais fácil...

Se em um lado entra tolerância, de outro, a dicotomia também envolve intolerância, e minha nossa, como isso me tira do sério. Tanto a minha intolerância (quando a reconheço) quanto a intolerância irreconhecida, ou negada. 
Mas mesmo negada a intolerância é tão gritante, que reconheço porque dói em mim. Daquela história de que o que mais nos irrita no outro é o que não queremos ver em nós mesmos.
A dicotomia não permite o apoio na discordância. Porque ela parte do princípio do abismo, e se pontes de tolerância não são construídas, o apoio não tem por onde caminhar. 
Talvez seja por isso que eu goste de pontes. O difícil é fazer os dois lados se encontrarem no meio.