sábado, 26 de abril de 2008

sem título


Ultimamente, tenho apreendido a solidão.
Os amigos e a família estão distantes, e os referenciais desapareceram.
Mas não é aquela solidão triste, é solidão, e só. Estar sozinha.
Períodos como esse são construtivos, para reflexão.
Poderia dizer também, apelando para o clichê, que serve para aprendermos a dar valor as coisas. Não que esse não seja um ponto importante. Mas é clichê né?
É bom também para definirmos prioridades. Do tipo, cansei de ficar vagando por aí, quero parar em algum lugar. Ou, cansei de tudo, quero ser uma nuvem, voltar a ser criança, não quero mais preocupações. Leve a vida leve.
Simples assim, apreendido.

sábado, 5 de abril de 2008

"há sempre um copo de mar para um homem navegar"

Descobri Jorge de Lima...
O Leandro me apresentou, ontem peguei uma seleção de poesias, feita por José Fernando Carneiro (Apresentação de Jorge de Lima), para ler.
Selecionei um fragmento de uma poesia que gostei.

De: Invencção de Orfeu - Jorge de Lima
II

A ilha ninguém achou
porque todos a sabíamos.
Mesmo nos olhos havia
Uma clara geografia.

Mesmo nesse fim de mar
qualquer ilha se encontrava,
mesmo sem mar e sem fim,
mesmo sem terra e sem mim

Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmo sem vagas e areias,
há sempre um copo de mar
para um homem navegar.

Nem achada e nem não vista
nem descrita e nem viagem,
há aventuras de partidas
porém nunca acontecidas.

Chegados nunca chegamos
eu e a ilha movediça.
Móvel terra, céu incerto,
mundo jamais descoberto.

Indícios de canibais,
sinais do céu e sargaços,
aqui um mundo escondido
geme num búzio perdido.

Rosa de ventos na testa,
maré rasa, aljôfre, pérolas,
domingos de pascoelas.
E esse veleiro sem velas!

Afinal: ilha de praias.
Quereis outros achamentos
além dessas ventanias
tão tristes, tão alegrias?

a estrofe: "há sempre um copo de mar para um homem navegar", me trás um tipo de alívio.
Uma espécie de garantia, de que as coisas são infinitas o suficiente, para que possamos conhecê-las.
O que não é infinito entretanto, é a nossa capacidade de se agarrar a isso, de admirar as entrelinhas, de sentir a dor e angústia, e depois a alegria e a fé, na vida.
É preciso dispender muita energia para sair da inércia, bem como para manter as coisas organizadas... leis da física e da biologia.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

"a coisa me escapa entre os dedos"

Fui ao shopping ontem. Imprimir fotos do que passou, confiscar um momento. Procurei pela revista Piauí. Não encontrei.
Fui à locadora hoje. Terminar a saga de envelhecimento do Al Pacino (trilogia do Poderoso Chefão). Lá tinha a revista, de março. Comprei.
Saí da locadora e olhei para a capa. Um dos tópicos era: Aquilo que escapa entre os dedos.
Ainda não tenho um nome para essa sensação, mas a primeira coisa que me veio em mente foi: sincronicidade.
"Tenho pretensões artísticas, ainda que uma profunda insegurança dificulte uma adesão irrestrita a essa atividade. Penso que haja nisso mais que razões psicológicas. Me concentro, procuro encontrar instrumentos que clareiem a mente. Em vão." Rodrigo Naves, o autor da matéria, do texto, da ficção: A coisa me escapa entre os dedos.
O texto é lindo, e a sensação que ele traz também.
No mais simples dos pensamentos, penso: era isso que eu queria escrever!
"Faço da mecânica dos fluidos o escorregador de minh'alma."
"E então, obter da água cristalina o que desesperados e suicidas pedem ao escuro da noite: um espaço que os dissolva, uma atmosfera que lhes alivie o peso e a identidade."
Falar do simples subjetivo, das cores, dar nome as sensações.
Um dia, serão confiscados, e registrados na universalidade da escrita.
Pintura: Almond Branches in Bloom - Vincent van Gogh