sábado, 7 de novembro de 2015

quase 32

Há pouco menos de 1 mês de completar 32 anos, surge aquela vontade inexplicável de escrever.
Os 30 estão sendo realmente marcantes...
Sentia que antes tudo era incerto, apesar da certeza ilusória de que se tem aos 20.
Jurava que seria veterinária a vida toda. Mas não conseguia me imaginar no futuro.
Agora também não consigo, mas já me sinto muito mais no "caminho" do que antes.
Qual caminho? O meu...
Aos 21 fiz uma oração pedindo para Deus me guiar no caminho onde pudesse aprender a amar mais. Havia lido (ou re-lido) "O Dom Supremo", que descrevo como uma releitura da carta de São Paulo aos Coríntios, sobre o amor, ou a caridade, dependendo da tradução da bíblia. Conforme as coisas aconteceram eu percebi que realmente fui guiada por esse caminho, pois parei de comer carne, fazia caridade... Por algum tempo me senti bem, sendo a pessoa que eu sempre quis ser, fazendo o que eu sempre quis fazer... Por algum tempo...
Porque evoluímos e inevitavelmente vamos precisando de "mais". Mais conhecimento, mais aprendizado, mais reflexão. Surgem novas perguntas.
Aos 26, ainda rezando para aprender a amar, fui até Portugal. Ah, amar era tão bom!!
Sempre fui a ingênua que acredita que o amor pode resolver tudo. Até perceber que eu não sabia amar. Lia e relia a minha bíblia, "O Dom Supremo", percebia onde errava, mas sem perceber eu havia subido um degrau e precisava de novos conhecimentos sobre o amor, e mais ainda, sobre mim mesma. Hoje, Sri Prem Baba faz esse papel.

Eu já tinha o conhecimento, já sabia o que fazer. Meditação, auto-observação, presentificação. Mas não conseguia praticar. Era insegura sobre o que dizia meu coração, ou melhor, eu mal conseguia ouvi-lo.
Quando engravidei, me perdi completamente de mim. Racionalizei o processo todo. Estudei, li, discuti. Sentia um medo incrível. Mas não consegui lidar com ele de uma forma produtiva. Eu tratei o medo como um problema, e problemas se resolvem com estudo, pensava eu.

Não foi suficiente obviamente.
E depois, como um processo de luto, cheguei na fase de aceitação e do perdão.
Me perdoe filho, por não ter tido condições de te trazer ao mundo de uma forma mais tranquila, amorosa, e respeitosa. Me perdoe por não ter confiado no meu coração e lutado pelo que eu acreditava.
A maternidade aguçou-me o senso de responsabilidade.
Alguns anos depois do Dudu ter nascido me deparei com uma encruzilhada. A confusão era tamanha que eu não conseguia sequer pensar ou medir consequências, ponderar. O sentimento que me lembra dessa época é: instinto de sobrevivência. Penso que nesses casos, as decisões que tomamos podem parecer irracionais para olhos mais desatentos. Mas existem situações que te chamam a atenção de tal maneira que você é obrigado a encarar a realidade.
Certo dia fui no circo com minha irmã, o Dudu e minha sobrinha. Começamos a rir com o palhaço, e de repente eu estava chorando. Como se o riso tivesse aberto a porta da tristeza e dito a ela: pode vir, aqui é seguro. Aquilo foi tão paradoxal para mim, tão marcante... Fiquei pensando e tentando entender o que realmente estava acontecendo com a minha vida.
Aprendi desde criança: que teu sim seja sim, que teu não seja não. Então eu me vi dizendo não, depois de tanto insistir no sim.

É difícil dizer não para expectativas. Dói dizer não para planos, para compromissos que você pensava ser capaz de honrar, que você queria honrar! É frustrante reconhecer a sua incapacidade de amar plenamente, de aceitar, de compreender. É um martírio você perceber que teu modo de pensar, as coisas que você acredita, suas atitudes, fazem outras pessoas sofrerem. Tem o sentimento de fracasso, tem o sentimento de culpa, não dá pra escapar. Pelo menos eu não consegui.


Com quase 32, quase 1 ano depois do caderno da gratidão, separada, ainda busco o caminho de aprender a amar. É tarefa para muitas vidas, tenho consciência disso. Mas hoje sinto que sementes que foram plantadas nos meus 20 anos, agora começam a criar raízes. E esse tem sido um processo muito mais tranquilo que a fase da plantação.
Abençoados sejam todos os que contribuiram em todas as etapas. Gratidão inclusive pelas pedras, pelas chuvas em excesso, pelos dias de sol escaldante. Hoje, além de agradecer já consigo amá-las como são, na maior parte das vezes. Gratidão também pela água nos dias de seca, pelos adubos que fui recebendo, pela sombra nos momentos necessários.



E que venham muitas primaveras, se assim for da vontade de Deus! 












quinta-feira, 23 de julho de 2015

Mágoa, o sentimento inútil

Há tempos venho pensando nisso. Não falei com ninguém sobre o assunto para exercitar a tolerância e ouvir outras opiniões, mas até onde consigo perceber, não vejo outra ideia...
Mágoa é um sentimento inútil.

Vamos lá, do dicionário:
má·go·a 
(latim vulgar *macelladiminutivo de maculamanchanódoa)
substantivo feminino
1. Efeito de magoar.
2. Mancha ou nódoa resultante de contusão.
3. [Figurado]  Tristezadesgostodor de almaamargura.
4. Pêsamecondolência.


"mágoa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/m%C3%A1goa [consultado em 15-07-2015].

Não quero dizer que é "errado" sentir mágoa, ou que eu não sinto mágoa então você também não deveria sentir... Não é nada parecido com isso. 

O que quero provocar aqui é: Como a mágoa pode ajudar na nossa evolução pessoal?

Chamo um pouco de conhecimento externo através do livro do Eckhart Tolle: Um novo mundo, o  despertar de uma nova consciência. Neste livro ele introduz um conceito (que para mim era novidade) a respeito do "corpo de dor" 
Por causa da tendência humana de perpetuar emoções antigas, quase todo mundo carrega no seu campo energético um acúmulo de antigas dores emocionais, que chamamos de “corpo de dor”.
Como podem ver, isso é uma coisa normal na nossa história. O que não significa que devemos alimentar esse "corpo de dor".

É preciso então uma boa dose de auto-observação para percebemos em quais momentos da nossa vida estamos alimentando esse "corpo de dor".
Quando eu digo: fiquei muito magoada, eu penso: Ok, estou magoada, e agora? Quero ficar assim por mais tempo? Como faço para "processar" a mágoa dentro de mim?

Claro que como tudo nesse aspecto, a situação é complexa e envolve inúmeros pormenores. Neste site aqui tem uma transcrição de um trecho do livro que mencionei falando um pouco mais do corpo de dor.

O que me chama mais atenção é a nossa identificação com a mágoa. Parece que ao perceber que me magoaram, eu fico triste, pois assim as pessoas ao meu redor irão perceber minha tristeza e posso faze-las se sentirem culpadas... e...? Assim elas ficam tristes também?
Mas espera: para e pensa: é isso mesmo que quero? Fazer as pessoas ao meu redor infelizes? Fazer as pessoas ao meu redor se sentirem culpadas?
Essa é uma situação típica em que alimentamos o "corpo de dor".

Por um outro lado eu sempre me lembro da história do monge e do presente:
- Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?
- A quem tentou entregá-lo - respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos - disse o mestre - Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo. A sua paz interior, depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a calma, só se você permitir...
Temos a nossa responsabilidade sobre os sentimentos que surgem dentro de nós. É preciso perceber eles surgindo, e ter consciência do que fazer com eles. Isso me lembra um outro post que fiz sobre o assunto, clique aqui para ler.

Finalizando, talvez a única utilidade da mágoa seja nos fazer refletir um pouco sobre a vida. Mas ainda assim tenho minhas dúvidas, pois se estivermos identificada com ela, só iremos alimentar ainda mais sentimentos ruins.

E você, concorda? Discorda? Deixe sua opinião nos comentários ;)

Para mim, está confiscado! (por enquanto, porque sempre posso aprender com outras opiniões e mudar de ideia :)


sexta-feira, 19 de junho de 2015

Laura Gutman me salvando - de novo

Uma das coisas que enfatizei no post "coisas para se pensar antes de ter um filho" foi a questão da divisão das tarefas domésticas.

Novamente no livro da Laura Gutman que mencionei no post anterior, ela aborda este tópico de maneira bem interessante, por isso transcrevo-o aqui e espero que possa ajudar mais pessoas :)

Colaborar em casa.
Por Laura Gutman, do livro: Mulheres visíveis, mães invisíveis. Pág. 135 - 137
* os grifos em negrito são exatamente como estão no livro

As tarefas do lar, ou seja, os pequenos atos cotidianos que nos proporcionam conforto, higiene, bem estar físico e ordem perderam todo o prestígio e o valor social. Desde que as mulheres passaram a circular no mundo externo, tudo o que se refere à "casa" perdeu a visibilidade. Portanto, queremos fugir desse lugar inxistente. Só fica preso quem não consegue escapar a tempo.
As mulheres carregaram séculos de história em que a responsabilidade pelo funcionamento do lar, onde viviam aprisionadas, e o ambiente se confundia com sua identidade. Viviam em um cárcere emocional, desprovidas de mobilidade e da autonomia proporcionada pelo "estar fora". É, portanto,  compreensível que, depois de terem conquistado certa liberdade no tocante ao dinheiro e à sexualidade, sintam o lar, aquele terreno das obrigações domésticas invisíveis, como um lugar prejudicial à sua autoestima. 
No entanto, todo mundo precisa de um mínimo de ordem e conforto para satisfazer suas necessidades básicas de higiene e alimentação. Alguém tem que trabalhar.
O interessante é que todas as tarefas domésticas são simples e até prazerosas em si mesmas. O verdadeiro problema é o valor que lhes é dado. Para as mulheres, é óbvio que elas estão marcadas pela submissão e o obscurantismo. Portanto raramente irão considerá-las libertadoras, embora, quando despojadas do peso histórico, sejam positivas e estejam a serviço de pessoas, inclusive delas próprias. 
Também precisamos admitir que os homens não conseguem aceitar que as tarefas de um lar, um espaço coletivo, caibam a todos os adultos por igual. 
Portanto, cansadas e com a sensação de que fomos injustiçadas, dizemos aos nossos filhos que as tarefas do lar não passam de uma obrigação desagradável com a qual não temos nenhuma afinidade e não nos traz benefício algum. Na maioria das vezes, "arrumar o quarto" é uma ordem que é dada às crianças como se fosse castigo. Raramente vamos "arrumar juntos"  como se aquilo fosse uma brincadeira compartilhada. Quando pedimos às crianças que colaborem, constumamos ficar irritadas, exaustas, sem paciência e querendo que elas se encarreguem dessa tarefa "horrível" que ninguém mais quer fazer. 
E assim vamos aprofundando a brecha entre o "dentro" e o "fora".
"Fora" é onde as mães e os pais trabalham. "Fora" é onde as crianças estudam e fazem as mais variadas atividades. Por sua vez "dentro" é onde as crianças ficam passivas (veem televisão) ao lado de pais também passivos (veem televisão). As atividades acontecem fora. A passividade acontece dentro. Deixamos de considerar as atividades do lar como parte das relações interfamiliares.
Não é fácil arrumar estantes, fazer compras, organizar a despensa, varrer, lavar, ou passar roupas com crianças correndo ao redor. E menos ainda quando essas tarefas nos remetem a um passado aterrorizante e realizamos tudo depressa e com tédio, tentanto, em vão, fazer com que as crianças não nos incomodem muito. Mas, se conseguíssemos parar e descobrir que podemos fazer os trabalhos domésticos com as crianças, conversando ou brincando, veríamos que algumas delas - nem todas - não são tão chatas assim. Vai depender da idade das crianças, naturalmente. E do tempo que tenhamos disponível, que, como já sabemos, é muito escasso.
É verdade que não será fácil fazer com que colaborem sempre. É verdade que teremos que fazer acordos com o pai das crianças, se é que há um em casa. Os acordos tácitos que atravessaram gerações - aqueles a respeito do poder, do papel da mulher como empregada e do homem como amo e senhor - ficaram obsoletos. No entanto, ainda não conseguimos estabelecer parâmetros claros para a coabitação. Este é um desafio que tem como cenário a invisibilidade do lar e é fundamental para a evolução das relações humanas. 
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O que gosto de pensar sobre tudo isso é que não existem regras. As reflexões são propostas e cada família deve encontrar a melhor maneira que funcione para todos. É processo, é caminhada, é construção :)


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Laura Gutman me salvando

Li esse texto e foi um alívio. É essa a sensação que tenho quando alguém materializa o que eu sinto ou senti e não conseguia explicar.
Por isso quero transcrevê-lo aqui. Se puder ajudar mais pessoas vai ser ainda melhor <3
Os grifos em negrito são originários do próprio livro. O sublinhado é meu mesmo.

Uma visão feminina da paternidade.
Por Laura Gutman, do livro: Mulheres visíveis, mães invisíveis. Pág. 133 e 134.

Esses não são tempos fáceis para os homens ou para as mulheres. Nós conquistamos o mundo masculino e os homens perderam suas identidades históricas. Serão necessárias algumas gerações para que possamos voltar a nos situar em um mundo sem regras fixas.
A paternidade também deixou os homens deslocados. Há um aparente consenso a respeito dos pais modernos que trocam fraldas, que brincam com as crianças ou que ajudam nas tarefas domésticas. E não muito mais.
No entanto, ser mãe ou pai é, sobretudo, abandonar os interesses pessoais e se colocar a serviço do outro - de maneira interamente altruísta. A mãe sustenta o filho e o pai sustenta a mãe. Pelo menos é isso o que existe dentros dos padrões da família nuclear, que está longe de ser o ideal para a criação dos filhos.
No entanto, as mulheres costumam confundir o "apoio emocional" que recebem com a "ajuda concreta para a educação do filho". São duas situações muito distintas. Uma mãe sustentada poderá sustentar a criança. Uma mãe desamparada se "afogará em um copo d`água". Sentindo-se solitária, pedirá qualquer coisa, a qualquer momento e nunca ficará satisfeita, mesmo que o homem tente banhar a criança, leve-a para passear ou acorde à noite para acalmá-la. Então o homem ficará desconcertado e não saberá mais o que fazer para tranquilizá-la.
É ótimo que o pai troque uma fralda. Mas a condição fundamental para um funcionamento familiar equilibrado é a de que desempenhe o papel de esteio emocional da mãe. Não é necessário que mergulhe no redemoinho emocional, porque esta não é sua função. Ao contrário: é necessário que alguém mantenha sua estrutura emocional intacta e se precoupe com o mundo material para que a mãe não se veja obrigada a abandonar o mundo emocional no qual está submersa. O pai não tem que maternar - tem que apoiar a mãe para cumprir seu papel de maternagem. 
Tenho duas sugestões a fazer aos homens emocionalmente amadurecidos: antes de sair para trabalhar de manhã, faça duas perguntas à sua mulher: "Como você está se sentindo?" e "O que você precisa hoje de mim?" É muito simples.
A maioria dos homens retoma suas atividades profissionais, toma banho, faz a barba todas as manhãs, engole o café e sai exatamente na mesma hora de sempre, "como se nada tivesse acontecido". E, da mesma maneira, acha que nada do que aconteça quando estiver ausente lhe diz respeito, e que sua mulher, eficiente como sempre, conseguirá se virar sozinha com o bebê. É uma ideia falsa. Deveria alterar sua rotina? Não. Entretanto, deveria perguntar à mulher o que precisa dele hoje, aqui, agora.

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É um trabalho de equipe... O pai abandona-se em função da mãe, que abanonda-se em função do filho... Colocando-se ao serviço do outro, a mais sublime forma de expressão do amor. 

Confiscado! 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

coisas para se pensar antes de decidir ter um filho

Eu não li nada do tipo quando decidi com meu marido que iríamos ter um filho.
Acho que isso era uma das poucas certezas que tinha dentro de mim, então não pensei duas vezes. Faria exatamente igual.
Mas pensar sobre certas coisas, hoje sendo mãe e passando pelo que passei, talvez me ajudassem a lidar melhor com algumas situações.
Talvez eu seja meio radical em algumas posições. Eu juro que queria ser mais flexível em algumas coisas, mas vida é processo de aprendizagem né, então pode comentar a vontade a sua opinião e vamos aprender juntos! Por isso, esse não é um post romântico.
Espero que possa te ajudar de alguma maneira também :)

1) Não dá pra fazer ideia do tamanho da transformação que um filho faz na nossa vida. É simplesmente inimaginável. Pelo menos para mim foi. Então se você não é lá muito fã de mudanças... ou se prepara ou deixa essa ideia pra lá.
2) Seu corpo muda. (óbvio hahahah), mas você pode amar, e se achar linda e maravilhosa, ou detestar. Eu adorava estar grávida, me achava linda. Mas conheço pessoas que detestam essa parte. Então, auto-conhecimento e auto-estima na veia. Porque o sexo pode mudar também. Você pode não querer nem saber, ou virar a grávida ninfomaníaca! E a relação com teu companheiro neste aspecto também. Uns podem adorar, outros não. Para isso, sempre vale uma longa conversa onde cada um exponha seu ponto de vista e encontrem uma maneira de viverem em paz neste sentido, seja lá o que for paz para vocês :)
3) Suas prioridades podem mudar. No meu caso mudaram completamente, basta ler alguns textos daqui para você ter uma noção. Mas conheço pessoas que não mudaram em nada. Algumas coisas não tem como escapar, a não ser que você terceirize a criação do seu filho. Mas se for assim, para que ter filho então?
4) Você vai precisar desenvolver novas características ou aprimorar se já tiver.
Paciência: em diversas ocasiões e em diversos formatos. Seu filho não tem culpa que vc teve um dia cansativo no trabalho. Seu filho não tem culpa se você não está feliz com seu trabalho. Seu filho não tem culpa se seu esposo brigou com você. Seu filho não tem culpa se você não compreende o choro dele. Seu filho não tem culpa de nada entendeu?
Pra isso você vai precisar se superar e superar tudo de ruim dentro de você para dar a ele toda a atenção e amor que ele (e todos os seres) merecem. Frases do tipo: "Você está me tirando do sério/ Eu estou perdendo a paciência" não querem dizer nada, pois você é o adulto e se o seu limite de tolerância é baixo, trate de aumená-lo. Seu filho (nem ninguém na verdade) devem pagar pelas tuas frustrações, cansaço, ou qualquer coisa do tipo.
Pense no seu filho como um adulto. Se fosse seu melhor amigo, você falaria com ele aos berros? Bateria para ensinar? Colocaria de castigo? Se você respondeu não, então não faz sentido fazer isso com seu filho também, faz? E não vale dizer que ele é criança e não entende. Se você não percebe a capacidade de entendimento do seu filho ou não consegue se comunicar de uma maneira que ele entenda, então vai estudar. De novo, a culpa não é dele, você é o adulto e está ali para ensinar respeito, tolerância, amor e compaixão. Deixa o celular de lado um pouquinho e vai ler. Para o seu bem, do seu filho e de toda a humanidade.
Mas não vai ler aquelas tretas da adestradora de bebês, por favor! Sugestões de leitura no final do post ;)
5) Se não quer ficar sobrecarregada com os serviços da casa + cuidar do filho, comece a conversar com seu companheiro sobre a divisão das tarefas domésticas e de como vão organizar isso quando o bebê nascer. Acredite, uma louça suja sobre a pia pode ser motivo de discussão, e convém evitar isso quando estão todos tentando se adaptar com o bebê e uma nova rotina e tudo mais.
6) Trabalho. Converse com o seu companheiro sobre isso. Você vai precisar trabalhar? Você quer continuar trabalhando depois que seu bebê nascer? Onde você vai deixar seu filho? Quais as suas opções? Pode ser que você não queria mais trabalhar com o que trabalha no momento, pode ser que você queira ter mais tempo para acompanhar o seu filho, os primeiros passos, as primeiras palavras. E aí, como faz? Vai pensando... Mas lembre-se, existem inúmeras opções, você só precisa decidir o que quer fazer. Dica: procure por empreendedorismo materno :)
7) Rede de apoio. Você tem família por perto pra te ajudar na hora do aperto? Amigos? Alguém com quem contar? Seja para conversar, seja para lavar a louça, seja pra te tirar daquela loucura de troca de fraldas e peito e te mostrar que ainda existe vida depois disso tudo :P Pode parecer bobeira, mas tem horas que só de sair de casa já te faz dar uma espairecida. Vale também conversar com outras mães, mesmo que elas fiquem contando que o bebê delas dorme a noite inteira, já vale pra distrair um pouco.
8) Convicções. É melhor você ter bem definido com seu companheiro como vocês vão fazer as coisas. Desde o parto - onde e como(a escolha é sua, mas saber se ele vai te apoiar ou não e o que vc vai fazer com isso poupa frustrações), amamentação (idem ao parto, o corpo é seu, vc decide), criação, onde o bebê vai dormir, o que vai comer, médico, etc. Saber o que cada um pensa sobre o assunto ajuda bastante, seja para exercitar a compreensão, seja para um apoiar o outro quando os pitaqueiros entrarem em ação.
9) Sua própria infância. Como seus pais te tratavam? Como você se sentia? Você quer fazer da mesma maneira? Quer que seu filho sinta o que vc sentiu? Quer fazer diferente? Não sabe como? Decida e siga. Estude, converse, leia, informe-se! Até onde eu sei essa é a única maneira... Tem um texto bacana aqui para você começar a se aventurar nessa parte :)
10) Tempo: Filhos tomam tempo, não tem como (a não ser que vc terceirize, mas de novo, pra que ter filho então?). E como vc vai lidar com isso? Como vai ser para você abrir mão das horas livres, do salão de beleza, do cinema com o companheiro, do café com as amigas, do passeio no shopping, do happy hour com a turma do trabalho? Uma coisa ou outra vc talvez até consiga manter, mas está preparada para abrir mão de algumas? Seu esposo vai ficar com seu bebê para você ir no salão? Acha que sim? Dá uma confirmada antes, não custa! Sua mãe vai topar ficar com o bebê na sexta a noite para vc curtir um jantar romântico? Pergunta lá... É bom ir conversando sobre essas coisas, por mais que pareça algo distante da tua realidade no momento, com filhos, planejamento é a palavra de ordem. Te poupa muito stress!
11) Birras e educação. Seu filho vai fazer uma birra em local público pelo menos uma vez na vida. E aí, já pensou em como vai lidar com isso? E não vai achando que isso é coisa de criança mimada, porque não é. Birras são a maneira da criança manifestar sua incapacidade de lidar com a situação naquele momento, e isso é ciência, é formação cerebral em desenvolvimento. Você achar que é manha e que ela precisa de limites não vai resolver... mas isso você só vai saber se tentar entender e se conectar com seu filho. Então, você está disposta a investir tempo nisso? Ou vai ser mais fácil ameçar bater, chantagear? Vai pensando...
12) Sua sanidade mental. Bom, pensar sobre isso pode parecer engraçado, mas na hora que seu filho estiver berrando desesperadamente, seu companheiro te olhando com aquela cara: faz ele parar de chorar, seu vizinho interfonando porque são 3 da manhã e ele precisa dormir e você totalmente perdida sem saber o que fazer... se você não tiver o tal do "sangue-frio" para analisar a situação tranquilamente e ver que seu bebê não quer ficar no berço sozinho e sim no aconchego do seu colo e você dar isso a ele, a coisa complica... Existe muita pressão com crianças chorando, principalmente quando elas não dizem o que sentem. É uma sensação de impotência pois você fica sem saber o que fazer. Para isso você precisa estar tranquila com a situação, e em paz com suas convicções. E claro, confiante de que está fazendo o que considera melhor para o seu filho. Óbvio que falando assim parece super fácil, mas a prática tem os seus percalços e você precisa estar preparada para eles também. São normais, acontecem, não se culpe! Dúvidas brotam na nossa cabeça de lugares que sequer imaginávamos existir... e aceite, é normal! Tenha em mente coisas que te fazem bem e pense em como fazer para poder usufruir delas quando a coisa apertar. Uma vez li que para uma mulher era essencial acordar e poder tomar um banho bem relaxada. Ela combinou com o companheiro que isso era um momento dela e era necessário, então eles se organizaram para ela poder fazer isso. Entende o que quer o dizer?
13) Já mencionei a divisão das tarefas de casa e cuidados com o bebê né?
14) Onde o bebê vai dormir? No berço, na cama com vocês, no carrinho? Eu comprei berço quando o Dudu nasceu, hoje se tivesse outro filho não gastaria dinheiro com isso. A cama compartilhada me facilitou muito a amamentação, me deixou dormir muito mais do que se tivesse que ficar levantando para pegar filho no berço, amamentando, fazendo dormir e colocando no berço para dali a 15 minutos ele chorar e eu ter que levantar de novo. E isso tem uma explicação: bebês não foram feitos para dormirem sozinhos. Informe-se :)
15) Fraldas. Descartáveis não são a única opção! As fraldas de pano modernas são ótimas e fazem um bem danado para a natureza :) E tem gente que até nem usa fralda, acredite (procure por Elimination Comunication, ou leia um pouco mais aqui)
16) Como você vai carregar o bebê. Existem outras opções além de carrinho e canguru! Já conhece o sling? É fisiológico, os bebês amam e ficam muito mais tranquilos!
17) Seu filho pode nascer com algum problema. Calma, não é sentença de morte! Bom, de certa forma vai ser, um processo de morte das expectativas. O fato é que essa possibilidade existe e seria legal se vc conseguisse pensar sobre ela. Não pensar para desistir, mas pensar para aceitar caso aconteça. Maternidade também é aceitação. Aceitar que não temos controle de tudo, que não somos super-heroínas, que independente de como criamos, eles são livres e podem seguir um caminho que não concordamos, aceitar que irão nos surpreender, aceitar que vamos chorar na apresentação da escola, aceitar de que vai passar muito rápido e que o que vai valer a pena foram os momentos que vocês passaram juntos.

Que eu me lembre, por enquanto, é isso. Sempre que surgirem outras coisas eu vou atualizando aqui!
E aí, o que achou? :)

Sugestão de leitura:
Maternidade e o encontro com a própria sombra - Laura Gutman
O Poder do Discurso Materno - Laura Gutman
Mulheres visíveis, mães invisíveis - Laura Gutman (este é um apanhado com vários textos da autora. Vale a pena para quem quer ter uma noção geral do que ela diz)
Besame mucho - Como criar seus filhos com amor - Carlos González (é difícil encontrar para vender, eu só consegui o pdf pela internet)
O livro da maternagem - Dra. Relva
Educar sem violência: criando filhos sem palmada. Ligia Moreiras Sena e Andréia Mortensen
Soluções para noites sem choro - Elizabeth Pantley
Memórias do homem de vidro - Ricardo Jones
Entre as orelhas. Histórias de Parto - Ricardo Jones

Nessa loja virtual tem vários outros títulos interessantes e que valem muito a pena!

Existem depois um sem fim de blogs, artigos, páginas... Cabe a você decidir quão fundo você quer ir nesse novo mundo da maternidade ou da felicidade :)



Você pode ter estranhado eu não ter falado do lado "bom" disso tudo, mas minha intenção neste texto não foi essa. Até porque eu não considero todas essas coisas "ruins". Sou grata por cada momento e situação que passei pois foram oportunidades únicas de aprendizado que eu jamais teria se não fosse mãe <3  E também porque não sou muito boa em dizer sobre o indizível e o infinito...
Confiscado ;)





segunda-feira, 11 de maio de 2015

sobre criar filhos

Hoje é dia das mães.
Mas este não será um texto homenagem às mães. Não que elas não mereçam, mas é que venho percebendo a algum tempo uma dificuldade geral em criar filhos, principalmente no quesito compreensão mútua e paciência. A começar pela minha.
E ontem numa conversa entre amigas mencionei um livro que me ajudou e fiquei de passar mais detalhes para elas depois. Mas achei que talvez fosse melhor escrever algo um pouco mais aprofundado.

Ainda grávida, minha doula me emprestou um livro muito interessante e que foi o princípio da minha mudança na maneira de ver os bebês e crianças.
O livro se chama Besame mucho - Como criar seus filhos com amor, do pediatra espanhol Carlos Gonzalez. Eu até hoje não achei ele para comprar, então só consegui terminar de lê-lo por um pdf que achei na internet (quem quiser me escreve que eu envio). Mas se você procurar pelo nome do autor vai encontrar vários textos dele bastante interessantes.
Para mim foi um mundo novo que se abriu. Coisas como: não pega seu bebê muito no colo senão vai acostumar mal, não pode dormir junto com os pais porque senão vai ser assim pra sempre, tem que desmamar logo porque senão vai ficando pior... tem que deixar chorar um pouco pra não ficar cheio de vontade, entre outros mitos do mesmo estilo foram caindo por terra.
Neste post do blog Potencial Gestante tem um link para download do livro em espanhol se alguém quiser se aventurar.
Um pouco depois conheci a Cientista que Virou Mãe e seu post incrível sobre deixar bebês chorando, clique aqui.  Sobre o uso da chupeta. Entre outros autores sobre ignorar as birras. Sobre o "terrible two".
Depois disso surgiu a Criação com Apego, amamentação em livre demanda, cama compartilhada, sling, e um mundo sem fim de informações e transformações que foram ocorrendo.

Mas esse foi o caminho que eu trilhei, porque eu ia tendo dúvidas, dificuldades, e fazia o que sempre soube fazer. Ia pesquisar e ver as possibilidades de se resolver o problema. Graças a Deus nem todo mundo é assim, e por um tempo eu sofri até aceitar isso. Eu lia um mundaréu de coisas e queria que as outras mães também lessem, pelo potencial transformador dessas informações.
Porém, a transformação é uma porta que só se abre por dentro. E me conscientizei de que não havia chance de eu colocar nada na cabeça de ninguém, e que da mesma maneira eu encontrei essas informações, caso alguém sentisse necessidade de mudar também daria um jeito de encontrá-las ou de encontrar algo que fizesse sentido para cada um.

Conforme o Dudu foi crescendo, outras dificuldades foram surgindo. Suas vontades foram aparecendo, sua curiosidade, e de repente me vi em apuros e gritando com ele. Fiquei transtornada... não era isso que eu queria!! Eu tinha lido e estudado tanto, como que não conseguia colocar em prática?
Primeiro veio a compreensão do que se movimentava dentro de mim.
Depois, eu sendo absolutamente e totalmente contra qualquer tipo de violência contra crianças (incluindo gritos e rótulos), comecei a reconhecer o meu lado que precisava de ajuda. Então muitos textos me ajudaram na época. Esse aqui sobre palmadas da Cientista que virou mãe é um. Este outro da Luzinete. O Livro da Maternagem também é bastante elucidativo. E por fim o livro da Lígia:  Educar sem violência - criando filhos sem palmadas.

Compreender o que meu filho tenta expressar quando faz uma birra é uma experiência fantástica desde que eu aprendi a olhar além da relação de poder (eu mando, você obedece), desde que aprendi a perceber sua necessidade, desde que aprendi a ouvi-lo e a ajudá-lo a se expressar de outra maneira.

Não foi fácil, não é fácil. Ainda tenho imensa dificuldade em inúmeros aspectos. Mas depois disso meu maternar tem sido muito mais tranquilo, prazeroso e com menos remorço.
Para mim o crucial foi entender o que acontecia com ele, de acordo com sua fase de desenvolvimento, e muito mais o que acontecia comigo.
Para isso, recomendo Laura Gutman e seu livro: Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra.

Por isso brinco que a maternidade foi um catalizador das mudanças em mim. Sempre me lembro da explicação clássica do que é um catalizador numa reação química: uma substância que acelera potencialmente uma reação mas que ao final é liberado da mesma maneira que entrou. Ou seja, ele não é transformado, mas sem ele a reação poderia inclusive nunca acontecer.
Assim eu vejo a maternidade: um melhorador de alma, um catalizador do amor, desde que nos entreguemos a ela e permitamos nos ouvir, compreender, amar. Porque não tem força mais poderosa nesse mundo que a do exemplo: se eu não quero que meu filho grite, eu não vou gritar com ele. Se eu não quero que ele bata, eu não vou bater nele. Se eu quero que ele seja compreensivo, tenho que primeiro compreende-lo. E por aí vai... ao infinito e além :)

Outros links úteis:
Criação com apego
http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/08/criacao-com-apego-verdades-mentiras.html
http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/02/attachment-parenting-criacao-com-apego.html
http://paizinhovirgula.com/
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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Onde se perdeu?

O Dudu fez 3 anos dias atrás. E misteriosamente, algumas coisas se resolvem dentro de mim neste período...
Dessa vez surgiu uma pergunta, referente a certos fatos que demorei a admitir, aceitar, compreender.
Durante boa parte da minha vida eu me senti desconectada de mim mesma. Nunca conseguia discernir muito bem o que dizia minha voz interior. Sempre haviam infinitas perguntas e pouco espaço silencioso para as respostas surgirem. Com isso minha mente se alimentava de perguntas e mais perguntas.
Mas em alguns momentos eu comecei a perceber que simplesmente sentia o que era preciso fazer e ia lá e fazia. Quando decidi não imendar um doutorado foi assim, e o mesmo quando decidi ir para Portugal fazer woofing e conhecer o Júnior. Parecia loucura, havia alguns riscos, mas incrivelmente eu não sentia medo nenhum ou dúvida alguma sobre o que deveria fazer. E tudo corria muito bem.
Exceto no aspecto profissional, mas isso é outro assunto.
Quando engravidei e minha colega de trabalho me emprestou o livro do Ric Jones - Memórias do Homem de Vidro, eu voltei a sentir uma dessas certezas. Ao terminar o livro eu tinha total e absoluta certeza no meu coração que eu queria que o Dudu nascesse em casa. Não queria ter que ir para o hospital. Eu sabia que assim as coisas não iriam correr bem. Me conhecia o suficiente para saber minhas necessidades.
Mas as pessoas ao meu redor não. Então comecei uma "batalha". Primeiro para convencer meu esposo de que eu precisava de uma doula nesse momento. Ele concordou, entrevistamos várias mulheres e encontramos a nossa. Agora eu precisava mostrar a ele porque eu queria ter nosso filho em casa. Eu virei a "maluca" do parto. Mandava-lhe vídeos, textos, conversei com um enfermeiro obstetra, assistimos documentários, inúmeros vídeos de parto. Contei-lhe do meu medo e ir para o hospital. Mas ele disse que não se sentia seguro para que nosso filho nascesse em casa. Preferia que eu fosse para o hospital.
Meu medo só aumentava, junto com a minha barriga. Me lembro de uma vez em que chorei desesperadamente ao falar com meus pais pelo skype explicando-lhes também que eu não queria ir ao hospital para ter o Dudu. Eles concordavam com o Júnior e me senti desamparada e incompreendida. Até quando comentei com a nossa doula que gostaria muito de um parto domiciliar, ao qual ela disse que havia conversado com o Ricardo Jones e que ele havia recomendado um parto hospitalar devido a um problema de tireóide que tenho. O problema em si não exclui a possibilidade de parto domiciliar, o porém seria se eu tivesse alguma complicação e a repercussão que isso poderia ter.
Não me convenceu, só serviu para me sentir ainda mais incompreendida e desamparada.
O resultado eu já contei aqui no meu relato de parto.

Por esses dias então andei pensando: onde estava a menina que ouvia seu coração e cruzava o oceano rumo ao desconhecido?
Eu não tinha confiança suficiente para sustentar minha escolha naquele momento.
Não me "empoderei", por me sentir sozinha, incompreendida, desamparada. Por eu mesma duvidar da minha capacidade de parir.
Junto a isso, eu cedi conscientemente aos desejos alheios por pensar que talvez estivesse sendo intolerante ao querer que fosse feita somente a minha vontade.
Ao tentar (forçosamente) superar esse meu medo, ao não encontrar forças para isso, eu inconscientemente me desconectei.
Me lembro de passada as 41 semanas de gestação, minha doula perguntar se eu estava com medo de alguma coisa, e eu responder que não, que estava tudo bem.
MENTIRA: eu tava morrendo de medo de ir parir no hospital. Eu não queria aquilo! Mesmo sabendo que esse meu medo era pior, pois acabaria tendo que ter o parto induzido, eu não conseguia lidar com isso. Mas eu não conseguia verbalizar isso. Todo o processo até ali já tinha me deixado tão triste, e aflita. Era o momento mais importante da minha vida. E eu não consegui sustentar a minha escolha. Me permiti ser refém dos desejos alheios.

De novo eu me pergunto: onde se perdeu a menina super confiante?

Ainda não encontrei resposta para isso, mas questionar-se é o primeiro passo. Agora é questão de tempo.
Reconhecer que essa voz se perde em alguns momentos é como um insight. Hoje aprendo diariamente como fortalecer, como reconhecer, como buscar, como encontrá-la.
Só assim será possível ser fiel a própria alma.

Confiscado.


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Gratidão ao universo

Tem uma coisa borbulhando dentro de mim e eu senti que a única maneira de trazer isso para o concreto era escrever um post!
E essa coisa borbulhando se chama GRATIDÃO!
Eu não sei explicar, eu apenas sinto.
Estou passando por um momento complicado em vários aspectos da minha vida. Se eu te contasse metade você diria que eu estaria maluca por sentir gratidão.
Mas além da gratidão, eu te conto que sinto outra coisa, uma coisa que sempre me foi muito difícil para sentir, e que por acaso ontem, eu estava a um fio de perdê-la, que é a FÉ.
Fé de que as coisas vão dar certo, fé de que eu e todos os seres do planeta somos merecedores de alegria, amor, saúde, paz, prosperidade, felicidade!
Essa constatação, ou esse insight veio se construindo em mim a vida inteira.
Me senti como diz o Jung neste post em que transcrevi um trecho de seu livro.
"A coisa mais importante é o aqui e o agora. Este é o momento eterno, e se não o percebes, perdeste a melhor parte da vida, perdeste a percepção de que és portador de uma vida contida entre os pólos de um futuro inimaginável e de um inimaginável e remoto passado. Milhões de anos e incontáveis milhões de antepassados trabalharam para este momento, e tu és o cumprimento deste momento."
 Eu acho que não estou conseguindo transmitir o tamanho da minha alegria ao perceber estes sentimentos, ou talvez seja apenas um pico da minha bipolaridade hahahahaha. (não, até onde eu sei não sou bipolar) :P

Poderia escrever um livro descrevendo onde percebo todos os pontos da minha vida se conectando.
Me vem a imagem que vi na TEDx talk do Augusto de Franco que participei.


Mas para você ter uma noção mais clara do que quero dizer, assista (de novo para alguns) esse vídeo do Steve Jobs.


Engraçado como assistir de novo depois de alguns anos faz bem pois mudamos o foco do que nos chama a atenção.

Mas gostaria de partilhar com vocês duas coisas que me despertaram hoje: fazer o minicurso GRÁTIS da Melodia Moreno: "Como ganhar dinheiro online ensinando o que você sabe e ajudando outras pessoas". Então se você ficou curioso, corre no site clicando aqui que ainda está disponível!
A outra foi o Satsang do Sri Prem Baba que você pode ler aqui.
Eu não faço ideia de quem esse Sr. seja, mas eu me identifico muito com pequenas publicações que ele faz no seu facebook com o nome de Flor do Dia. A de ontem me chamou particularmente a atenção e resolvi fazer uma coisa que nunca fazia "por falta de tempo", que foi ler o Satsang completo.
E então tive essa epifania, que não podia deixar de confiscá-la aqui.
Tanto que nem consegui terminar de lê-lo. Tive que seguir meus instintos e parar para escrever esse post. E parei justamente quando li e reli essa frase e não conseguia prosseguir. Foi quando resolvi dar voz para minha intuição e parir esse post :)
"Parece que o principal aspecto da humanidade é a capacidade de se doar, é a capacidade de criar união, de colocar o amor em movimento através dos dons e talentos. E do humano podemos evoluir para o estado divino, podemos, em algum momento, ser canais da perfeição divina, que é quando transcendemos a consciência humana e nos identificamos com a consciência crística, com a consciência búdica. É quando reconhecemos a nossa natureza crística, a nossa natureza búdica; quando reconhecemos que somos esse princípio de vida única, por trás da ideia de que somos um nome, de que somos nossa história, de que somos um corpo, de que somos um ego. Ou seja, quando encontramos a unidade dentro da multiplicidade."
E para finalizar, mais um dos pontos da minha vida! Confiscado :)


sábado, 11 de abril de 2015

Sobre listas e insight.

Eu adoro listas, me ajudam a lembrar das coisas e me manter no caminho que me proponho. Quando li isso, ao mesmo tempo tive um insight sobre uma coisa que me incomodava: o tempo perdido nas redes sociais.  Vejam como tudo se conecta lindamente :)

Retirado do livro: O Vazio Luminoso - Para entender o clássico Livro tibetano dos mortos.
Por Francesca Fremantle. Pg 308 e 309.

"Os "quatro pensamentos que transformam a mente" ou "quatro lembretes" é um ensinamento mahayana sobre o qual se medita repetidamente com o mesmo propósito. O primeiro pensamento é a contemplação do valor da vida humana. Considerando todas as formas de vida possíveis nos seis reinos do samsara, é extremamente raro nascer como um ser humano, e ainda mais raro nascer em um lugar e um tempo onde a pessoa tenha a oportunidade de ouvir e praticar o dharma. O segundo pensamento é a contemplação da impermanência. Tudo está mudando incessantemente e desaparecendo; não sabemos quando a morte vem, somente que ela é certa. O terceiro pensamento é a contemplação do karma, a inevitabilidade de causa e efeito. O que quer que pensemos, digamos ou façamos coloca em movimento uma cadeia de consequências da qual não podemos escapar, seja nesta vida ou na próxima. O quarto pensamento é a contemplação das falhas do samsara e o sofrimento inerente na situação. Olhando para a origem do sofrimento reconhecemos que ele brota da ganância, do ódio e da ilusão do ego, agarrado à existência individual.
Estranho como possa parecer, embora o ego apegado seja realmente nada a não ser causa de tristeza, é extremamente difícil abandoná-lo.
(...)
Mas iluminação significa a morte do ego; a pessoa que se tornar iluminada não estará mais lá.
(...)
Se nunca compreendemos a verdade da impermanência ou praticamos desapego, quando a morte chega, agarramo-nos desesperadamente à nossa antiga vida. Se não tivermos confiança na bondade básica de nossa mente, seremos incapazes de abandonarmos no espaço aberto. Se não tivermos olhado além da superfície da consciência, não reconheceremos a natureza luminosa da mente quando ela for revelada."

E por morte, eu entendo a finalização de ciclos, de relacionamentos, de momentos, de prazeres, e até de dores.
Lendo tudo isso, ainda tive um insight fazendo um paralelo sobre as informações que circulam nas redes sociais e o pensar incessante. Muitas vezes já me peguei num ciclo sem conseguir sair do facebook por exemplo... e outras fiquei viajando em algum assunto e não consegui produzir nada. É difícil quebrar ambos os ciclos, pois vive-se uma ilusão. Mas é necessário perceber e sentir que a vida está além disso tudo, porque racionalmente, já sabemos disso, mas é preciso que isso seja transmutado em atitude para a mudança ocorrer.

Apreendido! Ou desapegado? :)

domingo, 15 de março de 2015

a coragem de ser quem sou

Quando começo a compreender alguma coisa dentro de mim, surge essa necessidade de deixar registrado aqui, pois imagino que possa ajudar outras pessoas a se entenderem como muitos textos me ajudaram a chegar até aqui.
Essa semana, duas coisa me marcaram. 
Uma percebi logo o motivo. Este texto aqui fala justamente da mudança interna que algumas mulheres vivem depois da maternidade. 
Selecionei um trecho que me identifiquei:
"Dá uma vontade imensa de se redescobrir e reinventar. A maioria muda o cabelo. Mas há aquelas que mergulham em águas mais profundas e descobrem uma força e uma capacidade sem limites que nem imaginavam possuir. Essas mulheres esvaziam gavetas, jogam fora caixas e viram suas vidas de ponta cabeça, buscando um sentido maior, um amor que seja tão grande, um trabalho tão cheio de significado e realização. A maternidade traz coragem."
Outra coisa foi esta foto abaixo, que eu já havia visto em outras ocasiões, achei engraçado e dessa vez ficou aparecendo na minha timeline do facebook e eu não entendi muito bem. Mas hoje a noite ela me fez sentido.

Fazendo um retrospecto, observei que nos únicos dois momentos dos meus 30 anos que deixei de ouvir meu coração, coisas bem dolorosas me aconteceram. Uma delas foi quando aceitei que o Dudu nascesse num hospital, ignorando completamente meus instintos, e o resultado já escrevi aqui no blog. 
A outra, foi quando aceitei deixar o Dudu em uma creche, novamente, indo contra os meus instintos, e o resultado também foi muito doloroso, conforme contei aqui

Então, chega um determinado momento, que plim plim, as fichas caem, você percebe que a vida é muito curta e frágil, como cantou Nando Reis.
"Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama" - Por onde andei - Nando Reis

E que já chega de ignorar seu coração.
Só que como tudo na vida, ouvir seu coração tem consequências. A primeira delas é você ser incompreendido (pelos outros), e consequentemente, julgado. Tribunal de causas realmente pequenas, como cantou Pato Fu.
"Você pensa que faz o que quer
Não faz
E que quer fazer o que faz
Não quer..."
 Tá sonoro o post né? :)

E é aqui que entra a dona coruja com a coragem junto com a dona maternidade. Coragem de mudar, de encarar as consequências, mesmo sabendo que se olhar por um outro lado, também vai haver dor, e que provavelmente há uma dor que vai durar para sempre. Assim pude entender um pouco do que a Elizabeth Gilbert contou no seu livro.
Mas o processo não foi assim: acordei com coragem, vou mudar minha vida.
Só hoje, alguns meses depois é que enxergo a coragem, ou seria o tal empoderamento? Até agora me senti e sinto guiada pelo meu coração e por uma força maior. Pois não há uma explicação lógica, muitas pessoas não compreendem. E como já falei num outro post, é mesmo difícil que as pessoas nos compreendam.
Isso me lembrou uma foto que vi também pela minha timeline do facebook, daqui.


Acho que esse deve ser um curso extremamente interessante e fiquei muito curiosa para entender a proposta e o processo. Pois considero muito difícil se colocar no lugar do outro em alguns casos. Coisas que não significam nada para mim podem ser de suprema importância para o outro e nem sempre é fácil perceber isso.

Mas voltando a coragem e maternidade. Toda a mudança que fiz na minha vida recentemente foi para seguir um instinto materno. Foi para encontrar um trabalho que me permite a liberdade de cuidar do meu filho quando ele está doente. Que me permite acompanhar de perto seu crescimento, sua educação, sem delegar isso para outras pessoas ou instituições que não a família.
Abri mão de inúmeras coisas, e também de coisas que não são coisas, e que fazem uma falta imensa. Mas não conseguiria viver em paz comigo mesma se não ouvisse dessa vez o meu coração.
Seria isso egoísmo? Ou seria amor-próprio? E me lembro da frase de Jesus: "Amai ao próximo como a ti mesmo"  e penso: como poderia amar alguém plenamente se não me amo respeitando meus próprios instintos? Se não me amo seguindo o que meu coração diz.
Com isso me lembro uma conversa que tive uma vez com minha terapeuta, muitos anos atrás. Na hora que ela me falou, o argumento fez todo sentido. Mas depois não conseguia me lembrar do argumento. Era porque não tinha encontrado a resposta por mim mesma. Eu me questionava sobre a necessidade de fazer um trabalho voluntário como forma de me aprimorar moralmente e ajudar as pessoas. Ela disse que eu poderia fazer, mas que a melhor forma de ajudar as pessoas era primeiramente me melhorando, investindo tempo em mim, no meu auto-conhecimento, pois esse movimento acende um ponto de luz na rede cósmica e traz um bem muito maior e mais amplo do que centenas de horas de trabalho voluntário. Somente através da força indomável do exemplo, é que mudanças profundas e verdadeiras vão surgir. Inconscientemente, o sentido dessa conversa ficou gravado em mim e agora tudo se encaixa.
Só posso educar o Dudu através do exemplo. E lembrando um texto que o Júnior me mostrou antes de nos encontrarmos, é esse exemplo que quero poder ensinar... filho, ouça o seu coração. Eu estarei sempre ao seu lado.

"Os homens têm medo de realizar seus maiores sonhos porque acham que não o merecem, ou não vão conseguir!
Mas o medo não é uma coisa concreta. Ele está em seus corações!!
Os corações morrem de medo só de pensar em amores que partiram para sempre... Em momentos que poderiam ter sido bons e não foram...
Quando isso acontece, acabamos sofrendo muito e o coração tem medo de sofrer.
Mas o medo é pior que o próprio sofrimento.
Nenhum coração jamais sofreu quando foi em busca de seus sonhos, porque cada momento de busca é um momento de vida, de energia, de encontro com Deus e com a eternidade.
Então... Ouça seu coração!
Ninguém consegue fugir dele.
Por isso, é melhor escutar o que ele fala para que não venha um golpe que você não espera, porque você jamais vai conseguir mantê-lo calado.
Mesmo que finja não escutar o que ele diz, ele estará dentro do seu peito, repetindo o que pensa sobre a vida e o mundo...
O dia inteiro...
O tempo todo...
Ainda bem!
Por isso, ouça o seu coração!" Paulo Coelho

Faz tempo que escrevi esse post, provavelmente no final de 2014, mas não havia publicado. Hoje li uma coisa que me fez reler o post e decidi publicá-lo. O engraçado é que esse texto me lembrou de um outro, que também faz todo sentido... " Isso tem a ver com o quanto dois caminhos se aproximam ou se distanciam."
E por enquanto, é assim que minha vida segue apreendida por essas reflexões todas, pela coragem de rumar ao desconhecido, mas com o coração tranquilo, em saber que estou sendo fiel ao meu chamado, ou a minha bem aventurança.
E a música que marca essa época: Concrete Bed - Nada Surf
"To find someone you love, you gotta be someone you love."