quinta-feira, 27 de junho de 2013

sobre partos e escolhas

Hoje vi uma foto que "completou o copo" para que eu resolvesse escrever sobre isso.
Era a foto de um bebê nascido por cesariana. Vi no semblante dos pais a alegria por aquele momento. 
Mas a foto em si me entristeceu. Fiquei confusa e me sentindo mal. Eu deveria estar feliz pelo nascimento!
Talvez tenha ficado triste por lembrar do sentimento que tive quando depois de míseras 10 horas de trabalho de parto, o médico que me atendia me mandou para cirurgia. Chorei por dentro, fiquei nervosa, me senti desamparada, violentada, no que deveria ser o momento mais lindo da minha vida.
Mas esse não era o caso da foto, pois a cesárea em questão havia sido agendada.

Sei que corro o risco de ser mal intrepretada aqui, mas espero que minhas palavras não me traiam e que eu consiga dizer o que preciso

Acredito que toda mulher tem medo do parto. Óbvio que não poderia ser diferente. O parto é um rito de passagem, dos mais marcantes na vida de uma mulher, e ritos de passagem trazem esse sentimento, misto de medo, anseio, coragem, fé.
Nas palavras de Robbie Davis Floyd:

"Um ritual é a representação padronizada, repetitiva e simbólica de uma crença ou valor cultural; seu objetivo principal é alinhar o sistema de crenças do indivíduo com o da sociedade. Um rito de passagem é uma série de rituais que mobiliza os indivíduos de um estado ou status social para outro, como, por exemplo, da juventude para a fase adulta, ou do desconhecido para o mundo da cultura. Os ritos de passagem transformam tanto a percepção que a sociedade tem dos seus indivíduos como a que os indivíduos têm a respeito de si mesmos."
E como este rito de passagem pode ter algum significado na vida de uma mulher?
Ainda citando a mesma autora:
"O ritual é, acima de tudo, simbólico. Ë através de mensagens em forma de símbolos que o ritual opera para aqueles que o executam e para os que o observam. Um símbolo é um objeto, uma idéia ou ação que é carregada de significado cultural. O hemisfério esquerdo do cérebro humano decodifica e analisa as mensagens verbais, possibilitando ao receptador aceitar ou rejeitar seu conteúdo. Por outro lado, os símbolos ritualísticos complexos são percebidos pelo hemisfério direito do cérebro, onde são interpretados holisticamente. Em vez de ser analisada intelectualmente, a mensagem do símbolo será sentida através do corpo e das emoções. Assim é que, apesar de que os receptadores possam não perceber a incorporação da mensagem simbólica, seu efeito definitivo pode ser extremamente poderoso."
E como lidamos com esse poder dos símbolos e dos rituais sobre a mulher, o parto e o nascimento?
Temos consciência da complexidade que envolve este momento, este rito, essa transformação?
O que é preciso para tomarmos decisões conscientes a respeito do parto?
É aqui que quero chegar...
Antes de mais nada, a mulher e mãe precisa se sentir segura e saber que seu filho também estará em segurança.
Então, nós mulheres e mães, delegamos esse poder a outra pessoa.
Adivinhem quem?
Aos médicos, pois eles estudaram muito e sabem o que é melhor para nós, claro!
Mas que antes de tudo são humanos, pessoas comuns, que apesar de terem jurado fazer o melhor pelos seus pacientes, nem sempre é isso que acontece.

Quantas mulheres você conhece que optaram por uma cesárea por indicação médica?
E digo optaram, porque é realmente uma opção da mulher. Ela assume a responsabilidade por essa escolha, respaldada pela "indicação" médica.
Mas será que esse médico(a), realmente passou TODAS as informações para essa mulher? Pensem um pouquinho...

Porém, e essa deveria ser a primeira pergunta, pergunte a essa mulher que tipo de parto ela deseja.
Normal ou cesárea?
De acordo com uma pesquisa divulgada por este blog, a maioria das mulheres preferiria ter um parto normal, e apenas 15,6% escolheriam a cesariana.
Então por que isso não acontece aqui no Brasil, o país da cesárea (na rede particular o índice chega a quase 100% de cirurgias para que um bebê venha ao mundo)?

Eu arrisco duas hipóteses:
1) Os médicos não fazem seu trabalho como deveriam. Preferem agendar cirugias, garantir uma boa grana, e continuar o dia no consultório tranquilamente.
2) Nós mulheres estamos acomodadas, acreditamos em tudo que o médico diz e não procuramos mais informações sobre as nossas escolhas.

Mas isso é a minha opinião, e não estou aqui para criticar os médicos, ou o sistema (ainda mais complexo).
Quero apenas mostrar que nós somos as responsáveis por nossas escolhas.

Você quer um parto normal?
Procurando da forma mais simples no google, olha o site que vai aparecer: http://www.euqueropartonormal.com.br
Lá tem várias informações para você tirar todas as suas dúvidas. Simples, básico, não dá trabalho nenhum.

O problema é assumir a escolha e enfrentar o desconhecido, ser do contra, nadar sozinha contra a correnteza!

Eu já disse várias vezes e em várias situações que muitas vezes a ignorância é uma benção. Esses dias eu li no "Cientista que virou mãe" uma coisa com que me identifiquei. Nas palavras dela:
"Acontece comigo uma coisa que não sei se acontece com você: eu não consigo ler um livro ou assistir a um documentário que fale de aspectos fundamentais sobre os seres humanos, sociedade, mundo e, depois, simplesmente, fechar e tocar a vida, ou levantar e ir embora, como se nada fosse, como se nada houvesse, como se eu não tivesse sido exposta àquelas informações...
Não dá para continuar a ser quem se era ou a viver o que se vivia depois de conhecer o outro lado da moeda. Quer dizer... Até dá. Tanta gente consegue, não é? Mas acontece que eu nasci com defeito, nasci desregulada. Quando passo a conhecer algo que me mostra como minha vida anda torta e como ela pode ser melhor, preciso fazer algo a respeito. Esse defeitinho piorou depois que me tornei mãe. Não consigo viver bem sabendo que existe uma possibilidade melhor para minha filha e que ela não a está vivendo por minha acomodação - claro, considerando nossa realidade, nossas possibilidades, nossos limites, nosso contexto, nossos valores."
 Por que disse que a ignorância é uma benção?
Quando eu não sei como as coisas são realmente, é sempre  uma justificativa, para não fazer ou não ter feito algo. Agimos de acordo com os recursos que temos no momento.
Mas quando tenho acesso a informação, e essa informação é contrária/divergente do que eu achava que era, eu fico maluca. Mergulho de cabeça no assunto até entender melhor e poder tomar uma posição. O detalhe é que essa tomada de posição perante a minha própria vida, na maioria das vezes requer uma grande mudança. De paradigmas, de atitudes, de busca.
Quando eu decido mudar, ok, está tranquilo para mim. O mais difícil é o nadar contra a correnteza. Foi assim quando decidi parar de comer carne, e é assim com essa questão do parto.

E por que afinal eu estou falando de ignorância?
Porque quando as mulheres ignoram informações, ignoram seus desejos, ignoram suas buscas, ignoram seus sonhos, e de certa forma, ignoram o bem estar do seu filho.
Mas como, toda mãe quer o bem para o seu filho!!
É verdade, mas como se explica então o alto número de complicações respiratórias em recém nascidos através de uma cirurgia abdominal de grande porte (sim, isso é o que é a cesárea)?
O que vem a seguir à escolha, e suas consequências, ainda é responsabilidade da mulher, por mais que ela ache que não. Mas é, e não serei simplista ao mencionar apenas a gestante que confia num sistema que deveria promover a saúde. Entretanto, isso é outro assunto.
Só não vamos confundir responsabilidade com culpa.
Mas o médico disse que preciso fazer cesárea porque meu filho está sentado, tem mecônio, tem o cordão enrolado, ou porque eu sou pequena e o bebê não vai passar, ou porque a placenta está velha, ou porque eu já tive uma cesárea antes... enfim, uma lista razoável de desculpas.

Então, chega de ignorar o desconhecido. Você provavelmente vai comprar uma grande briga... mas afinal, quanto vale o seu desejo? Quais as consequências da sua decisão? Os riscos? Cesáreas são mais arriscadas que parto normal, cientificamente comprovado, você sabia?
Existe uma coisa que se chama Medicina Baseada em Evidências.
Sim, nem sempre os médicos agem baseado em evidências científicas, e sim em protocolos, comodidades, dinheiro.

E hoje, depois do sentimento triste que uma foto me trouxe, confisquei o sentimento e transformei nesse post. Que cada vez mais, mais gestantes possam ser bem informadas pelos seus médicos, sobre TUDO que envolva gravidez e parto, mas acima de tudo, que recebam informações corretas, que visem o bem estar da mãe e do bebê. Para que dessa forma tenham plena consciência da situação e possam fazer suas escolhas.
É isso que tem que ser apreendido.

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