Descobri Jorge de Lima...
O Leandro me apresentou, ontem peguei uma seleção de poesias, feita por José Fernando Carneiro (Apresentação de Jorge de Lima), para ler.
Selecionei um fragmento de uma poesia que gostei.
De: Invencção de Orfeu - Jorge de Lima
II
A ilha ninguém achou
porque todos a sabíamos.
Mesmo nos olhos havia
Uma clara geografia.
Mesmo nesse fim de mar
qualquer ilha se encontrava,
mesmo sem mar e sem fim,
mesmo sem terra e sem mim
Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmo sem vagas e areias,
há sempre um copo de mar
para um homem navegar.
Nem achada e nem não vista
nem descrita e nem viagem,
há aventuras de partidas
porém nunca acontecidas.
Chegados nunca chegamos
eu e a ilha movediça.
Móvel terra, céu incerto,
mundo jamais descoberto.
Indícios de canibais,
sinais do céu e sargaços,
aqui um mundo escondido
geme num búzio perdido.
Rosa de ventos na testa,
maré rasa, aljôfre, pérolas,
domingos de pascoelas.
E esse veleiro sem velas!
Afinal: ilha de praias.
Quereis outros achamentos
além dessas ventanias
tão tristes, tão alegrias?
a estrofe: "há sempre um copo de mar para um homem navegar", me trás um tipo de alívio.
Uma espécie de garantia, de que as coisas são infinitas o suficiente, para que possamos conhecê-las.
O que não é infinito entretanto, é a nossa capacidade de se agarrar a isso, de admirar as entrelinhas, de sentir a dor e angústia, e depois a alegria e a fé, na vida.
É preciso dispender muita energia para sair da inércia, bem como para manter as coisas organizadas... leis da física e da biologia.
Um comentário:
Há sempre um copo no bar pra gente viajar.
:o)
Bjs
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