Então, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:
dicotomia
(grego dikhotomía, divisão em dois)
s. f.
1. Divisão em dois; oposição entre duas coisas.
2. Partilha ilícita de honorários entre médicos.
3. [Astronomia ] Fase da Lua, ou de outro planeta ou satélite, quando é visível com uma metade iluminada.
4. [Botânica ] Modo de divisão de certas hastes em ramos bifurcados.
5. [Lógica ] Divisão de um conceito em dois outros que abrangem toda a sua extensão.
Enfim, no seu discurso, o tal rapaz queria mostrar o abismo que havia entre duas coisas. Que aparentemente não pareciam tão separadas assim. Ou pelo menos que eu me lembre.
E hoje de manhã acordei com essa palavra na cabeça. E resolvi escrever, porque as vezes a dicotomia vem de onde menos esperamos. Como uma cobra sorrateira. E de repente acordamos e percebemos ela lá. Pimba! Como dizem em Portugal.
E é aí que entra a tolerância. Como lidar com visões de mundo tão distintas?! Não dá para bater de frente, tentar convencer o outro, mesmo que você tenha provas científicas muito bem embasadas. E por que? Porque depende primeiro de tudo, da disponibilidade do outro. Disponibilidade em perceber, aceitar, deixar o ego de lado, se entregar a compreensão. Sempre gostei dessa palavra. Compreensão. Porque pressupõe algo maior do que simplesmente entender. Me lembro, de um dos marcos de minha adolescência, um dos filmes "Karatê Kid", em que o Sr. Miagui olha para o Daniel San e diz: Compreende? Porque o que ele estava tentando explicar ali não precisava de palavras. Precisava do coração. Compreender é entender com o coração. E aqui nem adianta colocar a definição do dicionário porque ela é muito restrita. Compreender é subjetivo. Requer complexidade, empatia.
Nem sempre compreensão significa ceder. Mas ela já dá uma outra luz na situação. Daquelas que iluminam um pedaço da nossa sombra. E de repente tudo fica mais fácil...
Se em um lado entra tolerância, de outro, a dicotomia também envolve intolerância, e minha nossa, como isso me tira do sério. Tanto a minha intolerância (quando a reconheço) quanto a intolerância irreconhecida, ou negada.
Mas mesmo negada a intolerância é tão gritante, que reconheço porque dói em mim. Daquela história de que o que mais nos irrita no outro é o que não queremos ver em nós mesmos.
A dicotomia não permite o apoio na discordância. Porque ela parte do princípio do abismo, e se pontes de tolerância não são construídas, o apoio não tem por onde caminhar.
Talvez seja por isso que eu goste de pontes. O difícil é fazer os dois lados se encontrarem no meio.
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