terça-feira, 10 de dezembro de 2013

a reflexão dos 30

Começei a escrever isso em 29/10, e mais outras coisas até chegar o tal dia dos 30. Mas esse primeiro foi o mais perto que cheguei dos sentimentos e emoções que os "30" me trouxeram.

A reflexão dos 30.
Começo pelo passado. Uma das primeiras coisas que me veio em mente foram os meus 15 anos e um livro que li “Meus vários 15 anos”.
Aos 15, sonhava com uma festa “tradicional”, com vestidos deslumbrantes, jantar e valsa. Num típico delírio consumista deslumbrante. Mas ao mesmo tempo, meu lado “do contra” trocou a festa por um cavalo. E isso foi determinante. Aos 15, ganhei algo que mudou e determinou uma boa parte da minha vida. Iceberg, um cavalo meio sangue quarto de milha que me desafiou em inúmeros aspectos, e que hoje me provoca um misto de vergonha e agradecimento. Vergonha pois foi nesta época que achei que violência, com animais, resolveria alguma coisa. Vergonha por hoje perceber que o cavalo era um objeto que eu utilizava para descarregar minhas frustrações. Vergonha por ter demorado a perceber que mesmo eu batendo ou tentando “ensinar” alguma coisa a ele, isso não aliviava minhas frustrações. Vergonha por ter tentado ser uma boa amazona por tantos anos e não ter conseguido. Vergonha por inúmeras outras coisas que vivi com os cavalos e seu “meio moderno”.
Agradecimento por tudo que aprendi. Pelos dias que chorei por não ter conseguido. Pelas provas que perdi, pelas competições que participei, que tiveram um papel importantíssimo na aproximação de meu pai. Pelos lugares que conheci, pelas pequenas provas que fui tendo ao longo do caminho de que é possível fazer as coisas com animais sem usar a violência e que culminaram com a minha opção de me tornar vegetariana e aos poucos ir adquirindo o respeito à vida.
Ah, a violência. Em suas inúmeras formas de expressão. Que hoje através da maternidade tem mexido tanto comigo. Violência e exploração animal, violência infantil, o que há de comum? Em ambos os casos, é violência contra um ser que não consegue expressar seus desejos de uma maneira clara para nós “adultos civilizados (?!)”. Um ser que nem sempre obedece nossas vontades e nós, na nossa megalomania do ego, achamos que deveriam ter praticamente força de lei, pois nós somos os adultos e temos o poder.
Aos 30, formada, com marido e filho, feminista recém descoberta, empreendedora tímida, contestadora, ou como diria minha mãe: procuradora de cabelo em ovo.
Na confusão dos 15, sonhava que com 30 tudo estaria resolvido ahahahahhahahahahhahahhaahahahaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
É engraçado e me deixa desesperada ao mesmo tempo. Contraditório, como sou em muitos aspectos.
Portadora de uma subjetividade que me engole, num emaranhado de possibilidades cada vez mais complexas. Até descobrir a complexidade de Edgar Morin e me sentir um pouco compreendida (por mim mesma, vejam bem).
Aos 30 posso assumir que dentro de mim, meu grande desejo “material” sempre foi o da maternidade. Por mais que eu tentasse ter um grande desejo na carreira profissional, como é o esperado nos dias de hoje: ser alguém bem sucedido, isso não me satisfez. Até que após o mestrado, com 25 anos, assumi que não sabia o que fazer da vida. Assumi minha dificuldade de me encontrar e prover o meu próprio sustento. Assumi minha incapacidade de abandonar o lar e cair no mundo na luta desenfreada da sobrevivência. Com uma faculdade e uma mestrado nas costas, fui fazer cookies e cupcakes e fazer bico em empresa de decoração de casamento. No meio tempo conheci meu futuro marido, que morava em Portugal. Portugal?! Nunca pensei em ir a Portugal. O mais perto que cheguei foi o clube Português e o tradicional bacalhau. Pensei em voluntariado, o sangue sagitariano bateu forte e rumei além mar. Para mais uma vez me descobrir incapaz. Descobrir e sozinha criar coragem para assumir o fracasso e a necessidade de uma vida menos aventureira ou mais confortável. Meu outro sonho de cair no mundo fazendo voluntariado foi se embora no Montijo, a beira do Tejo.
Mais uma vez tive que me reinventar e dessa vez, buscando começar minha própria família, fui contra meus instintos, numa tentativa de me enquadrar no padrão da sociedade cuja pressão eu sentia como: tens que trabalhar e ganhar dinheiro. Fiz o que eu sabia fazer, fui estudar. É o que faço melhor, não tenho grandes dificuldades, vou ter um salário e essa parte vai ficar tranquila para eu poder cuidar das outras. Eu estava imensamente feliz por ter encontrado meu esposo e aceitei profundamente agradecida a oportunidade de cursar um doutorado.
Veio a maternidade e desmoronou tudo que eu vinha tentando construir na tentativa de me enquadrar na sociedade. Ainda numa última tentativa, deixei meu filho numa creche, indo contra todos os meus instintos que bradavam vorazmente contra isso. Não funcionou. Me armei até os dentes e bati o pé: para a creche meu filho não volta.

Assumi, porque agora já nãe era só a mim que influenciava, era alguém que nutro profundo amor, alguém simbiótico, meu filho. Encarei os julgamentos alheios, a não concordância do meu esposo, e a perda da “independência financeira”. Eu precisava do meu filho e ele de mim. Era isso que eu sentia, claro! E a lucidez que de  tempos em tempos me visita bateu palmas de felicidade. “Ela conseguiu ouvir seu coração”, aleluia! Obrigada filho, por me dar forças no seu sofrimento, para que eu conseguisse tomar uma decisão.

Aos 30, me descubro feminista. Me descubro intolerante. Me descubro caminhante. Me descubro uma meia-ativista. Descubro que pequenas coisas que vão acontecendo ao longo dos anos tem um poder (que não lhes foi dado) de destruir coisas grandes. E que quando as percebemos destruidas, não sabemos dizer o que a destruiu. Não é como uma chuva forte que destelha uma casa. É como uma chuva mansa, que vai se infiltrando na terra e faz cair o barranco. E aí você olha e diz: mas estava chovendo tão fraquinho, como isso foi acontecer?
Fragmentos...
Aos 30, nunca imaginei tamanha revolução ou significado. Pela primeira vez me cantaram parabéns e não fiquei envergonhada. Estava inexplicavelmente a vontade. 
Esses dias, depois de assistir um vídeo (http://vimeo.com/66058153), ao ouvir a palavra “blessed”, foi como se uma porta tivesse se aberto. Me lembrei do texto que escrevi na aula de Public Speaking, onde falei sobre Joseph Campbell e sobre encontrar sua “bem aventurança” ou bliss. No auge da minha necessidade de encontrar uma...

Não sei onde foi parar o texto agora, talvez esteja perdido em alguma conta de e-mail ou em algum caderno jogado entre as mudanças que fiz. O fato é que tive um insight, ou pelo menos pareceu um: minha bliss é a maternidade. Isso é o que sempre quis! Pronto, assumi. Levei 30 anos para descobrir (?!). Talvez seja uma das minhas bliss, mas essa eu sinto do fundo do meu coração que é. Também assistindo um outro vídeo li a frase: “Maternidade: Uma ruptura existencial” o que também me fez muito sentido! Nada na minha vida até hoje foi tão revolucionário quanto a maternidade. Minha história com os cavalos foi determinante para muita coisa, e agora, 15 anos depois, uma nova etapa, uma nova revolução: a maternidade. Será que estou influenciada pelo livro “Meus vários 15 anos”? Ou será que esse período realmente tem algum significado nas fases que passamos?
E nesse meio tempo da maternidade, acreditem, várias ideias já passaram por essa cabeçinha. Doula, cake designer, empreendedora, um café-livraria-floricultura, jornalista científica, free lancer de textos científicos, e aos poucos fui identificando uma vontade de ser jornalista. De escrever as coisas que vem na minha cabeça. A escrita sempre foi uma via de mão dupla para mim. Ao mesmo tempo que morro de preguiça, outras vezes, escrever é a única solução para eu me entender e organizar meus pensamentos um pouco.
Infinitas possibilidades como sempre...
Passei o dia 6 trabalhando, fazendo e assando panetones, chocotones e cookies. Confeitando bolos e cupcakes. No dia seguinte iria participar da Feira do Empreendedorismo Materno. Que significativo! 
Confisco o necessário, pois significar algumas coisas tem sido cada vez mais complexo. 
Aos 15 ganhou um cavalo, aos 30, fez um bolo de cavalo. Sem mais divagações. Que venham mais 15 :)