sábado, 1 de novembro de 2014

feminismo, política e a ditadura do discurso

Há tempos que estou para escrever este texto! Hoje finalmente acho que consigo registrar e organizar minhas ideias.

Conforme fui me descobrindo feminista, fui percebendo o peso que essa escolha trazia para algumas pessoas.
Era como se eu "automaticamente", aceitasse, praticasse, e vivenciasse todas as "normas da cartilha feminista". Cartilha esta, que era determinada pelo conceito que a pessoa desenvolveu sobre o feminismo.
Pensei, pensei e vi que muitas vezes, além do pré-conceito que desenvolvemos (sim, como interpretamos determinada coisa é responsabilidade nossa) sobre determinados assuntos, criamos também uma coisa que chamei de ditadura do discurso.
Essa limitação imposta pelo outro tem um peso muito grande numa relação, seja de amizade, familiar ou profissional.
Com o tempo fui reparando que essa ditadura existia em outras áreas também, como a política.
É uma espécie de intolerância, de incompreensão de um lado da conversa por não entender como o outro pode pensar de determinada maneira: "Como aquela pessoa pode apoiar a Dilma/Aécio?"
"Será que ela não percebe o mal que ele/ela fez?"

Já comentei aqui como é difícil nos colocarmos no lugar do outro. E acredito que nesta questão política é a mesma coisa. Cada um tem seus argumentos, seu ponto de vista.
Mas no facebook continua pipocando termos, frases, imagens, às vezes irônicos, às vezes "despretenciosos", às vezes escancarados mesmo sobre a política e suas consequências.
Acho saudável e válido a discussão que venho observado recentemente sobre o assunto. Mas me parece que algumas vezes a discussão parte para o sectarismo.
Nos falta perceber que acima de quem está ou não no poder, somos uma nação única, e a divisão clamada por muitos, pode começar assim: "queria ver quem estava comigo", "quero saber quem compactua com a minha opinião".
E minha pergunta é: que diferença isso vai fazer? Se a riqueza de tudo está justamente na troca de opinião. Afinal, é fácil conversar com quem concorda com a gente. O difícil é manter uma conversa respeitosa (sem influência do ego) com quem difere completamente do nosso modo de pensar.
E é aqui que o feminismo entra de novo.
Não é por eu me considerar feminista (em alguns aspectos) que eu acho que o pai não deveria participar da criação do filho por exemplo. É justamente o contrário! Um pai participativo, que divide a ardua tarefa de criar um filho com a mãe, compreendeu que a educação do filho também é responsabilidade dele, ultrapassou as fronteiras do machismo e da divisão de tarefas e com isso exerce o seu papel em plenitude.
Mas muitas vezes, engessados que estamos pela ditadura do discurso, consideramos que as feministas não querem homens por perto, que para elas os homens não prestam e por aí vai morro abaixo. Divisão, sectarismo de novo.

Por isso, considero muito válido, quando em uma conversa polêmica, nos certificamos plenamente do que determinado conceito significa para o outro, e um pouco mais difícil talvez, aceitar o direito do outro de pensar daquela maneira.
Não é porque está no dicionário que "a" também faz parte de "z" que para TODAS as pessoas do mundo "a" será exatamente igual a "z". Existe uma miríade de possibilidades entre "a" e "z"

Outro exemplo que gostaria de mencionar ainda sobre o feminismo e sua suposta "cartilha" é quanto a liberdade de escolha da mulher. Demorei um pouco para compreender o que isso tinha a ver com o aborto.
Então, se a mulher tem plenos direitos sobre seu corpo, teria plenos direitos de fazer um aborto, pois afinal, é o seu corpo!
E este é um ponto crucial em que eu discordo pois considero que acima desse direito, existe o direito a vida, que é superior ao meu direito de escolha (que pode ter sido exercido com irresponsabilidade e a gravidez seria apenas uma consequência dessa escolha).
Um outro ponto que considero interessante é que existem muitas pessoas que defendem a educação não violenta e consideram bater/maltratar/matar crianças um crime (não que não seja, por favor!). Mas consideram que bater/maltratar/matar um embrião/feto seja um direito.
Eu nunca tinha pensado por esse lado, mas não soa incoerente?
De novo, não é tudo vida?
Ou porque me considero feminista eu deveria também ser a favor do aborto?

Por fim, espero que cada um dos que me lêm possam perceber em si próprios onde está a sua intolerância, o seu desrespeito para com as ideias dos outros, enfim, onde temos a ditadura do discurso...

Agradeço as possíveis contribuições que possam surgir a este texto e mais ainda, agradeço o respeito pelas ideias de cada um. :)


quarta-feira, 9 de julho de 2014

eu não me torno, eu não sou.

Eu não me torno uma boa mãe por conta de todos os textos que leio sobre maternidade.
Eu não me torno uma boa pessoa por conta de todos os vídeos de ações bondosas que assisto.
Eu não me torno uma pessoa caridosa por conta de todas as pessoas caridosas que admiro.
Eu não me torno uma empreendedora por conta de tudo que já li sobre empreendedorismo.
Eu não me torno uma yogini por conta das práticas que tive no passado ou pelo que já li sobre yôga.
Eu não sou uma cientista por ter um título de mestrado e meio doutorado.
Eu não sou médica veterinária por ter cursado essa faculdade.
Eu não sou escritora por escrever um blog.
Entre outros...

Apesar de querer ser tudo isso.

É muito mais que isso.

É se despojar do ego, ir lá e fazer. O tal do "dar a cara a tapa", sabe? É o velho ditado: quem quer faz, quem não quer, inventa uma desculpa.
Simples assim.

Mas a gente complica. Inventa razões, olha para o próprio umbigo. Dimensiona nossas limitações e as disfarça com uma lamentação: Eu queria tanto! Mas...

Consumimos informações que nos satisfazem. Como bem pontuado neste vídeo aqui. Mas que não nos levam a nenhum lugar palpável. Já falei também sobre esse sentimento neste texto.
Só nos tornaremos melhores quando começarmos a produzirmos, errarmos, aprendermos, e sairmos do nosso mundo imaginário de admirar pessoas e assistir vídeos.

Claro que isso é um começo! Uma direção, uma inspiração, bem melhor do que se manter ignorante sobre o que se quer ser. Mas é preciso uma dose extra de esforço e coragem, para reconhecer que apenas isso não serve de muita coisa.

Coragem, pois é difícil olhar para si mesmo e não reconhecer a pessoa que se queria ser (ou se pensa ser). E ainda assim arrumar energia para sair da inércia interior e correr atrás do tempo perdido.

Pelo menos para mim...
Apreendido, por enquanto.




quarta-feira, 2 de julho de 2014

o meu, o seu, o nosso lado

Você não consegue ver o meu lado na história.

Estão me julgando sem saber o meu passado, ou o que me levou a ter certas atitudes. 

Será que é tão difícil para você se colocar no meu lugar e imaginar como reagiria? 

Quem você/ele/ela pensa que é para me julgar assim? 

"Você não se lembra da minha história,
 
Você nunca andou pelo meu caminho,
 
Você não viu o que eu vi.
Meu passado me define,
 
Isso é o que eu sou."

Essas são frases que tenho ouvido com certa frequência e curiosamente, em diferentes ocasiões, com diferentes pessoas. E que depois de um tempo me fazem pensar, pois chegou uma hora que parei e pensei: e o meu lado? 

Queremos que entendam o nosso lado. Queremos ser compreendidos. Mas acima de tudo: queremos ser acolhidos
Queremos que compreendam o porquê de nossas atitudes, quando em muitos casos, nem nós compreendemos. 
Não compreendemos e muitas vezes nem percebemos nosso julgamento para com o outro.

Será que quando julgamos o outro, inconscientemente dizemos para nós mesmos que somos melhores que ele?

Mas a verdade é que é muito difícil compreender o lado do outro. Justamente pelo que está escrito acima:
"Você nunca andou pelo meu caminho"
É ou não é? 
Quem já andou pelo seu caminho além de vc?

Sabendo que esse caminho nos influencia tão profundamente, como podemos esperar que o outro nos compreenda, quando em muitas ocasiões, nem nós nos compreendemos???
Não faz sentido na minha cabeça...
Mas mesmo assim, continuamos a espera da compreensão.

Porque compreensão também quer dizer aceitação. Quando eu te compreendo quer dizer que te aceito, mesmo que não concorde com a sua atitude. Apenas compreendo que em decorrência da sua história de vida, da sua vivência, você tomou determinada atitude. Não quer dizer que eu faria igual, que eu ache que você está certa, ou que tudo bem para mim você agir assim. Apenas quer dizer que eu compreendo que essa é a sua maneira de lidar com tudo o que te aconteceu. Que essa é a tua maneira única e exclusiva de agir. 

Isso para mim seria compreensão... 

Ou talvez eu tenha uma dificuldade imensa de me colocar no lugar do outro e imaginar o porquê de seu sofrimento. Já que em algumas situações, aquilo não seria um sofrimento para mim. Para mim. 
Mas para o outro não!!!!!!!!
Para o outro aquilo é o fim do mundo... 

E aí? 
Vou julgar e dizer que o outro está exagerando?
Sou eu que não compreendo o lado do outro ou o outro que não compreende o meu lado?

Ou será que estamos tão engessados pelo "meu lado" que não me passa sequer pela mente que possa existir uma outra possibilidade? Ou ainda, eu posso perceber essa possibilidade, mas meu gesso emocional não me deixa agarrá-la, porque aí, do que eu irei me lamentar ou reclamar? 

Onde vai dar isso tudo?
Não deveríamos ser empáticos? Isso não é um passo a mais na evolução?
Mas continuamos querendo que entendam o nosso lado...

Um outro exercício:
Ok, eu te compreendo. E agora? O que mudou?
Eu aceito ou não a sua atitude porque te compreendo?
Compreender vai mudar alguma coisa em mim? Pode ser que sim, pode ser que não...

Compreensão não quer dizer aceitação da atitude ou concordância. É passivo. Quer dizer sim, aceitação da pessoa como um todo. 

E dá para confiscar algo passivo? Ou fica só no imaginário?

Quando Fernanda Takai canta:

"Eu, queria tanto encontrar, uma pessoa como eu, pra quem eu possa confessar, alguma coisa sobre mim..."

Será que é sobre essa compreensão que ela dizia? A compreensão de quem sabe o caminho que trilhou?

Ser compreendido não é ter razão...





terça-feira, 20 de maio de 2014

como me tratam

Já faz tempo que venho pensando nisso e essa semana senti que chegou a hora de escrever sobre o assunto.
Vi um cartaz pelo facebook que dizia mais ou menos assim: a maneira que eu te trato, vai depender da maneira que vc me tratar. Ou alguma coisa do tipo.
Essa frase pode parecer lógica para alguns e em alguns momentos. É óbvio que quando alguém é extremamente gentil conosco, o mais provável seria que também fossemos gentis de volta. Mas e se não estivermos num "bom dia", será que seremos gentis de volta? E se nos tratarem mal, também devolveremos a agressão?
Dentro dos meus valores, agir assim seria negar o que Jesus falou quando disse: "Oferece a outra face". Seria permitir que o mal do outro, provocasse o meu mal. Seria mais um reflexo do: olho por olho, dente por dente.
No mesmo tema, vem a história da violência infantil. Já ouvi coisas do tipo: não me bate senão eu vou te bater. 
Oi?
Como assim? Queremos educar ensinando que vamos devolver na mesma moeda? Que educação é essa?

Na minha cabeça, tudo isso está interligado, numa rede de pensamentos complexos.

Lembro de uma história que li na Revista Sorria e muito me chamou a atenção. Um pai, contava a história de como seu filho havia sido assassinado. O mais surpreendente para mim foi o perdão que o pai ofereceu ao assassino de  seu filho. Ele conta sua história aqui, que surgiro muito que leiam.
E aí vem a questão: e se ele tivesse tratado os outros como o haviam tratado?
Onde estaria a sua superação, o seu crescimento, a sua paz?

Não é mais fácil jogar para o outro a responsabilidade sobre nossas atitudes? Para mim é claro como água: não importa como me tratarem, a maneira que irei reagir a isso é única e exclusiva responsabilidade minha. E de mais ninguém...

Em uma outra ocasião, no filme A Vida de Pi, ele menciona algo parecido ao perceber que se matasse o outro que o estava agredindo, ele se igualaria a ele. Diz que o que mais o deixou triste foi o mal que o outro despertou nele, quando reagiu a uma agressão em defesa da sua vida.

Sou só eu que percebo todas essas conexões?

Não, a maneira como me tratam não terá tal poder de mudar minha essência, meus valores, meus desejos. Não pretendo ceder a agressões, silêncios, falta de respeito, xingamentos, falta de sorrisos, de contato, de afeto ou mágoas guardadas. Não quero que esses sejam os sentimentos com poder de mudar minha atitude.
Dói, inúmeras vezes. E vai doer muito mais, principalmente porque vou falhar, vou ceder ao mal e reagir a ele. Mas acredito que só assim estarei me fortalecendo internamente, aprendendo a buscar forças e alegrias dentro de mim mesma, e porque não, me empoderando verdadeiramente?

Que assim seja.



Imagem: Eu me chamo Antonio.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

sobre o meu dia das mães

Este é o meu terceiro dia das mães como mãe.
O mais consciente desta minha "função" até o momento.
Meu primeiro dia das mães foi alguns dias após o Dudu nascer. Ainda envolvida em trocas de fraldas, choro e amamentação, a data passou sem muito significado ou celebração.
No meu segundo ano, estávamos de mudança para o Brasil, e só me toquei que era dia das mães quando fomos ao mercado e me deram um esmalte parabenizando pelo dia das mães. Cheguei a ficar surpresa com a atitude.
Já este ano, como uma evolução, o dia das mães, como ritual de celebração a esta função, foi mais marcante.
Seja pela homenagem as mães feita na missa que participei no sábado, que me fez chorar, seja pelo presente que meus pais compraram para meu filho me oferecer, e que não pude oferecer em troca. Ou pelo e-mail singelo e tão significativo que meu esposo me enviou.
Ofereço então o acalento das palavras, que não tem preço, mas é o que posso oferecer neste momento de forma mais "concreta".

À todos que participam desta minha caminhada da maternidade...

Pelos marcadores do blog podem perceber que este é um assunto marcante para mim.
E por mais que já tenha escrito algumas páginas sobre isso, o tema é inesgotável.
Percebi que a maternidade é algo vivo, que vai crescendo e se transformando, ao me transformar, ao me permitir me ressignificar.
Entre as muitas mensagens e palavras que li pelo facebook, a que mais se destacou para mim foi a que menciona a mudança que a maternidade faz  na nossa, ou na minha vida.
Digo na minha, pois também li coisas que mostram que a graça de ser mãe não é algo que resplandece em todas as mães. Pois ser mãe é, ou deveria ser, uma decisão baseada em princípio no que ouvimos de nosso coração. Mas com a fluidez do mundo, na grande maioria das vezes não temos essa sensibilidade e cedemos ao externo. As pressões sociais, ao medo de assumir a não maternidade, ao famoso "segura marido", e até a obrigação. Isso, como tudo nessa vida, gera consequências, e surpreendentemente (para alguns), gera mães que não amam seus filhos ou não amam ser mães. Um post interessante sobre o assunto pode ser lido aqui.
Este texto me lembrou um livro que começei a ler pelo tablet mas que não terminei. Chama-se: Um Amor Conquistado: o mito do amor materno de Elisabeth Badinter.
Da parte que li, entendi que a autora afirma que o amor materno não é algo inato, não nasce pronto no mesmo momento que o filho nasce. Isso me custou um tempo a entender, e mesmo não concordando com essa afirmação inicialmente, continuei a ler o livro. Depois que entendi em partes o que a autora queria dizer, não voltei a ler o livro, mas agora me surgiu a vontade de terminar a leitura. E hoje posso dizer que concordo com ela. O amor materno não nasce com o filho. É algo que vai crescendo, nos transformando, e tudo depende de inúmeros fatores, formando a rede da complexidade das relações e do mundo. Para mim, o que me influencia muito em meu maternar é a relação que tenho com minha mãe. Como ela e meu pai me criaram, os valores que me passaram, as oportunidades que me proporcionaram.
Me lembro de uma situação que me ensinou como devemos buscar coerência.
Eu estudava em um colégio que tinha uma proposta sócio-construtivista de ensino. Na aula de artes a professora havia pedido durante a avaliação para criarmos um desenho usando formas geométricas. Eu, com toda minha habilidade artística, criei meu desenho, que recebeu nota 3 pela avaliação da professora. Minha mãe, achou incoerente aquilo, pois ao pedir que a criança criasse um desenho, como deveria ser a avaliação? Não deveria contar apenas se o desenho havia sido feito conforme as instruções do exercício: usar formas geométricas? E isso eu havia feito. Por que então uma nota tão baixa?
Para alguns o fato aqui pode parecer ser apenas pela nota, e por muitos anos fui julgada em meu percurso acadêmico por questionar os professores o porque de determinadas notas nas avaliações.
Mas o "buraco é mais embaixo", e esta atitude questiona muitas coisas entre elas o próprio sistema de avaliações que deveria em última instância avaliar quanto o aluno aprendeu e auxiliá-lo a guiar seus estudos tentando aprender o que faltou. Essa sempre foi a minha intenção. Ver o que eu tinha aprendido de errado.
Isso fez uma diferença tão grande na minha vida... Me permitiu criar coragem para olhar para meus erros e também desenvolver uma disposição de corrigi-los e aprender com eles. Não apenas na escola, mas também em todos os outros aspectos da minha vida.
A influência das mães em nossas vidas pode ser edificante, como foi a da minha, mas também pode ser devastadora, mudando para sempre o rumo e o coração de uma pessoa. Mudanças tão profundas, que muitas vezes nem chegam a consciência, de tão dolorido que isto se torna. Acredito que não podemos julgar certas atitudes que sofremos ao convivermos com outras pessoas, pois é impossível saber pelo que elas passaram e como reagiram por aquilo que passaram.
Para estas situações, o sentimento que me parece ser o melhor a se fortalecer é o da compaixão. Por mais difícil e as vezes, até injusto que se possa parecer.
Após toda essa reflexão, espero ter expressado, confiscado, mais uma infinita parte do significado de ser filha, de ser mãe em minha vida.
Gratidão eterna a todos!


Foto de: O Mundo de Gaya

sexta-feira, 2 de maio de 2014

sobre o inimaginável

Acho que nunca fui muito de me surpreender com as coisas pois logo cedo percebi que deveria esperar tudo de todos.
Mas quando fiquei grávida, a maior reviravolta em todos os aspectos da minha vida, jamais poderia imaginar nem 1% das mudanças que a vinda do Dudu traria.
Ontem o Dudu fez 2 anos, e a única palavra que veio na minha cabeça por este momento foi inimaginável.
Nunca poderia imaginar nada do que me aconteceu depois que ele nasceu... Nem antes também. Mas depois que tive ele em meus braços pela primeira vez, pronto, estava feito. Na hora, nos dias que se seguiram, ainda não podia dimensionar o tamanho da mudança. Hoje, 2 anos depois, fica mais fácil visualizar. Uma mudança com data para se iniciar, que só me trouxe coisas boas, mas sem previsão para terminar. Uma gratidão sem fim...
Não sei se existe alguma maneira de se preparar para todas as mudanças que um filho traz na nossa vida.
Nem sei se eu teria como explicá-las, nem que fosse grosseiramente... Só isso já daria um livro.
Eu que sempre adorei mudanças, sendo repetitiva, jamais poderia imaginar estas provenientes da maternidade. O mais incrível, é que não foram mudanças planejadas (exceto o momento que decidimos ter um filho). Não planejei nada além disso. As coisas simplesmente foram acontecendo, me tragando, me sugando com uma força que eu tinha sentido em poucos momentos (como quando senti que tinha que ir e fui para Portugal conhecer meu futuro esposo :)

Uma vez ouvi assim: " Se a vida é uma escola, o casamento é a universidade". E hoje posso acrescentar, os filhos são a pós graduação.
Mas gostaria de deixar registrado aqui que não estou dizendo que quem não tem filhos é pior (ou melhor) por causa disso. Eu admiro e apóio completamente as mulheres que escolhem não serem mães. Acho uma atitude extrememamente corajosa e tenho certeza que na maioria das vezes foi muito mais bem pensada, refletida e proveniente de um grande auto-conhecimento do que muitas mulheres-mães que vemos por aí.
Mas dentro da minha experiência, ser mãe é a minha maior oportunidade de aprender a amar, de me auto-conhecer, de me entregar, de ser uma pessoa melhor...
Diariamente, sinto uma gratidão sem tamanho a Deus e a todos que me proporcionam pequenos, grandes e imensamente significativos momentos com meu filho.
Sei que sou privelegiada em inúmeros aspectos, e um entre inúmeros aprendizados foi o de não julgar (alto lá, que não sou perfeita, mas quando consigo me perceber neste movimento, tento mudar o rumo do pensamento). Nunca saberemos exatamente o que cada um passou, e mais importante ainda, como verdadeiramente encarou determinadas situações. Mais uma chance para aprender a respeitar, compreender, ter paciência e compaixão.

Dudu, meu pequeno... obrigada! Jamais conseguirei expressar toda minha gratidão por ter você como filho, muito menos o tamanho do meu amor, que é tão imperfeito, mas é o melhor que consigo te dar neste momento.


sábado, 12 de abril de 2014

informar-se X empoderar-se

O Dudu está próximo de completar 2 anos e junto com isso vem a necessidade de escrever e registrar sobre novos insights que tive ao longo desse 1 ano, principalmente sobre meu "nó emocional", leia-se parto.

1 ano atrás, consegui escrever meu relato de parto e as impressões que tinha na época. Hoje graças a Deus pude ressignificar um pouco mais essa experiência.

Percebo que fui sim vítima de violência obstétrica, vítima do sistema, e também, vítima de mim mesma. Percebo que em alguns aspectos eu "soltei as rédeas", da mesma maneira que fazia quando montava e participava de competições equestres. Soltei e segui a correnteza, ou melhor, segui para onde me levaram: um centro cirúrgico.

O mais marcante para mim foi perceber a diferença entre os termos informar-se e empoderar-se.

Polêmicas a parte, o termo empoderar-se surgiu na minha vida quando engravidei e tive contato com o mundo da humanização do parto.

No início, não gostei do termo e da maneira que era empregado. A palavra poder sempre me intimidou um pouco. E optei por não utilizá-la quando falava sobre o assunto. Só por isso, já tenho um começo que me direcionou ligeiramente para outro rumo.

Me informei MUITO durante a gravidez. Li algumas dezenas de artigos, assisti uns 10 filmes sobre o assunto e li quase uma centena de relatos de parto. No meu próprio relato de parto já havia chegado a conclusão que esse talvez tivesse sido um problema. Hoje penso que mais que um problema, essa informação toda me iludiu. E para tentar explicar isso, preciso usar um exemplo da minha experiência acadêmica.

Em toda minha vida acadêmica, sempre tive notas muito boas, modéstia a parte, me formei entre os 3 melhores alunos da minha turma na faculdade, passei em segundo lugar no vestibular e em segundo lugar também no mestrado. Mas como sempre ouvimos falar, notas não significam muita coisa, e é verdade. Por que? Porque na maioria das vezes, eu sempre tive uma noção geral do assunto e do seu mecanismo. Mas não tinha tudo aquilo dentro da minha cabeça. Sempre precisei de um ponto de início, um fio da meada para me localizar. O modelo de avaliações pelas quais passamos me serviam muito bem neste aspecto. Tanto que nas raríssimas disciplinas que ofereciam questões discursivas nas avaliações, minhas notas já não foram tão especiais assim. Por isso, sempre senti que meu conhecimento, de certa forma, também era uma ilusão, pois não era capaz de armazenar toda a informação necessária para explicar alguma coisa de forma detalhada, como eu acreditava ser necessário caso eu realmente tivesse absorvido e vivenciado o conhecimento.

Vivenciado.

Essa palavra significa muito. E é aqui que as coisas se encontram. Pois acredito que é a partir do momento que incorporamos, engolimos, absorvemos, internalizamos as coisas, que elas passam a fazer parte de nós e tem o poder de mudar nossos hábitos, atitudes, nosso rumo.
Eu me informei sobre o parto, tinha certeza da minha escolha, me preparei como mandava o protocolo (quanta inocência): fiz um plano de parto, tinha uma doula, visitei a maternidade, me certifiquei das possibilidades, me informei, sabia dos meus direitos, tinha um companheiro que me apoiava como podia. Só não tinha um médico de confiança, o que em Portugal não era coisa fácil, pois lá, pelo menos na época, não haviam médicos humanizados (até onde eu sabia).
Mas na hora P (de parto), soltei as rédeas. Percebi isso quando li este relato de parto. No momento que ela questiona a necessidade de mais um CTG durante seu trabalho de parto e entra num acordo de 5 minutos.
"Era isso que eu devia ter feito!!!!!!"
Foi a primeira coisa que me veio na cabeça. Insight.
Mas meu medo de que meu lado intelectual intervisse na hora P, que deveria ser uma hora puramente fisiológica e instintiva, fez com que eu não questionasse certas atitudes, procedimentos, nem nada do tipo. Na minha cabeça, eu havia delegado essa responsabilidade para meu esposo e minha doula. Que fizeram o seu melhor dentro das possibilidades. Mas a hora P era a minha hora. Eu deveria ter assumido essa responsabilidade, me empoderado e lutado pelo que eu queria.

Não tiro a culpa do sistema muito menos do médico.
Eu só queria que me deixassem em paz.


Mas 2 anos depois, eu percebo e assumo minha parcela de responsabilidade pelo que me aconteceu.
Isso faz parte do crescimento, do amadurecimento, do preocessamento do "luto" pelo meu "não parto", e me sinto privilegiada por ter conseguido pensar nisso.

Apreendido. Confiscado. Amarrado.

Pois não foi apenas nesse momento que fiz isso. Quantas e quantas vezes ignorei (consciente ou inconscientemente), coisas que não gostava, e soltei as rédeas, por inúmeros motivos. E depois chorei pelos resultados que recebia.
Quantas e quantas vezes "dormi", psicologicamente falando, quando não fui plenamente consciente do momento presente e do que se movimentava dentro de mim. Ignorando o que queria, por medo de enfrentar certas coisas.
Quantas coisas não confisquei...

Que cada vez mais, sejam menos coisas...

quarta-feira, 5 de março de 2014

12 anos de escravidão e um insight

Assisti nesse carnaval o filme 12 years a Slave (2013) ou 12 anos de escravidão.
Já tinha tido a oportunidade de assistir em outro momento, mas só de pensar em ver cenas de sofrimento, desisti. Só que no dia eu tinha lido que este filme tinha ganho o Oscar. Resolvi arriscar.

Não sei explicar, mas em muitos momentos eu fechei os olhos e em outros eu saí do quarto. Não consegui suportar ver tanto sofrimento. Ver e pensar que tudo aquilo realmente aconteceu, já que o filme é baseado numa história real bem documentada.

O que me chamou a atenção é que isso nunca tinha me acontecido. Lembro de ter assitido Sinhá Moça, e outras novelas/filmes que abordavam o tema mostrando bem a crueldade existente e não ter ficado assim. No máximo pensava no assunto por dois minutos e logo passava para frente.

O que aconteceu então?

Consigo identificar basicamente dois fatores: Sincronicidade e Maternidade.

Sincronicidade porque de repente, tudo que tinha lido e que de certa forma parecia desconexo, durante o filme percebi como estava tudo interligado. Leituras como Dalai Lama, Jung, Thich Nhat Hanh, Augusto de Franco, Campbell, Morin, Bauman, a bíblia, João Bernardes da Rocha Filho e Eckhart Tolle (por último), de repente se uniram e como num "boom" na minha alma, fizeram sentido. Não que antes não fizessem, mas desta vez hove a vivência de algo em específico.
Ganharam sentido porque mentalmente eu entendia o que diziam. Mas com este filme eu senti. Senti o que dizem sobre a dor do outro ser também a nossa dor, e a raiva e o mal do outro também serem o nosso mal.
A tal história de Gandhi, "seja a mudança que você deseja ver no mundo", e a outra que desconheço o autor "não deixe que o mal do outro provoque o seu mal", e por fim: de nada adianta querer mudar o mundo se não mudarmos a nós mesmos, pois fazemos todos parte de uma mesma rede, de uma mesma energia comum, somos filhos do mesmo pai, desdobramentos da mesma consciência universal suprema que tudo cria e tudo transforma.

Nossa, parece que vomitei um monte de coisa do que andei lendo. Mas deve ter sido isso mesmo, pois ao ver apenas uma pequena parte do sofrimento inflingido aos escravos mostrado pelo filme, e ao ver a ira e o ódio daqueles que provocavam esse sofrimento, eu me vi nos dois lados. Reconheci o meu mal nos olhos deles, e reconheci meu sofrimento no choro dos que apanhavam. Parece dramático e bizarro né? Também achei, mas foi assim mesmo que senti. E uma questão ainda maior surgiu: e todas as atrocidades que acontecem ainda hoje e que sequer tomamos conhecimento?? Mas parei por aqui para não surtar.

Sendo assim, uma questão continuava em aberto: Por que eu estava sentindo isso agora? Na hora já me veio a resposta: meu filho. A maternidade me abriu portas e janelas que eu simplesmente era uma completa ignorante. A questão sentimental é uma delas. Muitas vezes optei por ignorar certos sentimentos, na maioria das vezes, inconscientemente. Mas com o meu filho, simplesmente não consigo mais ignorar muita coisa. E isso para mim é uma benção!! Me traz um sentimento de gratidão que só me faz cada vez mais querer ser melhor como pessoa. Tudo isso, entre outros,  por causa de um sentimento com tamanho poder de transformação: o amor.

Confiscado.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

eu consumidora

Não consumista, mas consumidora. Não de coisas materiais, mas de informação.
Não sei como começou, mas desde criança, até bula de remédio e rótulo de champu eu gostava de ler. E ficar repetindo os nomes todos: lauril sulfato de sódio, excipiente q.s.p., ácido acetil salicílico.
Quando cursei a disciplina de farmacologia na faculdade foi como um reencontro com a menininha que lia rótulos (e lê até hoje)
E por isso hoje me percebi uma consumidora de informação.
Esses dias até me veio uma imagem na cabeça, aqueles desenhos de pessoas que chegam a babar de tanto assitir TV.
Sou eu com um livro, uma revista, um blog interessante, uma notícia. O novo post que saiu no facebook daquele blog que eu tanto gosto. Não penso, simplesmente vou lá e consumo o post.
Digo consumo pois foi a forma que encontrei de entender este movimento.
Pois vejam só, uma outra coisa que reparei foi que ao ler a grande maioria de coisas que eu gostaria de ler, o tempo livre que eu teria para produzir algo, foi todo gasto consumindo informação, muitas vezes de forma inconsequente eu diria. Pois inúmeras vezes um post leva a outro, que leva a outro e depois de 2 horas eu paro e penso: Nossa, o que eu tinha mesmo que fazer? E vou ver a minha lista e ainda está tudo lá, por fazer.
Será que isso é vício?
Talvez tenha demorado para me aperceber disso pois mentalmente me justifico: não estou desocupada, estou lendo, estou me informando.
Mas chegou num ponto que percebi que não existe um número suficiente de informação para matar a minha sede de conhecimento. Ponto. Tenho que reconhecer e aceitar isso.
Para depois poder abrir mão de algumas leituras e finalmente conseguir fazer algo com toda a informação que consumo.
Novamente, a imagem da menina fascinada com o parque de diversões e sem saber que brinquedo escolher me vem na cabeça. É tanta coisa legal acontecendo, tanta informação bacana para ler, discutir, partilhar, que no final eu fico só na leitura e raríssimas vezes na prática.
Óbvio que isso não é novidade para mim. Já tinha percebido esse movimento em outras ocasiões.
Desenvolver a parte prática daquilo que acreditamos é um gigantesco desafio, pelo menos para mim. É algo que venho tentando ultrapassar há muito tempo, conforme já registrei aqui.
Uma das coisa que me ajudou nestes últimos dias a liquidar algumas tarefas pendentes foi não começar a fazer várias coisas ao mesmo tempo, principalmente coisas que sei que vão tirar minha atenção, como o facebook por exemplo.
As leituras do blog Vida Organizada também foram fundamentais. Novamente, de nada adianta ler milhares de coisas se não colocá-las em prática.
Mas pelo visto isso é um assunto que "assombra" outras pessoas, conforme relatado aqui, mas abordando um outro ponto de vista, o da ilusão das relações sociais virtuais.
Agora então, mãos a obra! Mais uma vez...

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

a minha experiência - texto escolhido

É com muito alegria que venho aqui partilhar a minha participação como "Leitora Super Inspirada" da rede Maternarum.
O Maternarum tem como missão incentivar o empreendedorismo materno e desde que me mudei para Curitiba tenho acompanhado e participado de alguns eventos promovidos por eles.

Por isso, este post também é um agradecimento a eles, que me proporcionaram mais alguns passos nessa caminhada. Muito obrigada!

O texto pode ser lido aqui: http://maternarum.com.br/a-minha-experiencia-leitoras-super-inspiradas/

Confiscado ;)