terça-feira, 20 de maio de 2014

como me tratam

Já faz tempo que venho pensando nisso e essa semana senti que chegou a hora de escrever sobre o assunto.
Vi um cartaz pelo facebook que dizia mais ou menos assim: a maneira que eu te trato, vai depender da maneira que vc me tratar. Ou alguma coisa do tipo.
Essa frase pode parecer lógica para alguns e em alguns momentos. É óbvio que quando alguém é extremamente gentil conosco, o mais provável seria que também fossemos gentis de volta. Mas e se não estivermos num "bom dia", será que seremos gentis de volta? E se nos tratarem mal, também devolveremos a agressão?
Dentro dos meus valores, agir assim seria negar o que Jesus falou quando disse: "Oferece a outra face". Seria permitir que o mal do outro, provocasse o meu mal. Seria mais um reflexo do: olho por olho, dente por dente.
No mesmo tema, vem a história da violência infantil. Já ouvi coisas do tipo: não me bate senão eu vou te bater. 
Oi?
Como assim? Queremos educar ensinando que vamos devolver na mesma moeda? Que educação é essa?

Na minha cabeça, tudo isso está interligado, numa rede de pensamentos complexos.

Lembro de uma história que li na Revista Sorria e muito me chamou a atenção. Um pai, contava a história de como seu filho havia sido assassinado. O mais surpreendente para mim foi o perdão que o pai ofereceu ao assassino de  seu filho. Ele conta sua história aqui, que surgiro muito que leiam.
E aí vem a questão: e se ele tivesse tratado os outros como o haviam tratado?
Onde estaria a sua superação, o seu crescimento, a sua paz?

Não é mais fácil jogar para o outro a responsabilidade sobre nossas atitudes? Para mim é claro como água: não importa como me tratarem, a maneira que irei reagir a isso é única e exclusiva responsabilidade minha. E de mais ninguém...

Em uma outra ocasião, no filme A Vida de Pi, ele menciona algo parecido ao perceber que se matasse o outro que o estava agredindo, ele se igualaria a ele. Diz que o que mais o deixou triste foi o mal que o outro despertou nele, quando reagiu a uma agressão em defesa da sua vida.

Sou só eu que percebo todas essas conexões?

Não, a maneira como me tratam não terá tal poder de mudar minha essência, meus valores, meus desejos. Não pretendo ceder a agressões, silêncios, falta de respeito, xingamentos, falta de sorrisos, de contato, de afeto ou mágoas guardadas. Não quero que esses sejam os sentimentos com poder de mudar minha atitude.
Dói, inúmeras vezes. E vai doer muito mais, principalmente porque vou falhar, vou ceder ao mal e reagir a ele. Mas acredito que só assim estarei me fortalecendo internamente, aprendendo a buscar forças e alegrias dentro de mim mesma, e porque não, me empoderando verdadeiramente?

Que assim seja.



Imagem: Eu me chamo Antonio.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

sobre o meu dia das mães

Este é o meu terceiro dia das mães como mãe.
O mais consciente desta minha "função" até o momento.
Meu primeiro dia das mães foi alguns dias após o Dudu nascer. Ainda envolvida em trocas de fraldas, choro e amamentação, a data passou sem muito significado ou celebração.
No meu segundo ano, estávamos de mudança para o Brasil, e só me toquei que era dia das mães quando fomos ao mercado e me deram um esmalte parabenizando pelo dia das mães. Cheguei a ficar surpresa com a atitude.
Já este ano, como uma evolução, o dia das mães, como ritual de celebração a esta função, foi mais marcante.
Seja pela homenagem as mães feita na missa que participei no sábado, que me fez chorar, seja pelo presente que meus pais compraram para meu filho me oferecer, e que não pude oferecer em troca. Ou pelo e-mail singelo e tão significativo que meu esposo me enviou.
Ofereço então o acalento das palavras, que não tem preço, mas é o que posso oferecer neste momento de forma mais "concreta".

À todos que participam desta minha caminhada da maternidade...

Pelos marcadores do blog podem perceber que este é um assunto marcante para mim.
E por mais que já tenha escrito algumas páginas sobre isso, o tema é inesgotável.
Percebi que a maternidade é algo vivo, que vai crescendo e se transformando, ao me transformar, ao me permitir me ressignificar.
Entre as muitas mensagens e palavras que li pelo facebook, a que mais se destacou para mim foi a que menciona a mudança que a maternidade faz  na nossa, ou na minha vida.
Digo na minha, pois também li coisas que mostram que a graça de ser mãe não é algo que resplandece em todas as mães. Pois ser mãe é, ou deveria ser, uma decisão baseada em princípio no que ouvimos de nosso coração. Mas com a fluidez do mundo, na grande maioria das vezes não temos essa sensibilidade e cedemos ao externo. As pressões sociais, ao medo de assumir a não maternidade, ao famoso "segura marido", e até a obrigação. Isso, como tudo nessa vida, gera consequências, e surpreendentemente (para alguns), gera mães que não amam seus filhos ou não amam ser mães. Um post interessante sobre o assunto pode ser lido aqui.
Este texto me lembrou um livro que começei a ler pelo tablet mas que não terminei. Chama-se: Um Amor Conquistado: o mito do amor materno de Elisabeth Badinter.
Da parte que li, entendi que a autora afirma que o amor materno não é algo inato, não nasce pronto no mesmo momento que o filho nasce. Isso me custou um tempo a entender, e mesmo não concordando com essa afirmação inicialmente, continuei a ler o livro. Depois que entendi em partes o que a autora queria dizer, não voltei a ler o livro, mas agora me surgiu a vontade de terminar a leitura. E hoje posso dizer que concordo com ela. O amor materno não nasce com o filho. É algo que vai crescendo, nos transformando, e tudo depende de inúmeros fatores, formando a rede da complexidade das relações e do mundo. Para mim, o que me influencia muito em meu maternar é a relação que tenho com minha mãe. Como ela e meu pai me criaram, os valores que me passaram, as oportunidades que me proporcionaram.
Me lembro de uma situação que me ensinou como devemos buscar coerência.
Eu estudava em um colégio que tinha uma proposta sócio-construtivista de ensino. Na aula de artes a professora havia pedido durante a avaliação para criarmos um desenho usando formas geométricas. Eu, com toda minha habilidade artística, criei meu desenho, que recebeu nota 3 pela avaliação da professora. Minha mãe, achou incoerente aquilo, pois ao pedir que a criança criasse um desenho, como deveria ser a avaliação? Não deveria contar apenas se o desenho havia sido feito conforme as instruções do exercício: usar formas geométricas? E isso eu havia feito. Por que então uma nota tão baixa?
Para alguns o fato aqui pode parecer ser apenas pela nota, e por muitos anos fui julgada em meu percurso acadêmico por questionar os professores o porque de determinadas notas nas avaliações.
Mas o "buraco é mais embaixo", e esta atitude questiona muitas coisas entre elas o próprio sistema de avaliações que deveria em última instância avaliar quanto o aluno aprendeu e auxiliá-lo a guiar seus estudos tentando aprender o que faltou. Essa sempre foi a minha intenção. Ver o que eu tinha aprendido de errado.
Isso fez uma diferença tão grande na minha vida... Me permitiu criar coragem para olhar para meus erros e também desenvolver uma disposição de corrigi-los e aprender com eles. Não apenas na escola, mas também em todos os outros aspectos da minha vida.
A influência das mães em nossas vidas pode ser edificante, como foi a da minha, mas também pode ser devastadora, mudando para sempre o rumo e o coração de uma pessoa. Mudanças tão profundas, que muitas vezes nem chegam a consciência, de tão dolorido que isto se torna. Acredito que não podemos julgar certas atitudes que sofremos ao convivermos com outras pessoas, pois é impossível saber pelo que elas passaram e como reagiram por aquilo que passaram.
Para estas situações, o sentimento que me parece ser o melhor a se fortalecer é o da compaixão. Por mais difícil e as vezes, até injusto que se possa parecer.
Após toda essa reflexão, espero ter expressado, confiscado, mais uma infinita parte do significado de ser filha, de ser mãe em minha vida.
Gratidão eterna a todos!


Foto de: O Mundo de Gaya

sexta-feira, 2 de maio de 2014

sobre o inimaginável

Acho que nunca fui muito de me surpreender com as coisas pois logo cedo percebi que deveria esperar tudo de todos.
Mas quando fiquei grávida, a maior reviravolta em todos os aspectos da minha vida, jamais poderia imaginar nem 1% das mudanças que a vinda do Dudu traria.
Ontem o Dudu fez 2 anos, e a única palavra que veio na minha cabeça por este momento foi inimaginável.
Nunca poderia imaginar nada do que me aconteceu depois que ele nasceu... Nem antes também. Mas depois que tive ele em meus braços pela primeira vez, pronto, estava feito. Na hora, nos dias que se seguiram, ainda não podia dimensionar o tamanho da mudança. Hoje, 2 anos depois, fica mais fácil visualizar. Uma mudança com data para se iniciar, que só me trouxe coisas boas, mas sem previsão para terminar. Uma gratidão sem fim...
Não sei se existe alguma maneira de se preparar para todas as mudanças que um filho traz na nossa vida.
Nem sei se eu teria como explicá-las, nem que fosse grosseiramente... Só isso já daria um livro.
Eu que sempre adorei mudanças, sendo repetitiva, jamais poderia imaginar estas provenientes da maternidade. O mais incrível, é que não foram mudanças planejadas (exceto o momento que decidimos ter um filho). Não planejei nada além disso. As coisas simplesmente foram acontecendo, me tragando, me sugando com uma força que eu tinha sentido em poucos momentos (como quando senti que tinha que ir e fui para Portugal conhecer meu futuro esposo :)

Uma vez ouvi assim: " Se a vida é uma escola, o casamento é a universidade". E hoje posso acrescentar, os filhos são a pós graduação.
Mas gostaria de deixar registrado aqui que não estou dizendo que quem não tem filhos é pior (ou melhor) por causa disso. Eu admiro e apóio completamente as mulheres que escolhem não serem mães. Acho uma atitude extrememamente corajosa e tenho certeza que na maioria das vezes foi muito mais bem pensada, refletida e proveniente de um grande auto-conhecimento do que muitas mulheres-mães que vemos por aí.
Mas dentro da minha experiência, ser mãe é a minha maior oportunidade de aprender a amar, de me auto-conhecer, de me entregar, de ser uma pessoa melhor...
Diariamente, sinto uma gratidão sem tamanho a Deus e a todos que me proporcionam pequenos, grandes e imensamente significativos momentos com meu filho.
Sei que sou privelegiada em inúmeros aspectos, e um entre inúmeros aprendizados foi o de não julgar (alto lá, que não sou perfeita, mas quando consigo me perceber neste movimento, tento mudar o rumo do pensamento). Nunca saberemos exatamente o que cada um passou, e mais importante ainda, como verdadeiramente encarou determinadas situações. Mais uma chance para aprender a respeitar, compreender, ter paciência e compaixão.

Dudu, meu pequeno... obrigada! Jamais conseguirei expressar toda minha gratidão por ter você como filho, muito menos o tamanho do meu amor, que é tão imperfeito, mas é o melhor que consigo te dar neste momento.