sábado, 1 de novembro de 2014

feminismo, política e a ditadura do discurso

Há tempos que estou para escrever este texto! Hoje finalmente acho que consigo registrar e organizar minhas ideias.

Conforme fui me descobrindo feminista, fui percebendo o peso que essa escolha trazia para algumas pessoas.
Era como se eu "automaticamente", aceitasse, praticasse, e vivenciasse todas as "normas da cartilha feminista". Cartilha esta, que era determinada pelo conceito que a pessoa desenvolveu sobre o feminismo.
Pensei, pensei e vi que muitas vezes, além do pré-conceito que desenvolvemos (sim, como interpretamos determinada coisa é responsabilidade nossa) sobre determinados assuntos, criamos também uma coisa que chamei de ditadura do discurso.
Essa limitação imposta pelo outro tem um peso muito grande numa relação, seja de amizade, familiar ou profissional.
Com o tempo fui reparando que essa ditadura existia em outras áreas também, como a política.
É uma espécie de intolerância, de incompreensão de um lado da conversa por não entender como o outro pode pensar de determinada maneira: "Como aquela pessoa pode apoiar a Dilma/Aécio?"
"Será que ela não percebe o mal que ele/ela fez?"

Já comentei aqui como é difícil nos colocarmos no lugar do outro. E acredito que nesta questão política é a mesma coisa. Cada um tem seus argumentos, seu ponto de vista.
Mas no facebook continua pipocando termos, frases, imagens, às vezes irônicos, às vezes "despretenciosos", às vezes escancarados mesmo sobre a política e suas consequências.
Acho saudável e válido a discussão que venho observado recentemente sobre o assunto. Mas me parece que algumas vezes a discussão parte para o sectarismo.
Nos falta perceber que acima de quem está ou não no poder, somos uma nação única, e a divisão clamada por muitos, pode começar assim: "queria ver quem estava comigo", "quero saber quem compactua com a minha opinião".
E minha pergunta é: que diferença isso vai fazer? Se a riqueza de tudo está justamente na troca de opinião. Afinal, é fácil conversar com quem concorda com a gente. O difícil é manter uma conversa respeitosa (sem influência do ego) com quem difere completamente do nosso modo de pensar.
E é aqui que o feminismo entra de novo.
Não é por eu me considerar feminista (em alguns aspectos) que eu acho que o pai não deveria participar da criação do filho por exemplo. É justamente o contrário! Um pai participativo, que divide a ardua tarefa de criar um filho com a mãe, compreendeu que a educação do filho também é responsabilidade dele, ultrapassou as fronteiras do machismo e da divisão de tarefas e com isso exerce o seu papel em plenitude.
Mas muitas vezes, engessados que estamos pela ditadura do discurso, consideramos que as feministas não querem homens por perto, que para elas os homens não prestam e por aí vai morro abaixo. Divisão, sectarismo de novo.

Por isso, considero muito válido, quando em uma conversa polêmica, nos certificamos plenamente do que determinado conceito significa para o outro, e um pouco mais difícil talvez, aceitar o direito do outro de pensar daquela maneira.
Não é porque está no dicionário que "a" também faz parte de "z" que para TODAS as pessoas do mundo "a" será exatamente igual a "z". Existe uma miríade de possibilidades entre "a" e "z"

Outro exemplo que gostaria de mencionar ainda sobre o feminismo e sua suposta "cartilha" é quanto a liberdade de escolha da mulher. Demorei um pouco para compreender o que isso tinha a ver com o aborto.
Então, se a mulher tem plenos direitos sobre seu corpo, teria plenos direitos de fazer um aborto, pois afinal, é o seu corpo!
E este é um ponto crucial em que eu discordo pois considero que acima desse direito, existe o direito a vida, que é superior ao meu direito de escolha (que pode ter sido exercido com irresponsabilidade e a gravidez seria apenas uma consequência dessa escolha).
Um outro ponto que considero interessante é que existem muitas pessoas que defendem a educação não violenta e consideram bater/maltratar/matar crianças um crime (não que não seja, por favor!). Mas consideram que bater/maltratar/matar um embrião/feto seja um direito.
Eu nunca tinha pensado por esse lado, mas não soa incoerente?
De novo, não é tudo vida?
Ou porque me considero feminista eu deveria também ser a favor do aborto?

Por fim, espero que cada um dos que me lêm possam perceber em si próprios onde está a sua intolerância, o seu desrespeito para com as ideias dos outros, enfim, onde temos a ditadura do discurso...

Agradeço as possíveis contribuições que possam surgir a este texto e mais ainda, agradeço o respeito pelas ideias de cada um. :)