sábado, 12 de abril de 2014

informar-se X empoderar-se

O Dudu está próximo de completar 2 anos e junto com isso vem a necessidade de escrever e registrar sobre novos insights que tive ao longo desse 1 ano, principalmente sobre meu "nó emocional", leia-se parto.

1 ano atrás, consegui escrever meu relato de parto e as impressões que tinha na época. Hoje graças a Deus pude ressignificar um pouco mais essa experiência.

Percebo que fui sim vítima de violência obstétrica, vítima do sistema, e também, vítima de mim mesma. Percebo que em alguns aspectos eu "soltei as rédeas", da mesma maneira que fazia quando montava e participava de competições equestres. Soltei e segui a correnteza, ou melhor, segui para onde me levaram: um centro cirúrgico.

O mais marcante para mim foi perceber a diferença entre os termos informar-se e empoderar-se.

Polêmicas a parte, o termo empoderar-se surgiu na minha vida quando engravidei e tive contato com o mundo da humanização do parto.

No início, não gostei do termo e da maneira que era empregado. A palavra poder sempre me intimidou um pouco. E optei por não utilizá-la quando falava sobre o assunto. Só por isso, já tenho um começo que me direcionou ligeiramente para outro rumo.

Me informei MUITO durante a gravidez. Li algumas dezenas de artigos, assisti uns 10 filmes sobre o assunto e li quase uma centena de relatos de parto. No meu próprio relato de parto já havia chegado a conclusão que esse talvez tivesse sido um problema. Hoje penso que mais que um problema, essa informação toda me iludiu. E para tentar explicar isso, preciso usar um exemplo da minha experiência acadêmica.

Em toda minha vida acadêmica, sempre tive notas muito boas, modéstia a parte, me formei entre os 3 melhores alunos da minha turma na faculdade, passei em segundo lugar no vestibular e em segundo lugar também no mestrado. Mas como sempre ouvimos falar, notas não significam muita coisa, e é verdade. Por que? Porque na maioria das vezes, eu sempre tive uma noção geral do assunto e do seu mecanismo. Mas não tinha tudo aquilo dentro da minha cabeça. Sempre precisei de um ponto de início, um fio da meada para me localizar. O modelo de avaliações pelas quais passamos me serviam muito bem neste aspecto. Tanto que nas raríssimas disciplinas que ofereciam questões discursivas nas avaliações, minhas notas já não foram tão especiais assim. Por isso, sempre senti que meu conhecimento, de certa forma, também era uma ilusão, pois não era capaz de armazenar toda a informação necessária para explicar alguma coisa de forma detalhada, como eu acreditava ser necessário caso eu realmente tivesse absorvido e vivenciado o conhecimento.

Vivenciado.

Essa palavra significa muito. E é aqui que as coisas se encontram. Pois acredito que é a partir do momento que incorporamos, engolimos, absorvemos, internalizamos as coisas, que elas passam a fazer parte de nós e tem o poder de mudar nossos hábitos, atitudes, nosso rumo.
Eu me informei sobre o parto, tinha certeza da minha escolha, me preparei como mandava o protocolo (quanta inocência): fiz um plano de parto, tinha uma doula, visitei a maternidade, me certifiquei das possibilidades, me informei, sabia dos meus direitos, tinha um companheiro que me apoiava como podia. Só não tinha um médico de confiança, o que em Portugal não era coisa fácil, pois lá, pelo menos na época, não haviam médicos humanizados (até onde eu sabia).
Mas na hora P (de parto), soltei as rédeas. Percebi isso quando li este relato de parto. No momento que ela questiona a necessidade de mais um CTG durante seu trabalho de parto e entra num acordo de 5 minutos.
"Era isso que eu devia ter feito!!!!!!"
Foi a primeira coisa que me veio na cabeça. Insight.
Mas meu medo de que meu lado intelectual intervisse na hora P, que deveria ser uma hora puramente fisiológica e instintiva, fez com que eu não questionasse certas atitudes, procedimentos, nem nada do tipo. Na minha cabeça, eu havia delegado essa responsabilidade para meu esposo e minha doula. Que fizeram o seu melhor dentro das possibilidades. Mas a hora P era a minha hora. Eu deveria ter assumido essa responsabilidade, me empoderado e lutado pelo que eu queria.

Não tiro a culpa do sistema muito menos do médico.
Eu só queria que me deixassem em paz.


Mas 2 anos depois, eu percebo e assumo minha parcela de responsabilidade pelo que me aconteceu.
Isso faz parte do crescimento, do amadurecimento, do preocessamento do "luto" pelo meu "não parto", e me sinto privilegiada por ter conseguido pensar nisso.

Apreendido. Confiscado. Amarrado.

Pois não foi apenas nesse momento que fiz isso. Quantas e quantas vezes ignorei (consciente ou inconscientemente), coisas que não gostava, e soltei as rédeas, por inúmeros motivos. E depois chorei pelos resultados que recebia.
Quantas e quantas vezes "dormi", psicologicamente falando, quando não fui plenamente consciente do momento presente e do que se movimentava dentro de mim. Ignorando o que queria, por medo de enfrentar certas coisas.
Quantas coisas não confisquei...

Que cada vez mais, sejam menos coisas...