quinta-feira, 25 de julho de 2013

a minha escolha de mãe

Em 1º de janeiro de 2013 eu tomei uma decisão que já queria ter tomado a um certo tempo. Não foi planejada, não foi resolução de ano novo. Foi pura e simplesmente por força das circunstâncias. Triste que tenha sido preciso chegar a isso para eu criar coragem e decidir.

Vamos lá entender o processo:
Quando  o Dudu fez 4 meses eu voltei a trabalhar (sim, estudante de doutorado, ou seja, cientista, também é profissão, embora não completamente reconhecida). Já tinha combinado com a minha mãe e ela ficaria com ele até os 6 meses, quando então ele iria pra creche. Pois é, creche. Eu me arrepiava toda com essa palavra muito antes de engravidar. Mas como decidimos que a gravidez viria durante o doutorado, era a única alternativa dentro das condições que tínhamos.
Eu continuei com a amamentação exclusiva até ele iniciar na creche. Tirava leite e deixava congelado para minha mãe dar para ele nos horários que eu não estava (pela manhã e um pedaço da tarde, já que eu conseguia almoçar em casa e ainda tinha direito a um horário de trabalho reduzido por conta da amamentação).
Então, logo depois de minha mãe ter ido embora, na primeira semana de creche o Dudu já ficou doente. Infecção de garganta (que posteriormente desconfiei ser um diagnóstico errado, mais para frente explico melhor). Sete dias de antibiótico (ATB)+ anti-inflamatório. Já fiquei encanada, puxa vida, uma criança de 6 meses precisa realmente tomar ATB? Não pela necessidade em si, mas pelos motivos que levaram a necessidade. Mas pronto, depois do estresse da primeira doença dele, vieram as vacinas dos 6 meses.
Eu expliquei para a enfermeira que ele havia acabado de terminar o ATB, e perguntei se não era melhor esperar um pouco até ele se recuperar, mas ela disse que não, e eu mais uma vez, confiei no sistema. Três dias depois, febre. Hospital e diagnóstico de uma traqueíte infecciosa. Viral, não precisa tomar ATB. Questiono se isso poderia ter sido a primeira doença e uma médica acredita na minha hipótese, ou seja, é provável que ele não precisaria ter tomado ATB da primeira vez. Questiono se as vacinas podem ter afetado sua imunidade pois ele poderia não estar completamente recuperado quando as tomou. Ela desconversa...
Mais alguns dias passaram, a febre cessou e Dudu volta para a creche. Por uns 15 dias tudo corre tranquilamente, pelo menos no quesito saúde, porque meu coração ficava muito apertado de ter que deixar ele lá e perder preciosos momentos ao seu lado, acompanhando sua introdução a novos alimentos, suas caretinhas, e suas descobertas.
Então um dia ele acorda umas 6 vezes a noite, aos berros, e só sussegava se estava no peito. Dormia um pouco e logo acordava aos berros de novo. E veio a febre por quase dois dias e ligamos para o Saúde24.

Parênteses:
O Saúde24 é um serviço que tem em Portugal em que você liga para um número gratuitamente (808242424) e é atendido por enfermeiros que seguem uma espécie de protocolo, com perguntas pré-determinadas e no final te encaminham para onde for mais conveniente dependendo da gravidade do caso. Se necessário ir até um serviço de emergência, eles avisam a instituição e ao chegar você tem prioridade no atendimento. Eu utilizei muito o Saúde24 e sinto falta dele aqui no Brasil. Me poupou várias saídas desnecessárias.

Me dirigi então ao serviço de emergências do hospital e depois de exames de urina, sangue e uma aspiração no ouvido descobriram que ele tinha uma otite. Resultado da secreção acumulada na traqueíte, pois nenhum médico nos informou que teríamos que aspirar o nariz dele e não deixar acumular secreção. Obrigada médicos, mais uma vez!
A partir daí foi uma cascata de doenças. Outra otite, outra virose, e em 1º de janeiro, após mais de 6 dias de febre, uma médica de verdade descobriu uma pneumonia que já tinha tomado mais da metade do pulmão esquerdo dele.

Soco no estômago, bofetada na cara...

Em dois meses de creche a contabilidade foi essa: ida a 4 pediatras e 1 homeopata, Três tomas de antibiótico (sem contar a da pneumonia),  e devo ter ido às urgências do hospital umas 10 vezes.
Cada vez que eu ia, a explicação dos médicos para as doenças era semelhante: na creche é assim mesmo. Pelo menos não falavam que era até adquirir imunidade, como dizem a maioria das pessoas, já que não é enfiando uma criança num "infectário/infantário" que ela vai "adquirir imunidade". É através de alimentação saudável, do engatinhar no chão, do brincar na terra, do comer com a mão, etc. A criança desenvolve seu organismo (e consequentemente a imunidade) com o passar dos dias, assim como desenvolve a fala, a coordenação motora, etc. Eu pelo menos não vi até agora nenhum artigo científico recomendando deixar as crianças na creche como forma de estimular sua imunidade. Tenho visto é o contrário: "Criação moderna" prejudica desenvolvimento do cérebro das crianças.

Cada vez que eu ia com o Dudu para o hospital, enquanto esperava, com ele no colo, queimando de febre, ou chorando de dor, eu sempre pensava: vale a pena mesmo eu trabalhar para isso? O que estou ganhando? Quanto vale meu trabalho? O que é mais importante? E a resposta para essa última pergunta era sempre a mesma: o meu filho.

Assim, quando o Júnior veio me falar o resultado do raio-X, eu, que até agora tinha sido forte e tentado encarar as coisas como "faz parte", mudei de rumo e pedi para o Júnior se poderíamos não deixar mais ele na creche.
Não tem coisa no mundo que faça valer a pena ver um filho doente por conta de uma situação que você própria está causando e tem a possibilidade de fazer diferente, pois sei que para muitas mães, essa é a única solução e não tem escapatória.

Então eu conversei com minha orientadora, expliquei a situação e ela foi muito compreensiva e entendeu o meu lado. Trabalhei até o final de janeiro, o Dudu ficou em casa por uns dias com uma babá e o resto eu ficava com ele e trabalhava nos intervalos de sono e noite adentro num artigo para publicação.

Meu coração de mãe se aliviou e cada dia que passa me fortaleço nessa escolha. Mesmo que na época muita gente não concordava com a minha decisão. Mais uma vez, eu escolhi nadar contra a correnteza.
Não só pelas doenças, mas por saber que esse é o melhor para ele em todos os sentidos!
Porque na minha cabeça, não entra a coisa da sociedade de que mulher independente é aquela que deixa o filho na creche e vai trabalhar. Para mim, mulher realmente independente é aquela que pode fazer escolhas, não importa quais sejam, pois não temos o direito de julgar ninguém.
Na minha busca infinita por conhecimento, acabei me deparando com dois textos que me identifiquei muito, e acho que estou me tornando uma feminista. Uma das frases que mais gostei foi essa:
"Não me conformo com uma sociedade que aplaude quando você abdica da sua vida para entregar aquele projeto e ser promovida e torce o nariz quando você abdica de certos privilégios para criar o ser humano que colocou no mundo. "
Desse blog aqui.

E desse blog, fui remetida a este outro, que me identifiquei ainda mais:
"Até que chegaram os filhos e eu tive um novo mundo revelado para mim. E entendi que para muitas pessoas o sucesso é um conceito multifatorial, mesmo quando aplicado dentro do universo "carreira". E que no meu caso, para o tipo de ingredientes que compõe a complexa receita de pão cascudo que eu sou, sucesso jamais estaria em usar meu tempo longe da minha família para gerar dinheiro ou satisfação pessoal."
"Meu jeito de lidar com maternidade e "profissão" (já tendo desistido de achar que existe o príncipe encantado das carreiras esperando por mim) foi promover desconstruções das coisas que eu tinha como certas e resgatar possibilidades perdidas."
E assim, percebi que também não irei encontrar o "príncipe encantado das carreiras",  porque meu coração pertence a outra coisa. Coisa essa que tem muito de conhecido, mas que ainda tem muito por conhecer!

É isso que eu venho tentando segurar ultimamente. O assumir que eu não sou carreirista, meu sonho não é nadar em dinheiro. Minha contribuição para o mundo será na criação do meu filho, será no dia a dia, ao ensiná-lo o pouco que sei sobre o amor, sobre Deus, sobre ser bom e justo. Sobre valorizar suas conquistas e aprender a lidar com as perdas. Sobre ser cidadão e respeitar o próximo. Sobre fazer o bem, sem olhar a quem, sobre respeitar os animais, se alimentar de forma saudável, pois o corpo é a morada do espírito, e os dois precisam ser cuidados. Sobre desenvolver sua autonomia e contribuir positivamente para a sociedade que ele está inserido. Sobre lutar por seus direitos e suas crenças (no que ele quiser acreditar), sem deixar que outros tentem enfraquecer seu coração e seus ideais. Porque eu acho que é disso que o mundo precisa. E não de mais um ser humano que aprendeu logo cedo o que é separação, o que é se sentir abandonado, o que é ser privado de contato, carinho e amor materno.
Porque para mim, não tem dinheiro no mundo que me faria trocar essa oportunidade, de poder criar meu filho de acordo com o que acredito e também aprender com ele.

Por favor, não sejam radicais ao me interpretarem. Não quero entrar na discussão da criação e do dinheiro agora, só acho que seja preciso que cada um descubra o que é mais importante para si e estabeleça suas prioridades.

É claro que não vou fazer isso para sempre. Quer dizer, um filho é para sempre, mas conforme eles crescem e já tem mais autonomia, nossa presença não será sempre requerida. E aí sim, eu me permitirei dedicar mais tempo ao trabalho, seja ele qual for (boleira, doula, artesã, empresária, professora, cientista, ou o que eu me permitir ser).

Não poderia deixar de mencionar que essa minha escolha só foi possível graças ao apoio do meu querido esposo, o Júnior, que mesmo sem concordar com a minha decisão, me permitiu vivenciá-la. Meu agradecimento eterno! <3

Essa foi a minha escolha de mãe, e esse é o meu chefinho por enquanto :)

O engraçado de tudo foi a sincronicidade. Pois alguns meses depois de desistir do doutorado, apareceu uma proposta de trabalho para o Júnior aqui no Brasil. Viva!


2 comentários:

Dagy disse...

Que lindo texto Iris!
E com ele percebo que somos mais parecidas do que eu imaginava, a sua decisão de ficar com o seu baby querido é algo que tenho clara em minha mente, como você também não quero ser rica (financeiramente), o que mais quero na vida, o verdadeiro motivo da minha felicidade é sempre a minha família.
Acho que devemos sempre ouvir nosso coração e buscar essa felicidade, não importando o que os outros digam ou pensem.
Beijoooooo

Iris disse...

Obrigada Dágela!! Também percebi que somos meio parecidas depois de ter lido um texto no teu blog, sobre trabalhar em casa. E que possamos sempre cuidar cada vez mais da nossa família! Obrigada pelo carinho! Beijosss