sábado, 7 de novembro de 2015

quase 32

Há pouco menos de 1 mês de completar 32 anos, surge aquela vontade inexplicável de escrever.
Os 30 estão sendo realmente marcantes...
Sentia que antes tudo era incerto, apesar da certeza ilusória de que se tem aos 20.
Jurava que seria veterinária a vida toda. Mas não conseguia me imaginar no futuro.
Agora também não consigo, mas já me sinto muito mais no "caminho" do que antes.
Qual caminho? O meu...
Aos 21 fiz uma oração pedindo para Deus me guiar no caminho onde pudesse aprender a amar mais. Havia lido (ou re-lido) "O Dom Supremo", que descrevo como uma releitura da carta de São Paulo aos Coríntios, sobre o amor, ou a caridade, dependendo da tradução da bíblia. Conforme as coisas aconteceram eu percebi que realmente fui guiada por esse caminho, pois parei de comer carne, fazia caridade... Por algum tempo me senti bem, sendo a pessoa que eu sempre quis ser, fazendo o que eu sempre quis fazer... Por algum tempo...
Porque evoluímos e inevitavelmente vamos precisando de "mais". Mais conhecimento, mais aprendizado, mais reflexão. Surgem novas perguntas.
Aos 26, ainda rezando para aprender a amar, fui até Portugal. Ah, amar era tão bom!!
Sempre fui a ingênua que acredita que o amor pode resolver tudo. Até perceber que eu não sabia amar. Lia e relia a minha bíblia, "O Dom Supremo", percebia onde errava, mas sem perceber eu havia subido um degrau e precisava de novos conhecimentos sobre o amor, e mais ainda, sobre mim mesma. Hoje, Sri Prem Baba faz esse papel.

Eu já tinha o conhecimento, já sabia o que fazer. Meditação, auto-observação, presentificação. Mas não conseguia praticar. Era insegura sobre o que dizia meu coração, ou melhor, eu mal conseguia ouvi-lo.
Quando engravidei, me perdi completamente de mim. Racionalizei o processo todo. Estudei, li, discuti. Sentia um medo incrível. Mas não consegui lidar com ele de uma forma produtiva. Eu tratei o medo como um problema, e problemas se resolvem com estudo, pensava eu.

Não foi suficiente obviamente.
E depois, como um processo de luto, cheguei na fase de aceitação e do perdão.
Me perdoe filho, por não ter tido condições de te trazer ao mundo de uma forma mais tranquila, amorosa, e respeitosa. Me perdoe por não ter confiado no meu coração e lutado pelo que eu acreditava.
A maternidade aguçou-me o senso de responsabilidade.
Alguns anos depois do Dudu ter nascido me deparei com uma encruzilhada. A confusão era tamanha que eu não conseguia sequer pensar ou medir consequências, ponderar. O sentimento que me lembra dessa época é: instinto de sobrevivência. Penso que nesses casos, as decisões que tomamos podem parecer irracionais para olhos mais desatentos. Mas existem situações que te chamam a atenção de tal maneira que você é obrigado a encarar a realidade.
Certo dia fui no circo com minha irmã, o Dudu e minha sobrinha. Começamos a rir com o palhaço, e de repente eu estava chorando. Como se o riso tivesse aberto a porta da tristeza e dito a ela: pode vir, aqui é seguro. Aquilo foi tão paradoxal para mim, tão marcante... Fiquei pensando e tentando entender o que realmente estava acontecendo com a minha vida.
Aprendi desde criança: que teu sim seja sim, que teu não seja não. Então eu me vi dizendo não, depois de tanto insistir no sim.

É difícil dizer não para expectativas. Dói dizer não para planos, para compromissos que você pensava ser capaz de honrar, que você queria honrar! É frustrante reconhecer a sua incapacidade de amar plenamente, de aceitar, de compreender. É um martírio você perceber que teu modo de pensar, as coisas que você acredita, suas atitudes, fazem outras pessoas sofrerem. Tem o sentimento de fracasso, tem o sentimento de culpa, não dá pra escapar. Pelo menos eu não consegui.


Com quase 32, quase 1 ano depois do caderno da gratidão, separada, ainda busco o caminho de aprender a amar. É tarefa para muitas vidas, tenho consciência disso. Mas hoje sinto que sementes que foram plantadas nos meus 20 anos, agora começam a criar raízes. E esse tem sido um processo muito mais tranquilo que a fase da plantação.
Abençoados sejam todos os que contribuiram em todas as etapas. Gratidão inclusive pelas pedras, pelas chuvas em excesso, pelos dias de sol escaldante. Hoje, além de agradecer já consigo amá-las como são, na maior parte das vezes. Gratidão também pela água nos dias de seca, pelos adubos que fui recebendo, pela sombra nos momentos necessários.



E que venham muitas primaveras, se assim for da vontade de Deus!