segunda-feira, 5 de outubro de 2009

temas complexos: vegetarianismo - parte 1

Sempre fugi de discussões homéricas que nunca levam a uma conclusão como religião, política, gosto musical e afins.
Mas, recentemente tomei conhecimento de uma campanha lançada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) que em parceria com a prefeitura de São Paulo, promove a Segunda Sem Carne.
Achei muito inteligente o slogan da campanha e gostei da arte do logo também :)

Então, contrariando minha resistência de me meter em assuntos polêmicos, coloquei essa imagem no meu orkut.

Falo da minha resistência pois a maioria das discussões que vi sobre assuntos polêmicos acabam caindo na agressão pessoal, na disputa do: "o meu é melhor!" Mas então me lembro de uma frase do Eduardo Borba, um senhor que trabalha com cavalos. Ele diz que para montar um cavalo, devemos deixar o ego de fora, pois ele pesa muito quando estamos em cima do animal. Acredito que nestas discussões polêmicas isso poderia ser aplicado também.

Qual não foi a minha surpresa em receber um comentário de um amigo de faculdade, sobre a proposta do Segunda Sem Carne. Fiquei muito feliz, pois era uma oportunidade de tentar aplicar o princípio de não levar as coisas pelo lado pessoal, tentando compreender o ponto de vista do outro e a troca de informações. Meu amigo questionava porque deveriamos abandonar um hábito que sustentamos há milênios como o de comer carne e que nos levou a evolução nos primórdios do desenvolvimento da espécie humana.

A sincronicidade foi que nesta semana eu estava me questionando o, digamos, "gatilho" que havia me feito pensar em me tornar vegetariana. Então me lembrei que ao conhecer um vegetariano, eu me sentia mal em comer carne quando perto dele, como seu eu fosse agredi-lo com a minha alimentação. Complexos psicológicos a parte, isso me levou a buscar mais informações sobre "ser vegetariano". Entre filmes, leituras, pesquisas e conversas, tomei minha decisão. Em 01/01/2007 eu adotei o ovo-lacto-vegetarianismo. Meu amigo vegetariano dizia que as razões para se tornar vegetariano eram muito pessoais, e eu nunca fiquei sabendo da dele.

Ele tinha razão. É muito pessoal. Após assistir o classico do vegetarianismo no Brasil, o filme A Carne é Fraca, do Instituto Nina Rosa, ainda não me convenci. Como sou Médica Veterinária, minha visão quanto a alguns procedimentos mostrados no vídeo era outra, e eu entendia o porque dos procedimentos, coisa que o video não mostra. Por ser enfático no sensacionalismo, eu sabia que precisaria de algo mais consistente para me convencer. Foi então que me recomendaram o filme Terráqueos (Earthlings) e após chorar de remorso e culpa, estava decidido. Eu deveria fazer o que pudesse para mudar meu papel no sociedade. Também li alguns livros como Alimentação Vegeteriana: Chega de abobrinha, de autoria do mestre DeRose. E procurei me informar sobre o aspecto nutricional da nova dieta que eu pretendia adotar. O meu maior motivo na época era o impacto ambiental que a indústria da carne provoca no meio ambiente. O gasto de água, a devastação de áreas, a poluição gerada com os dejetos suínos, e a criação de gado. Devo enfatizar que esse aspecto ambiental eram dados que eu já tinha, pois como falei, sou formada em Medicina Veterinária e visitei granjas de suínos e abatedouros. Existem alternativas no caso do dejeto dos suínos, como os biodigestores. Mas o preço de um sistema desse era considerado pela grande maioria dos produtores como sendo inviável, apesar dos benefícios que traria para o meio ambiente e para a prória propriedade, pois é gerado energia elétrica a partir do processo. Para os abatedouros, existem as lagoas de tratamento, que nem sempre são utilizadas para tal fim. E o desperdício de água potável no abate dos animais me assustavam. Mas, eu ignorava esses dados como sendo parte da engrenagem do processo e não via alternativa para tal prática.

Não posso deixar de mencionar, que neste meio tempo eu passei no concurso de mestrado e fui trabalhar com qualidade de carne. Sim, carne. Tive meus motivos para isso, e o assunto mereceria um outro post a respeito. Mas aos curiosos de plantão, eu consegui terminar o curso.

Como, graças as forças do universo, o mundo dá voltas, eu descobri que poderia sim, fazer alguma coisa para o meio ambiente.

Parar de comer carne era uma delas.

E com isso descobri como era alienada quanto a questão de alimentação e novos sabores. Descobri a variedade de vegetais e temperos, e como a conjunção de alimentos nos traz algo totalmente novo. Isso foi muito marcante para mim, que sempre busquei o diferenciado. Lia sempre sobre pessoas comentando como se sentiam melhor em não comer carne, como estavam mais leves. Eu não sentia nada disso, só me maravilhava com a possibilidade infinita de variar minha alimentação!

Aos poucos fui percebendo o quanto deixei de experimentar novos sabores enquanto comia carne. Pois não conseguia comer apenas a deliciosa macarronada sem que tivesse uma carne junto. Mecanismo adaptado ao corpo. Ao me propor uma nova visão, as oportunidades apareceram!

É claro que eu ainda tinha vontade de comer carne. Principalmente quando eu ficava brava com alguma coisa, ou quando via alguma propaganda do McDonald´s mostrando aqueles hamburguers tentadores!
Mas, porém, contudo, entretanto, eu era muito orgulhosa para cair em tentação. Imaginava que seria como um vício. Ou que não me fortaleceria comer carne, pois sempre fica aquela voz no fundinho dizendo: "Ah, mas você já comeu aquela vez, coma agora de novo". E como eu não havia parado aos poucos de comer carne, eu cortei tudo a partir da data que havia estipulado: peixe, gado, galinha, suíno, e derivados, não caberia uma recaida no meio do meu caminho de tentar salvar o planeta.
Mas minha mãe tem razão, junguianos pecam pelo excesso. Tá na hora de parar o post.