terça-feira, 10 de dezembro de 2013

a reflexão dos 30

Começei a escrever isso em 29/10, e mais outras coisas até chegar o tal dia dos 30. Mas esse primeiro foi o mais perto que cheguei dos sentimentos e emoções que os "30" me trouxeram.

A reflexão dos 30.
Começo pelo passado. Uma das primeiras coisas que me veio em mente foram os meus 15 anos e um livro que li “Meus vários 15 anos”.
Aos 15, sonhava com uma festa “tradicional”, com vestidos deslumbrantes, jantar e valsa. Num típico delírio consumista deslumbrante. Mas ao mesmo tempo, meu lado “do contra” trocou a festa por um cavalo. E isso foi determinante. Aos 15, ganhei algo que mudou e determinou uma boa parte da minha vida. Iceberg, um cavalo meio sangue quarto de milha que me desafiou em inúmeros aspectos, e que hoje me provoca um misto de vergonha e agradecimento. Vergonha pois foi nesta época que achei que violência, com animais, resolveria alguma coisa. Vergonha por hoje perceber que o cavalo era um objeto que eu utilizava para descarregar minhas frustrações. Vergonha por ter demorado a perceber que mesmo eu batendo ou tentando “ensinar” alguma coisa a ele, isso não aliviava minhas frustrações. Vergonha por ter tentado ser uma boa amazona por tantos anos e não ter conseguido. Vergonha por inúmeras outras coisas que vivi com os cavalos e seu “meio moderno”.
Agradecimento por tudo que aprendi. Pelos dias que chorei por não ter conseguido. Pelas provas que perdi, pelas competições que participei, que tiveram um papel importantíssimo na aproximação de meu pai. Pelos lugares que conheci, pelas pequenas provas que fui tendo ao longo do caminho de que é possível fazer as coisas com animais sem usar a violência e que culminaram com a minha opção de me tornar vegetariana e aos poucos ir adquirindo o respeito à vida.
Ah, a violência. Em suas inúmeras formas de expressão. Que hoje através da maternidade tem mexido tanto comigo. Violência e exploração animal, violência infantil, o que há de comum? Em ambos os casos, é violência contra um ser que não consegue expressar seus desejos de uma maneira clara para nós “adultos civilizados (?!)”. Um ser que nem sempre obedece nossas vontades e nós, na nossa megalomania do ego, achamos que deveriam ter praticamente força de lei, pois nós somos os adultos e temos o poder.
Aos 30, formada, com marido e filho, feminista recém descoberta, empreendedora tímida, contestadora, ou como diria minha mãe: procuradora de cabelo em ovo.
Na confusão dos 15, sonhava que com 30 tudo estaria resolvido ahahahahhahahahahhahahhaahahahaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
É engraçado e me deixa desesperada ao mesmo tempo. Contraditório, como sou em muitos aspectos.
Portadora de uma subjetividade que me engole, num emaranhado de possibilidades cada vez mais complexas. Até descobrir a complexidade de Edgar Morin e me sentir um pouco compreendida (por mim mesma, vejam bem).
Aos 30 posso assumir que dentro de mim, meu grande desejo “material” sempre foi o da maternidade. Por mais que eu tentasse ter um grande desejo na carreira profissional, como é o esperado nos dias de hoje: ser alguém bem sucedido, isso não me satisfez. Até que após o mestrado, com 25 anos, assumi que não sabia o que fazer da vida. Assumi minha dificuldade de me encontrar e prover o meu próprio sustento. Assumi minha incapacidade de abandonar o lar e cair no mundo na luta desenfreada da sobrevivência. Com uma faculdade e uma mestrado nas costas, fui fazer cookies e cupcakes e fazer bico em empresa de decoração de casamento. No meio tempo conheci meu futuro marido, que morava em Portugal. Portugal?! Nunca pensei em ir a Portugal. O mais perto que cheguei foi o clube Português e o tradicional bacalhau. Pensei em voluntariado, o sangue sagitariano bateu forte e rumei além mar. Para mais uma vez me descobrir incapaz. Descobrir e sozinha criar coragem para assumir o fracasso e a necessidade de uma vida menos aventureira ou mais confortável. Meu outro sonho de cair no mundo fazendo voluntariado foi se embora no Montijo, a beira do Tejo.
Mais uma vez tive que me reinventar e dessa vez, buscando começar minha própria família, fui contra meus instintos, numa tentativa de me enquadrar no padrão da sociedade cuja pressão eu sentia como: tens que trabalhar e ganhar dinheiro. Fiz o que eu sabia fazer, fui estudar. É o que faço melhor, não tenho grandes dificuldades, vou ter um salário e essa parte vai ficar tranquila para eu poder cuidar das outras. Eu estava imensamente feliz por ter encontrado meu esposo e aceitei profundamente agradecida a oportunidade de cursar um doutorado.
Veio a maternidade e desmoronou tudo que eu vinha tentando construir na tentativa de me enquadrar na sociedade. Ainda numa última tentativa, deixei meu filho numa creche, indo contra todos os meus instintos que bradavam vorazmente contra isso. Não funcionou. Me armei até os dentes e bati o pé: para a creche meu filho não volta.

Assumi, porque agora já nãe era só a mim que influenciava, era alguém que nutro profundo amor, alguém simbiótico, meu filho. Encarei os julgamentos alheios, a não concordância do meu esposo, e a perda da “independência financeira”. Eu precisava do meu filho e ele de mim. Era isso que eu sentia, claro! E a lucidez que de  tempos em tempos me visita bateu palmas de felicidade. “Ela conseguiu ouvir seu coração”, aleluia! Obrigada filho, por me dar forças no seu sofrimento, para que eu conseguisse tomar uma decisão.

Aos 30, me descubro feminista. Me descubro intolerante. Me descubro caminhante. Me descubro uma meia-ativista. Descubro que pequenas coisas que vão acontecendo ao longo dos anos tem um poder (que não lhes foi dado) de destruir coisas grandes. E que quando as percebemos destruidas, não sabemos dizer o que a destruiu. Não é como uma chuva forte que destelha uma casa. É como uma chuva mansa, que vai se infiltrando na terra e faz cair o barranco. E aí você olha e diz: mas estava chovendo tão fraquinho, como isso foi acontecer?
Fragmentos...
Aos 30, nunca imaginei tamanha revolução ou significado. Pela primeira vez me cantaram parabéns e não fiquei envergonhada. Estava inexplicavelmente a vontade. 
Esses dias, depois de assistir um vídeo (http://vimeo.com/66058153), ao ouvir a palavra “blessed”, foi como se uma porta tivesse se aberto. Me lembrei do texto que escrevi na aula de Public Speaking, onde falei sobre Joseph Campbell e sobre encontrar sua “bem aventurança” ou bliss. No auge da minha necessidade de encontrar uma...

Não sei onde foi parar o texto agora, talvez esteja perdido em alguma conta de e-mail ou em algum caderno jogado entre as mudanças que fiz. O fato é que tive um insight, ou pelo menos pareceu um: minha bliss é a maternidade. Isso é o que sempre quis! Pronto, assumi. Levei 30 anos para descobrir (?!). Talvez seja uma das minhas bliss, mas essa eu sinto do fundo do meu coração que é. Também assistindo um outro vídeo li a frase: “Maternidade: Uma ruptura existencial” o que também me fez muito sentido! Nada na minha vida até hoje foi tão revolucionário quanto a maternidade. Minha história com os cavalos foi determinante para muita coisa, e agora, 15 anos depois, uma nova etapa, uma nova revolução: a maternidade. Será que estou influenciada pelo livro “Meus vários 15 anos”? Ou será que esse período realmente tem algum significado nas fases que passamos?
E nesse meio tempo da maternidade, acreditem, várias ideias já passaram por essa cabeçinha. Doula, cake designer, empreendedora, um café-livraria-floricultura, jornalista científica, free lancer de textos científicos, e aos poucos fui identificando uma vontade de ser jornalista. De escrever as coisas que vem na minha cabeça. A escrita sempre foi uma via de mão dupla para mim. Ao mesmo tempo que morro de preguiça, outras vezes, escrever é a única solução para eu me entender e organizar meus pensamentos um pouco.
Infinitas possibilidades como sempre...
Passei o dia 6 trabalhando, fazendo e assando panetones, chocotones e cookies. Confeitando bolos e cupcakes. No dia seguinte iria participar da Feira do Empreendedorismo Materno. Que significativo! 
Confisco o necessário, pois significar algumas coisas tem sido cada vez mais complexo. 
Aos 15 ganhou um cavalo, aos 30, fez um bolo de cavalo. Sem mais divagações. Que venham mais 15 :)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

o dia que descobri a minha intolerância

Era 24 de dezembro de 2009, precisava ir ao mercado. Fui logo cedo para evitar a "muvuca". Não adiantou muito. Mas como só precisava de duas coisinhas, ok. Fui até o caixa rápido e uma senhora e uma moça estavam juntas, cada uma com um carrinho cheio, que com toda certeza ultrapassava o limite de 10 itens do caixa rápido. Já me passei! Comentei com a minha irmã como tem gente abusada!!! E aquilo ficou fermentando dentro de mim.
" Que povo sem noção!! Não estão lendo a placa que limita o número de itens? Que falta de respeito com os outros!!"
" E a caixa que não diz nada. Era serviço dela limitar o acesso as pessoas que ultrapassam o limite de itens!! Que incompetência!!"
" Isso não está certo, vou falar alguma coisa." "Não Iris, deixa pra lá, é Natal, relaxa" "Não dá, é por a gente ficar quieto diante dessas irregularidades que coisas assim continuam acontecendo, no mercado e em inúmeros outros lugares! Isso não está certo!"
Pronto, era o argumento que eu precisava. Não seria conivente com aquilo.
Perguntei para a senhora se ali tinham 10 itens.
Claro que a senhora já topou o que eu estava querendo e falou que a compra era dela e da filha dela.
Ahmmm, fiz eu. É porque tem um limite de itens sabe, já que aqui é um caixa rápido.
Então a senhora resolveu comprar briga: Você está querendo dizer que eu estou errada?
Não não minha senhora, se a senhora diz que está tudo bem, então está tudo bem!Eu devo ter me enganado. Um feliz natal para a senhora!
A minha ironia pegou ela de surpresa, e sairam resmungando qualquer coisa.
Eu dando uma de santa, ainda comentei com a caixa como o pessoal ficava estressado nessa época.

Não sei bem se foi em seguida ou durante o dia, mas como num passe de mágica, o insight apareceu.
EU SOU INTOLERANTE.
Juntamente com isso veio uma coisa ainda mais interessante. A intolerância te dá poder. Pois os argumentos que você usa internamente te garantem que VOCÊ está certa. E como não lutar pelo certo???
Eu não consigo.

Percebi como essa intolerância alcançava diversos aspectos da minha vida, tipo um polvo sabe.
Tinha discussões tremendas com meu pai sobre a maneira que ele fazia as coisas no sítio (dele), principalmente as relacionadas a veterinária, curso que me graduei. Essas discussões muitas vezes me transtornavam. "Caramba, se eu estou dizendo que o certo é assim, por que ele não quer fazer????" O certo, o poder do certo. Nada mais existia além do "certo", do MEU "certo".

Por isso é tão difícil se desvencilhar da intolerância. Ela te dá poder.
Envolvendo valores internos de cada um, que muitas vezes nos estruturam, fica muito difícil se deixar perceber que existem outros "certos" além do seu.

Não sei se tenho uma dica ou receitinha para lidar com a intolerância. Para mim, só o fato de reconhecer ela na minha personalidade, foi um passo gigantesco. Hoje já consigo sentir em alguns momentos quando a intolerância vem chegando para me dominar. E a primeira coisa que penso é: RESPEITO.
Não posso, nem devo obrigar as pessoas a pensarem da mesma maneira que eu. Por mais que eu ache, tenha certeza, desse a minha vida por determinada coisa, julgando ser o certo. Continuo limitada a uma única e irresistível coisa: o exemplo.
É o máximo que posso fazer. Se considero minha ideia/atitude tão certa assim, a única maneira eficiente de mostrar para outras pessoas isso, é sendo o exemplo do que acredito. Ou como diz aquela famosa frase: Seja a mudança que você deseja ver no mundo.
Se me pedem a minha opinião, eu sou muito clara (ou pelo menos tento), mas em alguns momentos consigo me limitar apenas em dar a minha opinião, e deixar a outra pessoa livre para encontrar o que for melhor para ela.
Não, nem sempre é tão simples assim. Mas só de perceber certas nuances e movimentos, já é extremamente libertador.

Confiscado.

domingo, 3 de novembro de 2013

1 ano e meio

18 meses, 1 ano e 6 meses.
De, com e do Dudu.
Com 1 ano, devido a mudança, não consegui deixar um breve relato das suas conquistas.
Com 1 ano e meio, parece que ficou mais fácil de perceber suas mudanças.
Já percebemos ele grande, e com a barriga ("biguiga") de bexiga um pouco menor :P
De um dia para o outro consegue fazer coisas que antes não fazia. Subir sozinho no escorregador do parque foi uma delas! Me surpreendi e comemorei mais que ele.
Tem um vocabulário imenso para a idade. Pelo menos todos no ônibus ficam espantados com suas palavras e conversas e sempre vem me contar do neto/bisneto que não falava e só melhorou depois que entrou para a escola.
Ainda acorda para mamar a noite e tem dias que não sossega enquanto não sai leite.
Tomou seu primeiro susto com o cachorro do vizinho que pulou do carro e latiu para ele que estava no chão. Ficou repetindo "au-au" umas 100 vezes, e depois que eu expliquei que o "au-au" estava brincando, o "bincando" se somou ao "au-au", juntamente com o "sai".
Fica extremamente feliz com visitas em casa. Ri, corre, imita a risada, fala alto, quer mostrar as coisas. Uma fofura!
Foi batizado pelo Frei Afonso, primo da vovó, numa cerimônia linda e simples, mas muito siginificativa.
Participou de sua primeira manifestação, a Marcha Pelo Parto Humanizado. Pedindo paz ao nascer, além de "beichaichas" (bolachas).

Continua com o apetite de "pedreiro", mas tem variado os dias que come super bem com outros que almoça beterraba e beringela.
Ficou ainda mais apegado ao pai e muitas vezes só consigo fazer coisas com ele, se o pai estiver por perto, como trocar as fraldas.
A-DO-RA andar de bicicleta ("biquéta"), na cadeirinha ("cad-iiiinha").
Já diz "eu ti amo/tianu", em situações em que cabe a sentença. Um tanto curioso, e imensamente apertável!
Diz bom dia, boa tarde e boa noite, também nas situações onde a própria mãe esquece de dizer (:x).
Demonstra um certo receio do escuro ("cuiu"), e uma vergonha charmosa de amigos que se aproximam de nós e falam diretamente com ele.
Já subiu na cadeira e dali para a mesa, e também já caiu dali.
Já memoriza muito bem algumas coisas. Depois de 3 dias encontrando a mesma pessoa com um bebê no parquinho, no 4º dia, ao sair de casa ele diz o nome da pessoa e "neneee".
A mãe está cada vez mais apaixonada e agradecida por esse tesouro. Agradecida a Deus e ao esposo maravilhoso que guenta as pontas pagando as contas enquanto a mãe coruja cuida do pingo de gente, futuro da nação.
Confiscado.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

sobre criar filhos e a ignorância

Esses dias saiu uma matéria no facebook do estadão apontando que a ignorância é a principal causa da mortalidade infantil. Mais detalhes aqui.
Fiquei pensando bastante no assunto e queria extrapolar a simples "ignorância escolar" digamos assim, pois segundo a pesquisa é o analfabetismo que tem um impacto significativo nos índices de mortalidade. Mas e a ignorância velada? Aquela que consentimos. Essa também me deixa preocupada.

Alguns podem achar que é besteira, que eu deveria me ocupar do meu filho só e pronto. É verdade, até certo ponto... porque o meu filho vai conviver com os filhos das outras pessoas, e dessa forma, o "ambiente" tem uma certa influência no meu filho. Por isso acredito que vale a pena escrever sobre isso que tenho em mente.
Para outros posso parecer insistente ou intrometida, o que também pode ser verdade, mas pode ser também que alguém só esteja precisando de umas poucas informações para começar a pensar diferente, então vou ser provocativa e dizer que se você acha que está fazendo tudo bem na criação do seu filho, pode parar a leitura por aqui.

Isso não quer dizer que vou te apontar o que está errado, porque sinceramente, ninguém teria esse poder a não ser você mesmo de julgar e perceber o que está errado para você. Só quero dizer que, bem, deixa eu parar de enrolar e falar logo.

Em várias ocasiões já disse que a ignorância é uma benção! No caso de partos, quando me tornei vegetariana, ou quando decidi parar de trabalhar para cuidar do meu filho, entre outros. Tudo isso porque quando decidi parar de ignorar as informações que chegavam até mim, eu tive muito mais trabalho! E hoje o que menos queremos ter é trabalho a mais.
O que acontece por exemplo, quando uma mãe resolve não ignorar os benefícios da amamentação e toda aquela história que tentam colocar na nossa cabeça de que não temos leite suficiente (entre outras)? Acontece assim:
"Mas 38 dias, 2 mastites e 230 tentativas depois (obrigada calculadora do mac!) consegui finalmente fazer a Alice mamar no peito."
O engraçado foi que essa mãe, falou da ignorância também:
"Queria eu ser ignorante. Dessa forma, eu não saberia dos benefícios da amamentação, e desistiria logo, e minha vida teria sido bem mais fácil. Amamentar faz bem a todos os bebês, mas o que me impulsionava ainda mais a não desistir é saber como a estimulação dos músculos do rosto e a criação de defesas que o leite proporciona são benéficas para a Alice, sob a ótica da SD."
A Alice tem Síndrome de Down (SD) e conheci sua história no blog que sua mãe tem: Nossa vida com Alice.

Eu tive um problema na amamentação, quando o Dudu tinha 1 ano e 1 mês mais ou menos. Seus dentinhos superiores cresceram e me incomodavam bastante na hora da amamentação, ficava a marquinha até. E digo, o mais fácil para mim teria sido desmamá-lo. Mas vendo a necessidade que ele ainda tem do peito, do aconchego, e sabendo que vai ter vezes que ele ficará doente (como agora) e a única coisa que ele quer saber é peito... como eu poderia desmamá-lo? Busquei ajuda, me informei, tentei várias coisas. Mas não resolveu por completo o problema, então eu percebi que teria que me adaptar caso quisesse continuar a amamentá-lo.
Não sei se já repararam, mas toda caixinha de leite tem um aviso do Ministério da Saúde sobre manter o aleitamento materno até 2 anos de idade ou mais. E porque o governo teoricamente trabalha no sentido da amamentação prolongada e os médicos no sentido contrário, ao introduzir alimentos antes dos 6 meses e ao prescrever complementos? E porque a Sociedade Brasileira de Pediatria é patrocinada pela Nestlé? Não acredita? Olha aqui: http://www.sbp.com.br/ no canto direito superior.
Pode ser "teoria da conspiração", mas porque uma sociedade médica precisa de patrocínio de uma grande empresa produtora de alimentos ditos "infantis" (leia-se leite artificial e papinhas e suplementos entre outras desnecessidades para bebês)? Os médicos não deveriam prescrever o que for melhor para os bebês?
Então, vamos ignorar essas informações e acreditar que o seu leite não é suficiente? Afinal foi o pediatra que disse! Já ouvi inúmeras explicações do porque se está oferecendo complemento ao bebê, mas nunca ouvi até agora ninguém dizendo que o pediatra encaminhou a uma conselheira de amamentação ou a um programa de apoio ao aleitamento materno. Você acha mesmo que um leite industrializado é melhor que o seu?
As pessoas lutam por um emprego com unhas e dentes, fazem das tripas coração para desenvolver um projeto para o trabalho, demonstram garra, coragem, questionam, buscam. Mas na hora que o assunto é o seu filho, confia-se cegamente no médico e rapidamente abandona-se o desejo inicial de amamentar a cria.
É realmente absurdo ter que "lutar" para amamentar. A pressão vem de todos os lados. Por isso, veja bem o que você vai decidir ignorar.

Continuando no tema de o que decidimos ignorar, encontrei esse outro texto em que a autora diz:
"É muito cômodo escolher o caminho fácil quando não temos informação, ou quando elas nos chegam de forma parcial. E naquela época, eu queria me cercar de facilidades."
É um texto bem interessante, sobre quem errou, assumiu o erro e resolveu mudar. Quem quiser ler, está aqui.

E para não me alongar mais, o que quero dizer agora é ainda mais delicado e polêmico: violência infantil.
Quando ouço histórias de crianças que apanharam dos pais na infância, preciso amarrar um monstro dentro de mim para não me deixar dominar pela revolta.


E não, ele não é tão simpático como esse aí do desenho, como podem observar pelo teor dos meus questionamentos.
Antes de começar a ler sobre o assunto eu, na minha ignorância, achava que um tapinha na bunda de vez em quando não fazia mal. Mas depois de conhecer sobre disciplina positiva, depois de me informar sobre as consequências da violência infantil, criação com apego... eu digo: um tapinha faz mal sim.
É bem capaz que se alguém vier me contar de como apanhou na infância eu comece a chorar e tenha sérias dificuldades em olhar para seus pais com os mesmos olhos. O tema me revolta!
Lembro claramente de uma cena quando era criança. Estávamos brincando e uma menina se machucou. Sangrava bastante seu joelho, então falei, vamos mostrar para sua mãe. E ela mais do que depressa, com um olhar assustado diz: não! Ela vai brigar comigo!
Oi?!
Lembro que aquilo me causou uma grande confusão. Por que ela iria brigar com a menina por ter se machucado?? Não me fazia sentido e até hoje não faz... e quantas histórias assim eu já não ouvi!
Por que brigar com uma criança que se machucou, quando o mínimo seria cuidar dela, que, lembrando, é seu filho?!

Um dos argumentos que mais me chamou a atenção quando comecei a ler sobre o assunto foi: se um amigo ou seu companheiro(a) se comporta mal, comete algum erro, faz aquela besteira, você daria "um tapinha" nele para ensinar que isso está errado? É muito provável que não! E por que então é aceito que se faça isso com crianças? Porque elas não conseguem se defender? Porque é preciso "educá-las"?
Que tipo de educação terá uma criança que aprende que ao fazer uma coisa errada o que acontece é uma surra? Será que ela vai reproduzir esse comportamento na escolinha? Afinal "lá em casa é assim"...
Pare um pouco, se coloque no lugar da criança.
No livro Besame Mucho - Como criar seus filhos com amor, o pediatra espanhol Carlos González faz uma reflexão muito interessante sobre o assunto. Recomendo.
Você acha mesmo que provocar o medo (de apanhar, de gritos, de bronca) é a melhor maneira de ensinar o certo e o errado?
Como você faria se fosse um adulto?
"Ah, mas as crianças não entendem."
Tem certeza? E quantos adultos também não entendem e repetem o erro? E você bateu neles por causa disso?
Meu esposo disse uma coisa que tem um certo sentido. As pessoas batem no ímpeto, mas aí aquilo funciona: Dei-lhe um tapinha e nunca mais fez aquilo! Então cria-se um método. Que vai depender de quanto a criança te tira do sério. E de tapinha passa para chinelada, para cintada, e quando se vê, tem crianças sendo literalmente espancadas (sob o manto de proteção da "educação"), por aqueles que deveriam protege-las, seus pais!
Mas tem gente que fala muito melhor sobre o assunto do que eu, por isso vou citá-los.
"Então, se você acha que tudo bem dar palmadas para ensinar (palmadas que assustam, humilham, envergonham e ferem, dia a dia, a autoestima de uma criança); se você acha que tudo bem deixar chorar até dormir (e produzir aflição e sensação de abandono e desamparo em um bebê que acabou de chegar ao mundo e que, tão cedo, está aprendendo que não adianta chamar porque sua mãe e seu pai não o atenderão); se você acha que tudo bem trocar o peito por mamadeira ainda que você tenha total condição de amamentar (deixando de permitir que seu filho se alimente de você e tenha momentos da mais pura intimidade, cumplicidade e conexão); se você acha que tudo bem marcar sua cesariana antes que seu bebê esteja pronto para nascer, se você acha tudo bem tudo isso, saiba: você está no seu direito. Mas isso não faz desaparecer tudo o que sabemos hoje. Isso não anula o futuro. Isso não protegerá seu filho de algo importante: más consequências. Frutos de más escolhas não dele, mas de seus pais." 
E aqui sobre estudos científicos a respeito do assunto. 
"Essa semana foram publicados, no periódico PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America) os resultados de um estudo que mostra que o bom cuidado materno na infância leva ao aumento de uma estrutura cerebral chamada hipocampo. Estudei bastante as funções do hipocampo em meu mestrado e no meu primeiro doutorado, quando estudei a neurobiologia da ansiedade e da depressão. De acordo com esse estudo, há uma clara relação entre os fatores psicossociais da infância e alterações no tamanho do hipocampo e da amígdala, estruturas cerebrais relacionadas à memória de curto e longo prazo e ao comportamento emocional, respectivamente. Isso mostra que existe, realmente, uma ligação entre as experiências afetivas que a criança vive na infância e a forma como seu cérebro se desenvolve. Os pesquisadores estudaram, por meio de técnicas de neuroimagem que permitem visualizar o cérebro sem procedimentos invasivos, as características cerebrais tanto de crianças em idade pré-escolar deprimidas quanto de crianças emocionalmente saudáveis. E concluíram que o cuidado materno recebido na primeira fase da infância teria, sim, ligação com o tamanho do hipocampo, o que levaria, inclusive, a diferentes padrões de respostas ao estresse. Crianças emocionalmente saudáveis apresentaram hipocampos maiores, quando comparados às crianças deprimidas, e isso pôde ser relacionado ao grau de cuidado materno recebido quando eram menores. Embora quase a totalidade dos cuidadores do estudo tenham sido mães, os autores acreditam que isso possa ser extrapolado para qualquer cuidador que seja o principal responsável pelos cuidados afetivos com a criança (mãe, pai, avós ou outros)."

Teria uma lista de argumentos mostrando as vantagens de criar o seu filho com amor e sem violência. Mas aprendi que muitas vezes de nada adianta vir o próprio Cristo na Terra para nos falar do amor, se não estivermos dispostos a ouvir, como bem cantou Roberto Carlos: Todos estão surdos.


É preciso que a farpa da dúvida nasça no nosso coração para então irmos atrás, desafiarmos nossas ignorâncias, nossos preconceitos, assumirmos o erro das nossas escolhas e possamos então mudar nosso rumo.
Que tanto eu quanto você que me lê possamos apreender isso, sem nunca deixar escapar o amor, a paciência e a compaixão.
 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

vocabulário do Dudu

Com 1 ano e três meses o Dudu teve um salto de crescimento notável! Já tenta repetir várias coisas que dizemos e na maioria das vezes sai algo bem engraçado.
Mantendo então o objetivo do blog, vou confiscar algumas coisas antes que elas escapem.

1) minia ( minha): frutos secos em geral, anexa, damasco, mas principalmente uva passa! O menino é viciadão! E pede com mais ênfase quando esta chateado com alguma coisa.
2) cucu, ião, vião: avião. Começou com o cucu toda vez que ouvia o barulho de um avião passando, e nós sempre dizíamos avião, e de uns dias pra cá ele começou com o "vião".
3) pum: sim, ele avisa quando solta pum hahahahah.
4) zizi/sisi: xixi, mas só quando alguém diz, aí ele repete. Ou quando vê a mamã indo no banheiro.
5) coco: mesma história do xixi, só diz depois de ouvir. E às vezes diz cocó.
6) pão: acho que foi uma das primeiras coisas que disse, o piá é apaixonado por pão!
7) mamão: também diz certinho, e quando vê a fruta em outro lugar a reconhece e diz um sonoro Mamão!
8) uva: adora! E as vezes diz repetidamente até ganhar uma uvinha!
9) mamãe: só disse essa palavra a pouco tempo. Antes só sabia dizer papai.
10) papai: acho que fala papai desde os 10 meses!
11) vovó, vovô, com variações de bobó e bobô.
12) peão: essa ainda carece de mais estudos pois diz ela quando quer alguma coisa ( normalmente alguma coisa doce) mas já disse em outras situações também.
13) Cuca: tia Tuca :-)
14) cai: ele chega na beirada da cama e diz "caiii"
15) cuco: suco, principalmente de laranja. Quando pego o espremedor ele já começa a dizer.
16) papá: comidaaaa.  Às vezes diz com uma empolgação que dá gosto!
17) au au: cachorro
18) não, acompanhado com o movimento da cabeça.
19) mamá: mamar no peito. Quando diz isso de madrugada chega a ser bonitinho pois é tão claro, límpido, sonoro, para que não haja dúvida da sua vontade!
20) pitááá: pizzaaaa!! repete quando ouve a gente dizer, e às vezes do nada, tipo pra falar só :P
21) papão: desconfiamos que seja uma mistura de papai com pão.
22) puia: disse uma vez insistentemente enquanto o Júnior tentava ensinar ele dizer manga. Papai: manga. Dudu: puia. E assim foi a tarde, mas depois não repetiu.
23) cóco: papai ensinou ele a pedir colo, então ele chega perto da gente e diz cócooo.
24) pixta: uma vez o Júnior estava assistindo um video do Sena e diz: Nossa, que pista fantástica! E o Dudu repete: pixxxtaaa.
25) chá: depois de ouvir dizermos chá no café da manhã, começou a repetir e pedir também.
26) mão: O Júnior ensinou ele a esquentar a mãozinha na caneca de chá, então ele chega no colo dele de manhã e diz: mão! Que é para aquecer a mão na caneca. E faz uma caretinha tão fofa!!!!
27) pinha: um dia peguei uma pinha para ele no parque e dei para ele por a mão. Mas ele não gosta de jeito nenhum porque espeta. Então quando vamos pra sacada (que é onde a pinha está) ele olha e diz pinhaa, mas não quer pegar.
28) papo: ele ganhou uma pantufa de sapo do padrinho, que adora! Então quando vamos colocar a pantufa do sapo, ele repete o "papo".
29) athru: abre. Ele pega o que quer abrir e começa a disparar o "athru" até que finalmente alguém abra pra ele. Pode repetir quantas vezes forem necessárias.
30) cantoria: pois é, ele tem uma certa inclinação musical. Adora resmungar na sua língua, uma figura!

Acho que era isso! Confiscado :-)




quinta-feira, 25 de julho de 2013

a minha escolha de mãe

Em 1º de janeiro de 2013 eu tomei uma decisão que já queria ter tomado a um certo tempo. Não foi planejada, não foi resolução de ano novo. Foi pura e simplesmente por força das circunstâncias. Triste que tenha sido preciso chegar a isso para eu criar coragem e decidir.

Vamos lá entender o processo:
Quando  o Dudu fez 4 meses eu voltei a trabalhar (sim, estudante de doutorado, ou seja, cientista, também é profissão, embora não completamente reconhecida). Já tinha combinado com a minha mãe e ela ficaria com ele até os 6 meses, quando então ele iria pra creche. Pois é, creche. Eu me arrepiava toda com essa palavra muito antes de engravidar. Mas como decidimos que a gravidez viria durante o doutorado, era a única alternativa dentro das condições que tínhamos.
Eu continuei com a amamentação exclusiva até ele iniciar na creche. Tirava leite e deixava congelado para minha mãe dar para ele nos horários que eu não estava (pela manhã e um pedaço da tarde, já que eu conseguia almoçar em casa e ainda tinha direito a um horário de trabalho reduzido por conta da amamentação).
Então, logo depois de minha mãe ter ido embora, na primeira semana de creche o Dudu já ficou doente. Infecção de garganta (que posteriormente desconfiei ser um diagnóstico errado, mais para frente explico melhor). Sete dias de antibiótico (ATB)+ anti-inflamatório. Já fiquei encanada, puxa vida, uma criança de 6 meses precisa realmente tomar ATB? Não pela necessidade em si, mas pelos motivos que levaram a necessidade. Mas pronto, depois do estresse da primeira doença dele, vieram as vacinas dos 6 meses.
Eu expliquei para a enfermeira que ele havia acabado de terminar o ATB, e perguntei se não era melhor esperar um pouco até ele se recuperar, mas ela disse que não, e eu mais uma vez, confiei no sistema. Três dias depois, febre. Hospital e diagnóstico de uma traqueíte infecciosa. Viral, não precisa tomar ATB. Questiono se isso poderia ter sido a primeira doença e uma médica acredita na minha hipótese, ou seja, é provável que ele não precisaria ter tomado ATB da primeira vez. Questiono se as vacinas podem ter afetado sua imunidade pois ele poderia não estar completamente recuperado quando as tomou. Ela desconversa...
Mais alguns dias passaram, a febre cessou e Dudu volta para a creche. Por uns 15 dias tudo corre tranquilamente, pelo menos no quesito saúde, porque meu coração ficava muito apertado de ter que deixar ele lá e perder preciosos momentos ao seu lado, acompanhando sua introdução a novos alimentos, suas caretinhas, e suas descobertas.
Então um dia ele acorda umas 6 vezes a noite, aos berros, e só sussegava se estava no peito. Dormia um pouco e logo acordava aos berros de novo. E veio a febre por quase dois dias e ligamos para o Saúde24.

Parênteses:
O Saúde24 é um serviço que tem em Portugal em que você liga para um número gratuitamente (808242424) e é atendido por enfermeiros que seguem uma espécie de protocolo, com perguntas pré-determinadas e no final te encaminham para onde for mais conveniente dependendo da gravidade do caso. Se necessário ir até um serviço de emergência, eles avisam a instituição e ao chegar você tem prioridade no atendimento. Eu utilizei muito o Saúde24 e sinto falta dele aqui no Brasil. Me poupou várias saídas desnecessárias.

Me dirigi então ao serviço de emergências do hospital e depois de exames de urina, sangue e uma aspiração no ouvido descobriram que ele tinha uma otite. Resultado da secreção acumulada na traqueíte, pois nenhum médico nos informou que teríamos que aspirar o nariz dele e não deixar acumular secreção. Obrigada médicos, mais uma vez!
A partir daí foi uma cascata de doenças. Outra otite, outra virose, e em 1º de janeiro, após mais de 6 dias de febre, uma médica de verdade descobriu uma pneumonia que já tinha tomado mais da metade do pulmão esquerdo dele.

Soco no estômago, bofetada na cara...

Em dois meses de creche a contabilidade foi essa: ida a 4 pediatras e 1 homeopata, Três tomas de antibiótico (sem contar a da pneumonia),  e devo ter ido às urgências do hospital umas 10 vezes.
Cada vez que eu ia, a explicação dos médicos para as doenças era semelhante: na creche é assim mesmo. Pelo menos não falavam que era até adquirir imunidade, como dizem a maioria das pessoas, já que não é enfiando uma criança num "infectário/infantário" que ela vai "adquirir imunidade". É através de alimentação saudável, do engatinhar no chão, do brincar na terra, do comer com a mão, etc. A criança desenvolve seu organismo (e consequentemente a imunidade) com o passar dos dias, assim como desenvolve a fala, a coordenação motora, etc. Eu pelo menos não vi até agora nenhum artigo científico recomendando deixar as crianças na creche como forma de estimular sua imunidade. Tenho visto é o contrário: "Criação moderna" prejudica desenvolvimento do cérebro das crianças.

Cada vez que eu ia com o Dudu para o hospital, enquanto esperava, com ele no colo, queimando de febre, ou chorando de dor, eu sempre pensava: vale a pena mesmo eu trabalhar para isso? O que estou ganhando? Quanto vale meu trabalho? O que é mais importante? E a resposta para essa última pergunta era sempre a mesma: o meu filho.

Assim, quando o Júnior veio me falar o resultado do raio-X, eu, que até agora tinha sido forte e tentado encarar as coisas como "faz parte", mudei de rumo e pedi para o Júnior se poderíamos não deixar mais ele na creche.
Não tem coisa no mundo que faça valer a pena ver um filho doente por conta de uma situação que você própria está causando e tem a possibilidade de fazer diferente, pois sei que para muitas mães, essa é a única solução e não tem escapatória.

Então eu conversei com minha orientadora, expliquei a situação e ela foi muito compreensiva e entendeu o meu lado. Trabalhei até o final de janeiro, o Dudu ficou em casa por uns dias com uma babá e o resto eu ficava com ele e trabalhava nos intervalos de sono e noite adentro num artigo para publicação.

Meu coração de mãe se aliviou e cada dia que passa me fortaleço nessa escolha. Mesmo que na época muita gente não concordava com a minha decisão. Mais uma vez, eu escolhi nadar contra a correnteza.
Não só pelas doenças, mas por saber que esse é o melhor para ele em todos os sentidos!
Porque na minha cabeça, não entra a coisa da sociedade de que mulher independente é aquela que deixa o filho na creche e vai trabalhar. Para mim, mulher realmente independente é aquela que pode fazer escolhas, não importa quais sejam, pois não temos o direito de julgar ninguém.
Na minha busca infinita por conhecimento, acabei me deparando com dois textos que me identifiquei muito, e acho que estou me tornando uma feminista. Uma das frases que mais gostei foi essa:
"Não me conformo com uma sociedade que aplaude quando você abdica da sua vida para entregar aquele projeto e ser promovida e torce o nariz quando você abdica de certos privilégios para criar o ser humano que colocou no mundo. "
Desse blog aqui.

E desse blog, fui remetida a este outro, que me identifiquei ainda mais:
"Até que chegaram os filhos e eu tive um novo mundo revelado para mim. E entendi que para muitas pessoas o sucesso é um conceito multifatorial, mesmo quando aplicado dentro do universo "carreira". E que no meu caso, para o tipo de ingredientes que compõe a complexa receita de pão cascudo que eu sou, sucesso jamais estaria em usar meu tempo longe da minha família para gerar dinheiro ou satisfação pessoal."
"Meu jeito de lidar com maternidade e "profissão" (já tendo desistido de achar que existe o príncipe encantado das carreiras esperando por mim) foi promover desconstruções das coisas que eu tinha como certas e resgatar possibilidades perdidas."
E assim, percebi que também não irei encontrar o "príncipe encantado das carreiras",  porque meu coração pertence a outra coisa. Coisa essa que tem muito de conhecido, mas que ainda tem muito por conhecer!

É isso que eu venho tentando segurar ultimamente. O assumir que eu não sou carreirista, meu sonho não é nadar em dinheiro. Minha contribuição para o mundo será na criação do meu filho, será no dia a dia, ao ensiná-lo o pouco que sei sobre o amor, sobre Deus, sobre ser bom e justo. Sobre valorizar suas conquistas e aprender a lidar com as perdas. Sobre ser cidadão e respeitar o próximo. Sobre fazer o bem, sem olhar a quem, sobre respeitar os animais, se alimentar de forma saudável, pois o corpo é a morada do espírito, e os dois precisam ser cuidados. Sobre desenvolver sua autonomia e contribuir positivamente para a sociedade que ele está inserido. Sobre lutar por seus direitos e suas crenças (no que ele quiser acreditar), sem deixar que outros tentem enfraquecer seu coração e seus ideais. Porque eu acho que é disso que o mundo precisa. E não de mais um ser humano que aprendeu logo cedo o que é separação, o que é se sentir abandonado, o que é ser privado de contato, carinho e amor materno.
Porque para mim, não tem dinheiro no mundo que me faria trocar essa oportunidade, de poder criar meu filho de acordo com o que acredito e também aprender com ele.

Por favor, não sejam radicais ao me interpretarem. Não quero entrar na discussão da criação e do dinheiro agora, só acho que seja preciso que cada um descubra o que é mais importante para si e estabeleça suas prioridades.

É claro que não vou fazer isso para sempre. Quer dizer, um filho é para sempre, mas conforme eles crescem e já tem mais autonomia, nossa presença não será sempre requerida. E aí sim, eu me permitirei dedicar mais tempo ao trabalho, seja ele qual for (boleira, doula, artesã, empresária, professora, cientista, ou o que eu me permitir ser).

Não poderia deixar de mencionar que essa minha escolha só foi possível graças ao apoio do meu querido esposo, o Júnior, que mesmo sem concordar com a minha decisão, me permitiu vivenciá-la. Meu agradecimento eterno! <3

Essa foi a minha escolha de mãe, e esse é o meu chefinho por enquanto :)

O engraçado de tudo foi a sincronicidade. Pois alguns meses depois de desistir do doutorado, apareceu uma proposta de trabalho para o Júnior aqui no Brasil. Viva!


terça-feira, 9 de julho de 2013

o meu relato de parto

O Dudu já tem 1 ano e 2 meses. E só agora me deu vontade de escrever um relato de parto "público", digamos assim.
Já escrevi outras 2 descrições sobre a minha experiência. Uma para a Enfermeira Ofélia Lopes. Ela estava de plantão no dia 30 de abril de 2012 e nos acompanhou no parto. Como eu tinha um plano de parto, ela perguntou se eu e meu esposo poderiamos ajudá-la em sua pesquisa sobre a experiência de termos um plano de parto. Concordamos de imediato e escrevemos algo em torno de 6 páginas para ela, respondendo algumas perguntas que eram o foco de sua pesquisa. Para mim foi muito mais que isso. Foi meu primeiro desabafo.
Depois, perto do aniversário de 1 ano do Dudu eu escrevi o meu "feedback dos serviços prestados" ao hospital Garcia de Orta, em Almada, Portugal, que foi onde meu filho nasceu. Esse, mais que um desabafo, foi uma crítica ácida e amarga ao sistema e à maneira que fui tratada. Não tive dó, contei o que aconteceu, citei nomes, fui irônica, questionei, abri as portas da revolta. E nem assim é possível dimensionar o tamanho da ferida. Não sei se vão ler o que escrevi, pois de novo, lá se foram 6 ou 7 páginas. Mas eu precisava fazer isso, precisava mostrar para eles e para o "sistema" onde estavam os erros e os acertos. É meu dever como cidadã!
Agora, depois de ter algumas coisas mais claras e tranquilas em meu coração. Depois de perder as contas de quantos relatos de parto já li. Depois de perceber que é importante contarmos nossas experiências pois outros podem precisar da nossa informação. Resolvi tornar público a minha experiência de parto.

Inconscientemente, ou nem tanto, meu maior sonho era engravidar e ter filhos. Uma das provas disso é que no meu relatório final de estágio na faculdade, meu primeiro agradecimento foi:
"A Deus, pelo pôr do sol, sorrisos de bebê, pelas folhas dançando com o vento, pelo céu estrelado que me mostravam que eu não estava sozinha em mais essa jornada."
Em 2011, eu e meu esposo conversamos e resolvemos que estava na hora. Em agosto descobri que estava grávida, apenas 1 mês e meio depois de começarmos a tentar. Maravilha!
Nós morávamos em Portugal e eu não conhecia nenhum obstetra de confiança por lá, meus pais estavam no Brasil e eu me sentia bastante insegura com as informações sobre gravidez e parto, ou melhor, pela falta delas. Por isso, depois de convencer meu esposo, decidimos encontrar uma doula para nos acompanhar nesta etapa. Graças a minha colega de trabalho que havia me emprestado o livro do Dr. Ricardo Jones que já comentei aqui, conheci a Associação Doulas de Portugal. Lá tem uma lista de doulas, e com base nas descrições, contato por e-mail, selecionamos algumas para conhecermos pessoalmente e depois finalmente escolhemos a nossa doula, a Ana Raposeira. O processo de escolha levou em conta a empatia que sentíamos, pois consideramos que esse seria o aspecto mais importante para nós naquele momento.
Com a Ana, tivemos mais informações a respeito da situação do evento parto em Portugal e as perspectivas não eram das melhores. Movimento de hospitais e médicos no sentido de humanização - praticamente zero!
A opção que me deixava mais segura, era a do parto domiciliar. Não queria interferências tecnológicas desnecessárias (depois de muito ler sobre medicina baseada em evidências) e para mim essa seria a melhor opção para receber o meu filho, como já falei um pouco aqui.
Mas meu esposo não concordava, e por eu ter um problema na tireóide (tireoidite auto-imune, que não é nada de grave) juntando ao fato de não haver em Portugal obstetras que acompanhem parto domiciliar, minha doula depois de conversar com o Dr. Ricardo Jones, também não recomendou um parto domiciliar. Eu cedi, e começei a me informar sobre maternidades e suas opções.
Eu era acompanhada no Hospital Garcia de Orta, pois era o mais próximo de onde morávamos. E apesar de ter lido alguns relatos de parto neste hospital muito tristes, li outros muito bonitos, e minha cunhada disse que havia sido super bem tratada durante o parto. E havia um inclusive, que dizia ter sido permitido a presença da doula e do esposo. Resolvi então visitar o bloco de partos. Falei por e-mail com a Enf. Chefe Rosalia Marques e agendei a visita.
A enfermeira me recebeu super bem, me mostrou as instalações, respondeu todas as minhas dúvidas e deu seu parecer sobre o meu plano de parto. As restrições seriam quanto a monitorização fetal contínua (o tal CTG) que seria impossível de evitar, mas que havia um "CTG sem fio", que permitiria minha movimentação, e a presença de meu esposo e da doula ao mesmo tempo, apesar de ter afirmado que poderia haver alguma flexibilidade dependendo do movimento do bloco de partos.
A Maternidade Alfredo da Costa era muito bem recomendada para quem buscava partos um pouco mais "humanizados". Mas eu li alguns relatos de pessoas que passaram por lá e me pareceu muito mais marketing do que realidade. Outro porém era a distância de casa e o fato do meu processo estar todo já no Garcia de Orta. Decidi ficar pela margem sul mesmo.
O detalhe foi que eu não entrei em trabalho de parto no tempo normal.
Fiz de tudo, auto indução nos pontos de acupuntura, caminhava quase 1 h todos os dias, na praia inclusive, fiz coisas gostosas, descansei, namorei, fiz faxina, rezei...

Antes de ir para o hospital.
Com 41 semanas + 4 dias fui internada para uma indução. Um dos meus medos tornava-se realidade, mas tentei me manter positiva, sempre rezando muito para que desse tudo certo. Tive que dormir no hospital por causa do "protocolo", passar uma noite péssima devido a conversa e alto e bom tom da enferemeira com um médico sobre bolos e o Benfica, e ser "acordada" as 6 da manhã para o banho e meia hora de CTG.
No dia 30 de abril (41s+5), as 9 da manhã, fizeram o toque (1-2cm de dilatação) e a seguir a indução com aplicação de gel de prostaglandina. Duas horas deitada, mais algum tempo de caminhada e quando o almoço e meu esposo chegaram eu já tinha contrações! Meu filho estava chegando :)
Almocei e vomitei tudo em seguida. Quando tenho dores muito fortes eu vomito mesmo... Meu esposo esteve sempre ao meu lado, me apoiando e segurando a minha mão. Mas o horário de visita já tinha acabado e ele teria que sair, pois eu ainda não estava no bloco de partos e só poderia descer quando estivesse em trabalho de parto ativo, ou seja 4 cm de dilatação.
Eu continuei a caminhada pelo corredor, triste por não ter meu marido por perto, e quando a contração vinha eu me posicionava como me dava vontade e expirava um aaahhhhh, sempre mentalizando meu corpo se abrindo para receber o meu filho. A enferemeira por duas vezes me perguntou se eu iria querer a epidural e eu sempre disse que não (caramba, isso já estava no plano de parto, por que me perguntavam??).
Fui tomar uma ducha quente quando então uma colega do quarto veio me avisar que meu marido estava lá do lado de fora a minha espera e que minha doula já estava chegando.
Depois da ducha tive que ficar mais meia hora deitada para o "CTG de rotina" e isso sim foi horrível. Ficar deitada era muito ruim. Outro toque e a enfermeira assustada por eu ter contrações muito fortes e estar vomitando, resolveu me colocar o soro para hidratar. Pronto, já não podia caminhar tão livremente... Mas logo depois já me mandaram para o bloco de partos, devia ser umas 4 ou 5 da tarde. Tive que ir na maca, deitada, mesmo depois de ter perguntado e insistido que eu poderia ir andando ou no máximo de cadeira de rodas. Estranharam, como se fosse algo no mínimo absurdo, e disseram que não, que teria que ser na maca. E lá fui eu para o bloco de partos achando que estaria melhor por lá. Doce engano.
Lá chegando já me olharam torto por eu ter um plano de parto (no departamento da indução também, a enfermeira chefe até veio conversar sobre meu plano de parto).
E já começaram as intervenções: me amarraram no CTG. " E o CTG sem fio?" "Não precisa menina, esse aqui tb dá pra você andar olha..."  E eu dei 3 passos...
Água quente? Só dentro de uma luva de procedimento. Alimento? Tentei chá, mas como vomitava tudo, desisti. Só chupei umas balinhas que a Ana me trouxe para ter energia. Banho? Não. Esposo e doula juntos? Nem pensar. Trocar o esposo pela doula e vice versa? Não, só se for para ir comer e olha lá, onde já se viu, vai atrapalhar as outras parturientes! Enquanto isso o papo rolava solto, em alta voz, atrás da cortina que separava o quarto do resto do bloco de partos.
O quarto que eu estava era lilás, uma das minhas cores prediletas. E tinha um aparelho de som que uma das enfermeiras colocou música para mim... gostosinho. Tinha uma bola de parto e um adesivo de flor na parede.

Mas eis então que uma nuvem cinza se aproximou e trouxe o médico ao meu quarto!
Uma das coisas que a Enf. Chefe havia me dito era que os médicos eram chamados somente em último caso. Eu mal havia chegado, por que então um médico resolve aparecer?
Ele não se apresentou, mas ouvi que seu nome era Luiz Canelas. Logo já quis fazer um toque e começou com a insistência da epidural. E com isso vi uma platéia, literalmente, na porta do quarto, observando minha negativa da analgesia.

Eu vocalizava durante as contrações. Um aaahhh durante a expiração. Me ajudava muito!
Mas meu marido observou que isso começou a incomodar a equipe. E logo o médico veio novamente dizendo que precisava estourar a bolsa, pois "o CTG não está tranquilizador". Eu estava com 5-6 cm de dilatação disse que não queria e então me questionaram: "Mas vai nascer com a bolsa?" Como se isso fosse alguma coisa ruim... Nisso meu marido saiu e a Ana entrou. Falei para ela o que estava acontecendo e ela foi me fazendo massagem na lombar que me ajudou muito!
O médico entrou novamente, dessa vez com uma residente, dizendo que teria que estourar a bolsa, pois podia ter mecônio no líquido aminiótico e me olhou dizendo: "Você sabe o que é mecônio?"
Não respondi, não valia a pena...
Então quem fez o toque foi a residente. E durante uma contração ela manteve os dedos dentro de mim e a bolsa rompeu. Um líquido claro como água escorreu... e o médico virou as costas sem dizer nada.
Detalhes: O CTG sempre parecia "não tranquilizador" pois em vários momentos quando eu me mexia, pegava a minha pulsação, e não do Dudu. As enfermeiras percebiam isso e ajustavam o CTG ou pediam para eu deitar e ficar quieta um pouco para estabilizar o CTG. Mas o médico, que só olha para a tela, via a bomba relógio e começava a intervir desnecessáriamente. Já é comprovado cientificamente que o CTG em vez de trazer segurança, só aumenta a taxa de intervenções e consequentemente de cesarianas.
Cada vez que o médico entrava era um estardalhaço! Acendia as luzes, falava alto, fazia perguntas enquanto eu estava no meio da contração (e não conseguia responder). Total indelicadeza e falta de bom senso.

Com a bolsa rompida as contrações se tornaram mais intensas e as massagens e o toque da Ana foram muito reconfortantes. Mas eu sentia falta do meu marido comigo. Nisso a Enf. Ofélia chegou. Se apresentou falando baixinho, e foi uma verdadeira profissional do parto. Não interviu, conversou comigo sobre a posição para o expulsivo, e disse que se precisasse de alguma coisa poderiamos contar com ela.
Eu continuava vocalizando e me deixaram em paz e no escuro por um bom tempo... Que bom! Até que começei a sentir algo diferente, parecia que tinha vontade de fazer força. Foi nessa altura também que começei a sentir medo. Medo do expulsivo, medo do meu marido não estar lá comigo. Achei que não iria conseguir. Mas agachar entre as contrações me ajudava muito, e ficar na bola também, que gostoso!
Como eu estava com receio de começar o expulsivo e não ter meu esposo comigo, a Ana saiu e ele entrou.

Um tempo depois o médico apareceu e disse que teria que fazer outro toque. As enfermeiras ainda contestaram sua conduta, pois eu estava indo bem e já sentia uma certa vontade de fazer força. Então, num acesso de megalomania o médico diz: "Quem diz se está na hora de fazer força ou não sou eu".

Pausa: me explica, que tipo de estudo um médico desse tem? Desculpem a ironia, mas não me entra na cabeça que um profissional que deveria cuidar da saúde, tenha uma conduta dessa. Eu acho que sei alguns dos poréns do sistema médico, da formação, etc. Mas mesmo assim, não justifica tanta ignorância.

Continuando, o médico insistiu para fazer o toque e me deitaram na cama. Nisso ele retorna com um médico brasileiro e mais a anestesista. Insistem para que eu tome a epidural e mande embora a dor estúpida e sem sentido, nas palavras da anestesista Patrocínio. O médico faz o toque e continuo nos 6 cm.

Pausa: foi aqui que tive a certeza de que eles haviam lido meu plano de parto e decidiram fazer tudo ao contrário. Um dos pontos era extremamente claro: "Agradeço que não me seja oferecida medicação anestésica ou analgésica, a não ser que eu peça explicitamente". Por que então a anestesista fala daquela maneira?

Enfim, com a entrada espalhafatosa do médico e sua trupe, luzes acesas, barulho, eu me desconcentrei e já não conseguia mais relaxar entre as contrações. Ele fez o toque, 6-7 cm. Então, em tom ameaçador ele diz: "seu bebê ainda está alto, se ele não baixar vamos ter que fazer uma cesárea, por isso é melhor você tomar a epidural agora para ver se ele se encaixa". 

E essa é a hora que na perspectiva de um mal maior, cedemos a um "mal menor". Aceitei a epidural. Mas meu esposo teve que sair do quarto. A Enf. Ofélia esteve ao meu lado me auxiliando. No meio de luzes e contrações, estresse e medo, pois eu tinha mais medo da epidural do que do parto, me trazem um papel para eu autorizar a intervenção. No papel estava escrito os efeitos colaterais e possíveis problemas da anestesia. Que bela hora para se assinar uma autorização!
Enquanto a anestesista me preparava, dizendo que eu teria que me manter imóvel, eu me contorcia durante a contração. Então quando ela coloca a agulha na minha coluna, sinto uma espécie de choque percorrendo todo meu lado direito e me mexo. A médica grita dizendo "não, não se mexa". Eu já nem me preocupo em responder. E até hoje, dependendo da posição que me encontro, eu ainda sinto esse mesmo choque. 

Depois meu esposo retorna e a "paz" reina no bloco de partos. Menos no meu coração... Eu ainda sentia as contrações, mas percebi que elas diminuiram muito na frequencia. Continuava sem poder me movimentar e agora nem em pé podia mais ficar. Em duas horas, que foi o prazo que o médico deu para meu filho descer, devo ter tido no máximo 10 contrações... e antes elas estavam praticamente grudadas uma na outra.
Meu esposo sempre ao meu lado, me apoiando, rezando comigo, segurando a minha mão, me passando tranquilidade. Como era importante ter ele ali comigo. 

Passada as duas horas, novo toque, e ao invés de 6 para 7 cm, eu estava com 6 cm.
COMO ASSIM???  Meu esposo questiona o médico, ele ignora a pergunta e diz que por não ter evoluído na dilatação, pelo meu filho ainda estar alto, pelo CTG não estar tranquilizador, e por eu ser estreitinha de ancas, e por estar muito tempo em trabalho de parto (eu não tinha nem 15 horas), ele estava me encaminhando para a cesárea. Detalhe que eram quase 2 da manhã... Incrível a visão de raio-X que alguns médicos tem para diagnosticar incompatibilidade feto-pélvica tão cedo... E na minha opinião, a epidural só atrapalhou pois parou meu trabalho de parto.


Conforme os dias passaram, eu fui desistindo de questionar a decisão do médico, apesar de não concordar. Meu pai disse uma coisa e penso ser verdade: a gente nunca sabe o que poderia ter acontecido se não fosse assim. É verdade, não dava para saber. Fisicamente, eu e meu filho estamos bem. Ele nasceu com um apgar 10-10 se não me engano, um pouco incompatível com CTG não tranquilizador não é?

Eu fiquei muito nervosa durante a cirurgia, pois mais uma vez meu esposo não pode estar comigo. Me senti sozinha e desamparada. Tinha medo de desmaiar, pois tenho pressão baixa, e não ver o meu filho. Mas os aparelhos acusavam uma pressão altíssima e a anestesista dizia que eu tinha que me acalmar. Veio o medo da anestesia não pegar, pois quando mexiam em mim eu ainda sentia muito bem. Mas a anestesista me mostrou pacientemente que estava tudo certo e que a anestesia havia pegado bem. Quando tiraram meu filho, não ouvi seu choro. Ele não chorou... mas quando vi seu rostinho eu entendi porque. Ele tinha uma cara de pergunta: "O que eu estou fazendo aqui? Ainda não era a hora para eu sair." E uma lágrima escorreu do meu olho ao ver os seus olhos grandes e expressivos como de seu pai... Me trouxeram ele e passaram seu pézinho no meu rosto e já o levaram.
Enquanto me suturavam, começei a sentir uma dor no ombro direito. Eu estava amarrada e aquilo estava me incomodando. E essa dor começou a se espalhar para o peito. Eu informo isso a equipe, que diz não ser nada e que está tudo bem. Injetam uma coisa no meu soro e eu pergunto o que é e para que serve. Me respondem só depois que eu insisto. A dor no ombro e no peito foi aumentando e eu novamente informo a equipe. A anestesista diz ser impossível eu sentir alguma dor pois estou anestesiada até ao peito, que era para eu me acalmar. 
Mas estava doendo, e eu tinha medo de ser alguma coisa mais grave e estarem ignorando e disse novamente da dor. A anestesista diz então: Já sei o que você precisa. E injeta um líquido direto na minha veia, e depois disso lembro de acordar toda babada e com a máscara de oxigênio no rosto. Ainda estavam trabalhando em mim. E só depois, quando li meu prontuário, que entendi o que tinha acontecido naquele momento. A anestesista Patrocínio me aplicou propofol. É minha gente, propofol... que pra quem não sabe é um anestésico injetável, o mesmo que matou o Michael Jackson, só para vocês fazerem uma associação. E por que? Eu desconfio que tenha sido para me calar a boca. Pois no meu prontuário está escrito algo assim no quesito "problemas durante o procedimento": "paciente perguntava tudo, tinha doula, não queria nada e teve tudo que tinha direito".

Suturada, sem meu filho e morrendo de frio, me levaram para a recuperação. Eu não entendi porque sentia tanto frio e perguntava. Depois me disseram que era por causa do ar condicionado da sala cirúrgica e por eu estar sem roupa. Eu tremia dos pés a cabeça e pedia pelo meu filho e meu esposo. Diziam que não era possível. Eu insistia, para cada enfermeira que passava do meu lado. Eu sabia da importância da amamentação nas primeiras horas e não queria perder mais essa... Até que finalmente a Enf. Ofélia trouxe meu esposo e meu filho. Que alívio.
Dudu tinha (tem até hoje) um cheiro tão gostoso! Nunca vou me esquecer do seu cheirinho nos primeiros dias. Ficou brincando com o seio até que do nada, pegou e começou a mamar! Eu podia amamentar meu filho, que alegria!


Nesse caso, o post é sobre algo que me foi confiscado: meu direito a um parto humanizado, o respeito às minhas escolhas e decisões. 
Mas como sempre diz meu esposo: as coisas acontecem como tem que acontecer. É verdade, e isso tudo vem me abrindo inúmeras oportunidades: não só no aspecto pessoal, mas também, acredito eu, no profissional. E assim, eu confisco o que faço depois, o que faço com a violência obstétrica que sofri, o que faço com a frustração, com a angústia, e com a cicatrização dessa ferida. 
E isso sim, ninguém pode tirar de mim, isso sim, não vai escapar.

Claro, não poderia deixar de agradecer a todos que participaram.dessa jornada, meu filho, meu esposo querido, minha família, amigos, nossa doula, profissionais e acima de tudo a Deus, pelos tesouros de minha vida. Muito obrigada de todo meu coração!