quarta-feira, 6 de maio de 2015

Onde se perdeu?

O Dudu fez 3 anos dias atrás. E misteriosamente, algumas coisas se resolvem dentro de mim neste período...
Dessa vez surgiu uma pergunta, referente a certos fatos que demorei a admitir, aceitar, compreender.
Durante boa parte da minha vida eu me senti desconectada de mim mesma. Nunca conseguia discernir muito bem o que dizia minha voz interior. Sempre haviam infinitas perguntas e pouco espaço silencioso para as respostas surgirem. Com isso minha mente se alimentava de perguntas e mais perguntas.
Mas em alguns momentos eu comecei a perceber que simplesmente sentia o que era preciso fazer e ia lá e fazia. Quando decidi não imendar um doutorado foi assim, e o mesmo quando decidi ir para Portugal fazer woofing e conhecer o Júnior. Parecia loucura, havia alguns riscos, mas incrivelmente eu não sentia medo nenhum ou dúvida alguma sobre o que deveria fazer. E tudo corria muito bem.
Exceto no aspecto profissional, mas isso é outro assunto.
Quando engravidei e minha colega de trabalho me emprestou o livro do Ric Jones - Memórias do Homem de Vidro, eu voltei a sentir uma dessas certezas. Ao terminar o livro eu tinha total e absoluta certeza no meu coração que eu queria que o Dudu nascesse em casa. Não queria ter que ir para o hospital. Eu sabia que assim as coisas não iriam correr bem. Me conhecia o suficiente para saber minhas necessidades.
Mas as pessoas ao meu redor não. Então comecei uma "batalha". Primeiro para convencer meu esposo de que eu precisava de uma doula nesse momento. Ele concordou, entrevistamos várias mulheres e encontramos a nossa. Agora eu precisava mostrar a ele porque eu queria ter nosso filho em casa. Eu virei a "maluca" do parto. Mandava-lhe vídeos, textos, conversei com um enfermeiro obstetra, assistimos documentários, inúmeros vídeos de parto. Contei-lhe do meu medo e ir para o hospital. Mas ele disse que não se sentia seguro para que nosso filho nascesse em casa. Preferia que eu fosse para o hospital.
Meu medo só aumentava, junto com a minha barriga. Me lembro de uma vez em que chorei desesperadamente ao falar com meus pais pelo skype explicando-lhes também que eu não queria ir ao hospital para ter o Dudu. Eles concordavam com o Júnior e me senti desamparada e incompreendida. Até quando comentei com a nossa doula que gostaria muito de um parto domiciliar, ao qual ela disse que havia conversado com o Ricardo Jones e que ele havia recomendado um parto hospitalar devido a um problema de tireóide que tenho. O problema em si não exclui a possibilidade de parto domiciliar, o porém seria se eu tivesse alguma complicação e a repercussão que isso poderia ter.
Não me convenceu, só serviu para me sentir ainda mais incompreendida e desamparada.
O resultado eu já contei aqui no meu relato de parto.

Por esses dias então andei pensando: onde estava a menina que ouvia seu coração e cruzava o oceano rumo ao desconhecido?
Eu não tinha confiança suficiente para sustentar minha escolha naquele momento.
Não me "empoderei", por me sentir sozinha, incompreendida, desamparada. Por eu mesma duvidar da minha capacidade de parir.
Junto a isso, eu cedi conscientemente aos desejos alheios por pensar que talvez estivesse sendo intolerante ao querer que fosse feita somente a minha vontade.
Ao tentar (forçosamente) superar esse meu medo, ao não encontrar forças para isso, eu inconscientemente me desconectei.
Me lembro de passada as 41 semanas de gestação, minha doula perguntar se eu estava com medo de alguma coisa, e eu responder que não, que estava tudo bem.
MENTIRA: eu tava morrendo de medo de ir parir no hospital. Eu não queria aquilo! Mesmo sabendo que esse meu medo era pior, pois acabaria tendo que ter o parto induzido, eu não conseguia lidar com isso. Mas eu não conseguia verbalizar isso. Todo o processo até ali já tinha me deixado tão triste, e aflita. Era o momento mais importante da minha vida. E eu não consegui sustentar a minha escolha. Me permiti ser refém dos desejos alheios.

De novo eu me pergunto: onde se perdeu a menina super confiante?

Ainda não encontrei resposta para isso, mas questionar-se é o primeiro passo. Agora é questão de tempo.
Reconhecer que essa voz se perde em alguns momentos é como um insight. Hoje aprendo diariamente como fortalecer, como reconhecer, como buscar, como encontrá-la.
Só assim será possível ser fiel a própria alma.

Confiscado.


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