quarta-feira, 30 de março de 2016

trechos de livros

Alguns livros surgiram na minha vida com propósitos muito específicos.
Seja por toda sua história, seja por trechos que me marcaram profundamente.
O post de hoje vai ser sobre esses trechos. Antes que se percam.
Porque hoje me lembrei deste trecho que vem a seguir e não sabia onde encontrá-lo.
Aqui estarão confiscados!

O mais curioso é que estes livros, nunca cheguei a ler por completo. Como se ao encontrar o tal trecho, não fizesse mais sentido ler o livro todo.
"Então, a época genial existiu ou não? É difícil de responder. Sim e não. Porque há coisas que não podem acontecer totalmente, até o fim. São grandes e magníficas demais para caber num acontecimento. Elas só tentam acontecer, elas só verificam se o solo da realidade as aguenta. E logo recuam, com medo de perder a sua integridade na deficiência da realização. E se elas enfraqueceram o seu capital, se nessas tentativas de reencarnação, perderam uma coisa ou outra, logo, invejosas, retomam a sua propriedade, retiram-na de novo, reintegram-se, e depois, na nossa biografia, aparecem aquelas manchas brancas, estigmas perfumados, aqueles rastros prateados dos pés descalços dos anjos, disseminados por passos gigantescos nos nossos dias e noites, enquanto esta plenitude da glória aumenta e completa-se incessantemente culminando sobre nós e ultrapassando triunfante, êxtase após êxtase."
Sanatório - Bruno Schulz 
Este que vem a seguir foi o mais curioso. Comprei o livro por causa desta citação, que vinha na contracapa do livro. E nunca cheguei a terminar a leitura.
"Com efeito, mesmo que a realidade não fosse inesgotável, bastaria a necessidade
que tem cada geração e mesmo cada um de nós de resolver, por si só, cada
problema, em nossa própria linguagem, para tornar o conhecimento aquilo que ele é
por natureza a tentativa, incessantemente renovada, de explicar o homem e o
mundo. Talvez seja mais exato dizer, aliás, que o importante é tornar a linguagem
comum em carne, e sangue, e ossos, para cada pessoa em particular; e esta é a
tarefa que cada pensamento particular, cada geração, cada pessoa, têm de realizar,
ao serem chamados a repensar o mundo."
Ariano Suassuna - Iniciação a estética
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 "Marco Polo imaginava responder (ou Kublai imaginava a sua resposta) que, quanto mais se perdia em bairros desconhecidos de cidades distantes, melhor compreendia as outras cidades que havia atravessado para chegar até lá, e reconstituía as etapas de suas viagens,e aprendia a conhecer o porto de onde havia zarpado, e os lugares familiares de sua juventude, e os arredores de casa, e uma pracinha de Veneza que corria quando era criança.
Neste ponto, Kublai Khan o interrompia ou imaginava interrompê-lo ou Marco Polo imaginava ser interrompido com uma pergunta como:
- Você avança com a cabeça para trás? - ou então: - O que você vê está sempre às suas costas? - ou melhor: - A sua viagem só se dá no passado?
Tudo isso para que Marco Polo pudesse explicar ou imaginar explicar ou ser imaginado explicando ou finalmente conseguir explicar a si mesmo que aquilo que ele procurava estava diante de si, e, mesmo que se tratasse do passado, era um passado que mudava à medida que ele prosseguia a sua viagem, porque o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado, não o passado recente ao qual cada dia que passa acrescenta um dia, mas um passado mais remoto. Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.
Marco entra numa cidade; vê alguém numa praça que vive uma vida ou um instante que poderiam ser seus; ele podia estar no lugar daquele homem se tivesse parado no tempo tanto tempo atrás, ou então se tanto tempo atrás numa encruzilhada tivesse tomado uma estrada em vez de outra e depois de uma longa viagem se encontrasse no lugar daquele homem e naquela praça. Agora, desse passado real ou hipotético, ele está excluído; não pode parar; deve prosseguir até uma outra cidade em que outro passado aguarda por ele, ou algo que talvez fosse um possível futuro e que agora é o presente de outra pessoa. Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos.
- Você viaja para reviver o seu passado? - era, a esta altura, a pergunta do Khan, que também podia ser formulada da seguinte maneira: - Você viaja para reencontrar o seu futuro?
E a resposta de Marco:
- Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá."
Ítalo Calvino - Cidades Invisíveis
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“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver."
Amyr Klink - Mar sem fim
Esse eu li por inteiro. Maravilhoso! _________________________________________________________________________________
“Planava sobre nós uma espécie de vento, de som inaudível que nos dizia mais ou menos isto:
há um tempo para aprender,
um tempo para ignorar e outro para saber;
um tempo para compreender e outro para lembrar”.
Augusto Roa Bastos - Contra a Vida. 
Esse também eu li por inteiro, acho. Se me não engano.

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Confiscado! Sujeito a adições.
O próximo será de textos de blogs... prevejo imensidão.



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