quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

ao longo do caminho

Agora nas mini-férias resolvi encarar e terminei de assistir a série do Netflix Narcos, sobre Pablo Escobar.
Assisti os primeiros episódios logo que foi lançado, e me causaram um transtorno mental imenso que me fizeram parar de assistir e refletir muito. Seja pela violência mostrada, que acredito não ter chegado perto do que realmente aconteceu. Seja por imaginar o sofrimento de todos, inclusive dos consumidores. Seja por me pegar torcendo para pegarem o traficante.
Não que isso não deva ser feito, por favor! Mas penso que aqui vale uma lógica mercadológica. Um produto só se sustenta se existe gente consumindo. Ou seja, se não houvesse tanta gente usando droga, não haveria tudo isso. Mas é muito mais fácil tratar o sintoma que atacar a raiz do problema. E neste caso, não tem como ser ingênua, a raiz do problema é extremamente profunda. Talvez seja essa profundeza que assuste. Então vamos pegar traficantes.
Ou você achou que se o Escobar tivesse sido capturado no seu auge o problema teria acabado?

Uma vez eu e minha irmã perguntamos ao meu pai como ele e minha mãe tinham feito para que nenhum de nós tivesse se envolvido com droga. Ele nos olhou, deu risada e falou: não sei, acho que sempre tentamos fazer com que vocês fossem felizes.
A despeito do fardo de carregar a felicidade de alguém nos ombros, não foi isso que meu pai quis dizer. Eu e minha irmã entendemos... Entendemos pois sabemos uma parte dos sacrifícios que eles fizeram para que nós estivéssemos felizes. Sem mimos, mas com oportunidade e presença, incondicional. A outra parte dos sacrifícios, só cabe no coração de cada um. Porque ser mãe e pai é também abrir mão. Com alegria e amor, mas é a escolha consciente e feliz, sem esperar nada em troca.
Claro que isso foi o que funcionou para nossa família. Não é uma regra, pois esse é mais um daqueles assuntos complexos demais para acharmos que temos a solução. Mas acho que todo mundo concorda que é muito mais difícil educar as pessoas a trocarem o seu prazer imediato (porque tem muita gente morrendo e sofrendo com isso, e não só), do que caçar traficantes. No estágio atual da nossa humanidade, e com toda minha ignorância, não vislumbro essa possibilidade. O que não significa que não devamos tentar!

Mas outra coisa que me chamou atenção foi como os personagens foram endurecendo ao longo (do caminho) dos 10 episódios. Não consigo me imaginar diferente, se estivesse no lugar deles. É coisa muito rara você conviver com "o mal" e não se deixar contaminar um pouco por ele. Viver em contato tão direto com tanta desgraça acaba te tirando um pouco do eixo, e você começa a achar normal certas coisas, e pior, começa a fazê-las também.
Óbviamente que isso não é só na ficção. E mesmo que a desgraça toda não esteja a sua volta, mas dentro de você...  Se você não criar coragem, olhar para ela e resolver fazer alguma coisa sobre isso, aos poucos ela vai te corrompendo, e de repente você é tomado por ela e tem atitudes que jamais pensou que teria.
Dependendo do seu grau de consciência, você não vai se perceber assim. A culpa vai continuar sendo dos outros, e isso vai te alimentando, e ao seu monstrinho, cada vez mais.
Por isso finalizo com Jung.


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