segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

sobre julgar

Quando as situações se repetem, é um grande sinal de que ainda não aprendemos o que era preciso.

Há pessoas que dizem que é impossível não julgar, vivendo neste mundo. Sempre discordo dos impossíveis, mas reconheço que não é uma tarefa simples. Desde os primórdios temos tentado aprender sobre isso.

"e quem estiver livre do pecado, que atire a primeira pedra"
Mas o que dentro de nós faz com que nos sintamos no direito de julgar alguém?
Ego?
Orgulho?
Falta de autoconhecimento?
Tudo isso e mais um pouco junto?

Uns anos atrás escrevi um texto, eu não me torno, eu não sou. A motivação era outra, o sentido era outro. Mas ultimamente tenho pensado bastante nas primeiras frases do texto:
Eu não me torno uma boa pessoa por conta de todos os vídeos de ações bondosas que assisto.
Eu não me torno uma pessoa caridosa por conta de todas as pessoas caridosas que admiro.
E devo acrescentar: Eu não sou uma pessoa evoluída espiritualmente por conta do caminho que escolhi e das coisas que partilho no facebook.
Ao mesmo tempo, me lembro de um texto do Gustavo Tanaka que li recentemente: O hábito de se defender o tempo todo.
No texto ele aborda sobre a necessidade de se justificar, e do porque isso não é produtivo para quem escolheu um caminho de autoconhecimento.
Aí vem a pergunta: estou me justificando com esse texto?
Não. É só a minha maneira de analisar as questões a fundo, talvez até fundo demais, e de buscar compreensão. Quando tento entender sobre o fenômeno, penso que assim apreendo a essência do problema, e não uma situação isolada apenas. Pelo menos essa é a teoria e a intenção.

Então vamos, do começo:

Significado de Julgar

v.t.d. e v.i.Decidir uma questão na qualidade de juiz ou árbitro: julgar uma ação judicial; sua profissão era julgar.v.reg.mult.Sentenciar; proferir uma sentença, condenando ou absolvendo: julgou o bandido; o juiz julgou-o culpado; o juri julgou os empresários à cadeia; não se julga sem provas.Ter uma opinião sobre; expressar um parecer, um juízo de valor acerca de: julgou o cantor; julgaram do presidente por corrupção; a vida o julgará pelos seus erros; não se pode julgar.v.t.d. e v.t.d.pred.Considerar; tomar uma decisão em relação a: julgaram que era razoável continuar; julgaram horrível o seu texto.v.t.d. e v.pron.Supor; imaginar-se numa determinada situação: julgou que lhe dariam um contrato; julga-se menos esperto do que o irmão.(Etm. do latim: judicare)
Quando julgamos, nos colocamos acima da questão. Acima do erro, acima do sujeito. Como? Porque pensamos que jamais iríamos agir daquela maneira. Porque jamais cometeríamos aquele erro. Porque jamais, em hipótese alguma, o outro poderia ter agido daquela forma (dentro do meu conceito de certo e errado).
Exemplo: aborto.
Eu já julguei pessoas que fizeram aborto. Porque eu penso que não teria coragem de abortar. E isso de certa forma, me deu o direito de achar que poderia falar alguma coisa sobre quem pensa diferente. Mas ao estudar melhor essa questão eu vi pessoas passando por situações que eu nunca havia passado. E ao me colocar no lugar delas percebi que muito provavelmente, teria tomado a mesma decisão. Não dá para imaginar o desespero se não sentimos na pele situações como  fome, maus tratos, falta de perspectiva, falta de abrigo, etc. Então, a arrogância, e o prazer (sim, isso dá prazer, olhe bem), de dizer que ao outro que ele está errado (e consequentemente eu estou certa, e aqui está o prazer) tiveram que aparecer para dizer oi e juntos decidirmos o que fazer.
Psicologicamente, existe um vício, uma necessidade. Me sentir superior, pois não reconheço meu verdadeiro valor, então tenho que julgar o outro, me colocar acima dele (afinal eu estou certa), para então ter uma ilusão de que sou importante. Outra questão é a intolerância e o poder que ela te dá, afinal, a sua opinião é a certa.

Também já li um texto que mostra muito bem que opinião não é argumento.
E uma frase que vi pelo facebook que dizia mais ou menos assim: A sua experiência pessoal não serve para discutir um problema social amplo. Como por exemplo o racismo. Eu não sou negra, nunca fui censurada pelo meu tom de pele. Eu não tenho condições de falar sobre racismo, porque nunca vivi isso na pele. Posso ter ideias sobre o racismo, mas não tenho conhecimento técnico e muito menos vivencial para falar sobre esse assunto.
E é assim com praticamente tudo na vida... Não vivemos as mesmas situações, cada um tem seu repertório emocional, suas tramas psicológicas, espirituais e do ego.

Reflexão iniciada?

Sim. Comecei a escrever este texto em meados de 2016. Hoje é 8 de janeiro de 2018. Ontem assisti um documentário/filme do Netflix sobre pessoas anoréxicas "O mínimo para viver". E fiquei impressionada com a velocidade com que julguei a personagem principal do filme. Lembrei da frase:



E podemos substituir "fala" por "julgo". E isso acaba sendo uma imensa oportunidade de aprendizado quando nos percebemos julgando ou falando de alguém. Aproveitemos, apreendamos essa oportunidade!!






Nenhum comentário: